Artigo

Tempos de sofrência

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

No derradeiro dia do ano ocupei o nobre espaço deste jornal com uma crônica que começava, “Ufa, acabou, mais um ano acabou, um ano difícil”, que chamei de ano da insensatez. Como não poderia deixar de ser, me despedi de 2018 desejando saúde, fé e paz a todos.

Mal viramos a folhinha, e a continuar assim, logo, logo, teremos saudades de 2018. Ainda estamos no segundo mês de 2019 e só temos tido desastres, tragédias, sinistros, parece que tudo está se desmanchando ao nosso redor, seja pela água, fogo, terra e ar, neste Brasil caótico.

O presidente do Brasil, por causa de uma facada ainda na campanha eleitoral, foi operado em estado grave, e colocado uma bolsa de colostomia. Como presidente eleito, tomou posse no primeiro dia do ano, viajou a Davos, na Suíça, para compromissos internacionais, retorna e se depara com o caos do rompimento de Brumadinho, em Minas Gerais, visita a região, horas antes de se hospitalizar para a cirurgia de retirada da bolsa; e o que era para durar três dias, durou 17 dias, deixou o hospital nesta quinta-feira. Notícias e boletins médicos que lembram o caso de Tancredo Neves e sua diverticulite.

Uma transnacional, que fatura bilhões de dólares, é reincidente, no espaço de três anos, de mais uma catástrofe, que choca o Brasil e o mundo com a tragédia ambiental e a quantidade de vidas perdidas, um número que ultrapassa três centenas entre mortos e desaparecidos. Quanto Vale uma vida? Quem é o culpado? Quem são os culpados.

Rio de Janeiro, as chuvas de verão que desde que o mundo é mundo derrubam encostas, descem morros, inundam, destroem e matam. Entra governo, muda governo, de todos os matizes políticos, e as desgraças continuam. Quem é o culpado? Quem são os culpados?

Logo em seguida, na madrugada, dez jovens perdem a vida, carbonizados, em um Centro de Treinamento de um dos maiores clubes brasileiros, que gastou milhões de reais para construir a nova sede no mesmo Rio de Janeiro, e por algum motivo prosaico, uma simples gambiarra elétrica acabou com o sonho dessas crianças que tinham no futebol a esperança de dias melhores para si e suas famílias. Quem é o culpado? Quem são os culpados?

No mesmo dia, em mais chacina, 11 pessoas foram executadas no centro do Rio, elevando assim o número de mortos da guerra civil que vive a Cidade Maravilhosa.

E, sem falar em nossa tragédia cotidiana, que são os políticos, nossos legítimos representantes, que deveriam dar bons exemplos, e só nos envergonham, pois se acham acima da lei e tudo podem. Na votação para a presidência do Senado Federal, uma senadora surrupiou a pasta do candidato que viria a ganhar a eleição. Na contagem dos votos apareceram 82 votos, quando o número de senadores é de 81. Coisas de deliquentes.

A mais alta corte de justiça do país, é uma lástima, grande parte formada por supremos egos, que dão péssimos exemplos de comportamento e conduta.

Se os maus exemplos vêm de cima, de uma elite que se alimenta bem, tem acesso à educação, bons hospitais, o quê esperar da base da pirâmide?

Não bastasse a sequência de tragédias que matam inocentes, tivemos a inesperada e impactante notícia da morte do jornalista Ricardo Boechat, um dos melhores e mais respeitados âncoras do telejornalismo brasileiro, em uma queda de um helicóptero em São Paulo.

Boechat era um jornalista que dava voz aos brasileiros assassinados pela impunidade dos muito vivos.

Segundo Boechat, “A impunidade é a orquestra que rege e comanda as impunidades nacionais”. Na veia.

Cresci ouvindo a máxima de que Deus é brasileiro; se foi, faz tempo que deixou de ser, e estamos entregues a nossa própria sorte.

E, para completar as perdas neste começo de 2019, morreu Bibi Ferreira, aos 96 anos, a grande dama do Teatro nacional, a mais completa artista brasileira.

Se Bibi Ferreira tivesse vivido em um país de Primeiro mundo seria uma colecionadora de Oscares. Ouvir Bibi cantando Edith Piaf, Amália Rodrigues, Frank Sinatra ou Chico Buarque é magistral.

O ano está apenas começando e estamos vivendo um tempo de sofrência, de muita sofrência. Hora de orar.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo e palestrante

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