BARRAGEM DO RIO PERICUMÃ

Risco de novos rompimentos ameaça população da baixada

Barragem do Rio Pericumã teve estrutura corroída por falta de manutenções, causando inundações na madrugada de segunda-feira; peça foi substituída, mas não garante solução do problema

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Trabalhadores da Prefeitura de Pinheiro fazem a troca de cabo rompido  em barragem
Trabalhadores da Prefeitura de Pinheiro fazem a troca de cabo rompido em barragem (Barragem Pinheiro)

PINHEIRO - Cerca de 120 famílias foram afetadas pela inundação ocorrida na última segunda-feira (11), após o rompimento de uma estrutura da Barragem do Rio Pericumã, no município de Pinheiro, região da baixada maranhense localizada a 341 km de São Luís. De acordo com informações da assessoria de comunicação da Prefeitura da cidade, a estrutura prejudicada foi substituída em caráter provisório, e o nível da água temporariamente controlado. Mas há riscos de novos rompimentos, e a cidade permanece em estado de alerta. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), responsável pela barragem, informou que uma equipe de técnicos foi enviada para o local para averiguar o problema e determinar as medidas necessárias para solucioná-lo. Hoje o Corpo de Bombeiros fará um sobrevoo na área.

O rompimento do cabo de uma das comportas da Barragem do Rio Pericumã ocorreu na madrugada de segunda-feira (11), e a água represada no local inundou, pelo menos, quatro bairros pinheirenses. Segundo a diretora-geral do Departamento de Comunicação da Prefeitura de Pinheiro, Adriele Martins, o mais atingido foi o bairro Matriz, no entanto, apenas algumas famílias que não tiveram como permanecer em suas residências optaram por abrigar-se em casas de parentes, mas a maior parte dos moradores preferiu permanecer no local, que está sendo acompanhado pela Defesa Civil.

“A Defesa Civil do estado e a municipal estão fazendo um levantamento setorial tanto das famílias atingidas quanto dos riscos de paralisação da barragem”, declarou Adriele Martins.

Ela explicou, ainda, que a inundação aconteceu de forma progressiva e pôde ser parcialmente controlada após a intervenção realizada por funcionários do Município, mas a medida não é suficiente para garantir o controle total da situação. “As águas começaram a atingir bairros na madrugada de segunda-feira e permaneceram subindo até terça-feira. A Prefeitura trocou o cabo que havia se rompido e conseguiu abrir a comporta, o que aliviou a pressão e o nível da água já começou a baixar, mas as constantes chuvas ainda são preocupantes”.

Apesar da substituição do cabo danificado, há riscos de um novo rompimento, visto que o material adequado para realizar o reparo não foi encontrado no Maranhão nem no estado do Pará, o que exigiu a utilização de um produto paliativo. “O cabo adquirido pela prefeitura tem uma expectativa de segurar esta crise, mas não é o ideal”, informou Martins, que ressaltou, também, o momento de cautela pelo qual passa a cidade. “Estamos em estado de alerta, e o prefeito não descarta a possibilidade de decretar estado de calamidade, caso venha a piorar. Estamos aguardando o parecer da Defesa Civil do estado e município”.

A obra
A Barragem do Rio Pericumã foi construída no curso médio do rio Pericumã, a 40 km da sua foz e 11 km da cidade de Pinheiro, pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), e inaugurada em 1982. Possui 275 metros de comprimento por 39 metros de largura e altura máxima das estruturas que chegam a 29,3 metros. Compreende três comportas, sendo uma eclusa e dois diques laterais, fornecendo água e pescado para os municípios de Pinheiro, Palmeirândia, Peri-Mirim e Pedro do Rosário.

Dentre os objetivos da construção estão: facilitar a navegação de pequenas embarcações; viabilizar a irrigação da agricultura familiar; possibilitar o abastecimento de pescado aos municípios limítrofes; evitar a penetração da água salgada, que avançava sobre o curso da água doce e os campos inundáveis de Pinheiro e adjacências, além de reduzir enchentes e controlar a vazão da água nos períodos chuvoso e de estiagem.

A obra, no entanto, enfrenta sérios problemas estruturais, pela falta de manutenção, apresentando corrosão da estrutura de ferro e danos nas comportas, o que, conforme esclareceu Adrieli Martins, é de responsabilidade do Dnocs, mas vem sendo realizada de forma emergencial pela Prefeitura de Pinheiro há cerca de dois anos. “Há dois anos a Prefeitura realiza essa manutenção com recursos próprios, fazendo a manutenção do gerador, dos motores, custeando mão de obra e o monitoramento da barragem, mas não dispomos de tecnologia para prevenção e correção de imprevistos como esse [rompimento do cabo]”, informou.

Para comentar o assunto, O Estado manteve contato com o Dnocs, que, por meio de nota, anunciou que uma equipe foi enviada para o município de Pinheiro para realizar a vistoria da barragem e determinar as providências necessárias para solucionar o problema. No entanto, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Pinheiro informou que até a tarde de ontem (14) não havia sido informada sobre a medida.

Repercussão na Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema)

A deputada Thaiza Hortegal (PP) levantou a questão da barragem em discurso na sessão plenária de terça-feira (12), na Alema, quando sugeriu a criação da Frente Parlamentar para fiscalização das barragens e comportas do Maranhão, e recebeu apoio de diversos parlamentares no mesmo dia. Na quarta-feira (13), o pedido foi finalizado e ontem (14) 18 assinaturas dos parlamentares presentes na sessão foram colhidas em apoio à medida.
O próximo passo será a publicação do documento e as primeiras reuniões para deliberação de algumas demandas, como oficiar entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Maranhão (Crea-MA), a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), assim como secretarias estaduais, ministérios e agências reguladoras para integrarem a frente, formando um corpo técnico, e também definir um cronograma de visitas e fiscalização das barragens, como destacou a deputada estadual Thaiza Hortegal. “A Frente Parlamentar terá um papel fundamental para cobrar mais agilidade no processo de reforma das nossas barragens de alto risco, como a de Pinheiro, há 36 anos sem reforma significativa, e também promover um trabalho preventivo nas demais barragens existentes. Precisamos saber como se encontram, quais riscos oferecem aos moradores próximos e ao nosso meio ambiente e cobrar dos órgãos competentes um tratamento mais adequado para a segurança do funcionamento dessas estruturas, porque não queremos o Maranhão em destaque nacional com tragédias por causa de negligência do poder público”, declarou.

Comprometido

Sem Carnaval
O prefeito de Pinheiro, Luciano Genésio, se reuniu na manhã de ontem (14) com o engenheiro administrativo da Defesa Civil do estado, técnicos da Defesa Civil municipal e o comandante do Corpo de Bombeiros para tratar da crise de alagamento que o município enfrenta. O laudo será encaminhado para o Governo do Estado.
De acordo com o gestor do município, a situação pode exigir o cancelamento do Carnaval da cidade, um dos maiores do interior do estado. “Estamos aguardando o laudo da Defesa Civil estadual e municipal para ter um direcionamento melhor para tomada de decisões. A princípio, estamos fazendo o que está ao nosso alcance e temos expectativa de abrir uma segunda comporta nos próximos dias. Inicialmente, nossa programação de Carnaval está mantida, mas em último caso não hesitaremos em dar prioridade às famílias que estão sofrendo com as inundações”, disse Luciano Genésio.

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