Saúde e bem-estar

Sinfonia para mudar o olhar da sociedade a respeito do autismo

Projeto foi apresentado na tarde de ontem (5), em São Luís; 40 vagas serão disponibilizadas na capital; intenção é promover espaço terapêutico e artístico para os autistas e um ambiente favorável à conscientização da comunidade

Emmanuel Menezes / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

[e-s001]Usando a música como um ponto de convergência, o projeto Uma Sinfonia Diferente, de Brasília, chega a São Luís. O lançamento foi realizado ontem, na Escola Diante do Saber, localizada no Calhau. O objetivo é promover um espaço terapêutico e artístico que apoie o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com autismo e um ambiente favorável para a conscientização da comunidade sobre suas características e potenciais.

“Esse projeto ajuda a desenvolver as habilidades sociais por meio de uma abordagem interdisciplinar, que traz a musicoterapia, terapia ocupacional e psicologia. Trabalhamos em duas fases: a primeira, com grupos de até cinco crianças, focando individualmente em cada uma, e os últimos seis meses é a preparação para o musical, que é a culminância do nosso projeto”, explica a musicoterapeuta e idealizadora do projeto, Carol Steinkopf.

Tendo como intenção contribuir para uma mudança de olhar da sociedade a respeito de pessoas com autismo, o projeto foi explicado a pais interessados em matricularem seus filhos no Sinfonia.

Poliana Gatinho, mãe do pequeno João, de 3 anos, descobriu o projeto também pela televisão. "O João fica mais calmo sempre ouvindo música. Quando descobri o projeto, percebi que ele era ideal para a nossa necessidade, visto que tudo que é sonoro chama mais a atenção do meu filho", explica. A turismóloga ressalta que a musicoterapia é um serviço caro para aqueles pais que procuram tratamento usando essa técnica. "Uma Sinfonia Diferente cobra uma mensalidade de R$ 200, muito mais acessível do que as demais que já pesquisei em nossa cidade", frisou.

Uma Sinfonia Diferente teve destaque em uma reportagem feita pelo Fantástico, da TV Globo. Foi assim que Allana Karen, proprietária da escola, descobriu e criou interesse em trazer o projeto para São Luís. “Hoje, na minha escola, tenho 25 alunos autistas. Senti uma necessidade de implantar este projeto aqui. Sabemos que São Luís não possui esse tipo de serviço e isso serve também para quebrar um enorme tabu”, diz.

A promoção da saúde, bem-estar, empoderamento e protagonismo para pessoas com autismo e suas famílias é visivel ao fim de cada ano do Sinfonia, quando as apresentações dos musicais são realizadas. “Há algumas cidades em que já implantamos o Sinfonia e estão prestes a realizar o seu segundo evento. É muito reconfortante saber que essa iniciativa deu certo e que está trazendo bens para pessoas com autismo e seus familiares”, finaliza Carol Steinkopf. O Sinfonia foi desenvolvido em Brasília e implantado em 2015; em Fortaleza; em 2016; em Timóteo (MG); em 2017 em Goiânia; e em 2018, em Porto Alegre.

Como funciona
Primeiro, realiza-se a inscrição de pessoas com autismo e a formação de pequenos grupos. A inscrição é feita pelo e-mail umasinfoniadiferente@gmail.com e depois é agendada uma entrevista de triagem, na qual a equipe terapêutica, formada por psicólogos, terapeutas ocupacionais e musicoterapeutas, para verificar as habilidades, dificuldades, comportamentos e níveis de interação e linguagem da pessoa com autismo.

Após a triagem são formados grupos de 4 a 5 pessoas de acordo com a idade, desenvolvimento social e desenvolvimento da linguagem. Os grupos não são homogêneos.

