PERIGO

Sem intervenção, galeria entupida oferece riscos na área do Sacavém

Estrutura obstruída despeja água poluída que escoa por toda a via; escorregadia, a rua representa perigo principalmente a idosos e crianças; doenças como leptospirose e hepatite A podem ser contraídas por meio do contato com a sujeira

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

Uma galeria entupida por acúmulo de lixo tem gerado transtornos a moradores da travessa da rua Nova, no bairro Sacavém. Devido à obstrução, a água oriunda de caixas de esgoto das residências se acumula no local e escoa por grande parte da via, oferecendo riscos à saúde da população, que acaba mantendo contato direto com o material. De acordo com moradores, o período chuvoso tem agravado a situação e interferido, inclusive, na locomoção de pedestres. Especialistas alertam para o risco de doenças como leptospirose, hepatite A e micoses.

A água que se acumula durante as chuvas, deixa rastros escorregadios por, praticamente, toda a via, prejudicando a travessia dos moradores. Segundo eles, são comuns casos de quedas no local, afetando, principalmente, aqueles que têm a mobilidade mais frágil, como crianças e idosos, e temem que acidentes ainda mais graves ocorram, como contou a aposentada Maria de Jesus.

“No ano passado, uma senhora caiu e quebrou o braço e neste ano já caíram umas três pessoas, inclusive um rapaz deficiente, que bateu a cabeça e precisou ser levado ao hospital. Eu nunca caí, porque Deus me ajuda mesmo, mas a nossa preocupação é que alguma coisa mais séria aconteça, porque por onde a água passa deixa limo, e a passagem fica ainda mais perigosa”, contou a moradora, que reside ao lado da galeria de onde a água transborda.

Para ela, a situação é ainda mais complicada, visto que o mau cheiro que exala da água, que carrega consigo todo tipo de resíduos, acaba invadindo a residência, gerando incômodo que, consequentemente, interfere em sua qualidade de vida. “O fedor é insuportável quando chove é ainda pior, porque acumula dentro da minha casa e fica difícil até para respirar”, contou a aposentada.

Segundo os moradores da via, já foram feitos abaixo-assinados e solicitações de reuniões com gestores e representantes de órgãos responsáveis, mas não houve resultados eficientes. Buscando minimizar o problema, a população têm se reunido e realizado os serviços por conta própria, como contou o aposentado Francisco das Chagas.

“Cada um ajuda como pode, seja com dinheiro ou nos serviços. A única vez que veio alguém aqui, foi um rapaz da Caema [Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão], que tentou nos ajudar a desentupir a galeria. No mais, nós fazemos tudo. Já retiramos a tampa, fechamos o buraco, tentamos de tudo para consertar o problema, mas não tem adiantado muito, porque é necessário um serviço mais completo, que não está ao nosso alcance”, lamentou o morador.

Mas outros perigos se escondem sob a água empoçada e, muitas vezes, são ignorados pela própria população. A idosa Maria Rodrigues colocou pedras e restos de concreto para realizar a travessia que precisa fazer diariamente, mas, ainda assim, entra em contato com a água poluída. “Eu passo por aqui todos os dias e quando chego em casa escaldo os pés com água morna, passo álcool e nunca tive nada. A gente precisa. Por isso, enfrenta essas situações”, contou.

A Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) informou, em nota, que realiza diariamente, durante todo o ano, os serviços de limpeza e desobstrução dos dispositivos de drenagem como galerias, bueiros e canais, e no período chuvoso esses trabalhos são intensificados para prevenir pontos de acúmulo de água. A Semosp vai enviar uma equipe técnica ao local para verificar a situação, a fim de tomar as providências necessárias e pede, ainda, a colaboração da comunidade, para que evite o descarte irregular de lixo nas ruas.

Especialista alerta
De acordo com a clínica-geral da rede Hapvida Saúde, Graziela Medeiros, a chuva e as enchentes podem transmitir doenças como micoses, cólera, toxoplasmose, hepatite e leptospirose e, por isso, deve-se evitar entrar em contato com a água, especialmente nas áreas que sofrem com constantes alagamentos.

“A gente sabe que a população, de um modo geral, negligencia esses riscos, mas, se for muito necessário entrar em contato com esse tipo de água, o ideal é calçar botas de plástico impermeáveis, ou então cobrir mãos e pés com sacolas plásticas, uma por cima da outra e prendê-las no punho e no calcanhar com uma fita forte”, orientou a médica.

Leptospirose
Uma das doenças que mais acometem a população afetada pelas enchentes – inundações e alagamentos, inclusive – é a leptospirose, patologia causada por uma bactéria presente na urina do rato. “A transmissão se dá por meio da penetração da bactéria em pequenos orifícios da pele ou microscópios ‘machucadinhos’, pequenas feridas que podem ser portas de entrada para todo tipo de microrganismo”, explicou Graziela Medeiros.

Os principais sintomas da leptospirose são: mal-estar, dor no corpo, febre, diarreia, diminuição da urina, vômito, coloração amarelada ou alaranjada nas mucosas, dor muscular intensa e olhos amarelados na região do globo ocular. “Esses sintomas da leptospirose clássica podem surgir de 2 a 4 dias após a infecção”, revelou a especialista.

A leptospirose tem cura, desde que diagnosticada e tratada precocemente. “Se demorar a buscar ajuda, o paciente pode evoluir para um quadro de insuficiências hepática e renal, falência circulatória, com fenômenos hemorrágicos, e óbito.
Quanto mais cedo se procurar o serviço médico, melhor”, indicou a médica.

Como a transmissão da bactéria é feita pelo contato do corpo com a água contaminada pela urina do rato, o ideal é que se evite essa exposição diante da necessidade de se atravessar uma rua inundada, por exemplo.l

SAIBA MAIS

Outras doenças

Uma das doenças mais comuns e mais ignoradas pela população em geral é a micose, segundo a médica. A doença de pele é causada por fungos que proliferam em ambientes com muita umidade e pouca ou nenhuma higiene. “Ao se usar um sapato com meia durante a chuva e molhar o pé, por exemplo, é provável que, se o pé não for corretamente higienizado, o fungo se desenvolva”, afirmou. Podem aparecer manchas vermelhas na pele, coceira, além de alterações da coloração e da forma da unha, por exemplo. Outro alerta é para o surgimento de casos de hepatite, principalmente, a hepatite A, cuja transmissão se dá por meio da ingestão dá água contaminada com o vírus, além de alimentos ou fezes de pessoas contaminadas, por exemplo. “Esse tipo de hepatite é mais comum em locais com condições precárias de higiene e saneamento básico, que são condições favoráveis à disseminação do vírus em épocas de chuva”, atestou Graziela Medeiros. O ideal é procurar ajuda médica assim que surgirem os primeiros sintomas, pois a automedicação pode esconder problemas mais sérios e agravar quadros de saúde.

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