Concomitantemente, é aberta a inscrição para voluntários, que pode ser feita pelo e-mail usdvoluntários@gmail.com. É agendada uma entrevista presencial, realizada pela equipe responsável pelo voluntariado. São exigidas três horas de dedicação semanal para o desenvolvimento das atividades dentro da metodologia. As atividades que o voluntário deverá desenvolver são: acompanhar a pessoa com autismo durante a sessão de uma hora, realizar relatório semanal para acompanhamento do desenvolvimento da pessoa com autismo e leitura de textos para a supervisão. Vale ressaltar que a supervisão é realizada quinzenalmente e é o espaço onde o voluntário pode tirar suas dúvidas, questionar, sugerir e trocar experiência com os profissionais da equipe terapêutica.

[e-s001]A terceira etapa é composta pelos ensaios em pequenos grupos. Quem conduz os ensaios é o musicoterapeuta da equipe, o primeiro objetivo a ser alcançado em todos os grupos é o vínculo e depois são feitos objetivos específicos para cada grupo, de acordo com o seu perfil e necessidade e desenvolvimento. O ensaio é o momento de aprendizagem para as pessoas com autismo, os voluntários estimulam a interação social dos participantes com autismo, a linguagem e a comunicação de forma lúdica por meio das atividades musicais sistematizadas e estruturadas propostas pela equipe terapêutica. Essa atividade tem duração de seis meses.

Após isso, os alunos se preparam para a apresentação do musical. Aqui, os pequenos grupos serão fundidos em um só, para a preparação artística das habilidades que foram desenvolvidas terapeuticamente. São dois meses de ensaios gerais com todos os participantes no local onde será realizada a apresentação do musical. O teatro é adaptado de acordo com as necessidades físicas e sensoriais das pessoas com autismo. A apresentação é aberta ao público mediante compra de ingresso. O objetivo dessa etapa é promover conscientização para a plateia sobre o autismo, suas características, limitações e potenciais.

Por fim, a equipe de musicoterapeuta, terapeuta ocupacional e psicólogos, os voluntários e também familiares fazem a avaliação do processo. São abordados pontos como o desenvolvimento das pessoas com autismo e o desenvolvimento da tecnologia social que foi aplicada no período de um ano. Os pais das pessoas com autismo recebem um relatório apontando habilidades que foram desenvolvidas e habilidades que ainda precisam ser desenvolvidas. A equipe terapêutica que conduziu o processo recebe relatório e avaliação dos pais e responsáveis pelos participantes da metodologia.

SAIBA MAIS

RESULTADOS

O projeto já fez parte da vida de mais de 500 pessoas com autismo em todo o Brasil, e os resultados são bons. Com base em três edições da metodologia aplicada em Brasília, os resultados foram:
- Aumento de 67% de interações interpessoais entre as pessoas com autismo;
- Aumento de 84% de interações interpessoais entre pessoas com autismo e pessoas normativas;
- Aumento de 70% nas respostas verbais dos participantes entre 3 e 10 anos;
- Aumento de 50% da comunicação visual;
- Diminuição em 45% dos movimentos estereotipados e repetitivos nas pessoas com autismo participantes do projeto;
- Diminuição da sensibilidade auditiva e seletividade alimentar;
- Diminuição de crises comportamentais frente à frustração;
- Mais de quatro mil espectadores na apresentação final da metodologia;
- Distribuição de mais de quatro mil cartilhas de conscientização sobre o autismo;
- 430 voluntários da área da saúde, música e marketing envolvidos no processo.

Sobre o autismo
Estima-se que há mais de 2 milhões de pessoas com autismo no Brasil. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento que leva a pessoa a ter dificuldade de interação social, dificuldade na comunicação social e interesses restritos. Muitos pais de pessoas com autismo relatam a dificuldade em encontrar metodologias que incluam os seus filhos em atividades realizadas em grupo e que estimulem a linguagem, interação social e valorize os seus potenciais. Muitas famílias de pessoas com autismo deixam de realizar atividades sociais em virtude do comportamento do filho e o julgamento, por falta de conhecimento, de pessoas que frequentam o mesmo espaço social, levando a família da pessoa com autismo ao isolamento social.

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