COMPORTAMENTO

Com crise, venda informal de café vira opção de renda

Venda de café da manhã e lanches têm sido opção para desempregados e pessoas com dificuldades financeiras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Venda de lanche no comércio informal aumentou com o desemprego no Brasil
Venda de lanche no comércio informal aumentou com o desemprego no Brasil (venda informal)

SÃO LUÍS – A rotina das grandes cidades exige muito de quem tem que acordar cedo para ir ao trabalho ou cumprir demais compromissos. Em São Luís, o trânsito conturbado da manhã obriga a população a sair cada vez mais cedo de casa para evitar engarrafamentos, e o café da manhã acaba sendo consumido na rua, ponto que oferece alternativa de renda para quem está desempregado e precisa enfrentar a recessão. Nesse contexto, o número de vendedores de café e outros lanches é cada vez maior na capital. Praticamente em cada esquina, das regiões mais movimentadas, é possível verificar esses novos empreendedores, que têm contribuído para o sustento da família a partir desta iniciativa.

Para a dona Maria de Jesus Carvalho, 66, que já é aposentada, a iniciativa se deu quando ela percebeu que o salário-mínimo que recebe de benefício no fim do mês não estava suprindo a demanda dos gastos de casa, o que lhe impôs encontrar uma alternativa para que não faltasse comida na mesa da família, composta por quatro netos ainda menores. “Como eu ainda tenho meus netos para criar, contas todos os meses para pagar; comer, vestir, comprar remédios, o jeito foi arrumar um emprego, que não seria fácil com a idade que eu tenho, e foi então que decidi fazer bolo e café para vender pela manhã, que passou a ser muito procurado por conta da correria do dia a dia”.

Além da aposentada, empreender também foi a saída que a dona de casa Vilma Sampaio, 37, encontrou para ajudar o marido nas despesas mensais de casa. “Arrumar emprego, nos últimos anos, tem sido muito difícil. Depois que eu fui demitida, porque a empresa em que eu trabalhava não podia mais me pagar, eu ainda fiquei um mês em casa, parada, esperando o contato de outra empresa que estivesse precisando de gente para trabalhar, mas nunca tive nenhum retorno. Foi então que eu vi que vender café e outros lanches rápidos, seria uma boa saída para eu conseguir cumprir com as minhas responsabilidades de mãe e mulher”, contou. Antes de ser demitida, Vilma trabalhava como auxiliar de cozinha.

No fim das contas, quem se dá bem não são só os bons empreendedores, que enxergaram em si mesmos, o potencial de conseguirem dar a volta na crise econômica em que o país segue mergulhado. “Antigamente, era mais difícil sair de casa cedo, sem tomar café, comer alguma coisa, porque pouco a gente via pessoas vendendo esse tipo de refeição tão cedo, por volta de cinco horas. Entendo que é um lucro a mais, ou até mesmo principal renda de quem venda café e lanche, mas é um lucro para a gente também, que precisa cumprir horários, que enfrenta o estresse do trânsito em horários de pico e outros problemas que São Luís oferece”, destacou o enfermeiro Luzival Cunha, 26.

Assim acontece com a assessora de comunicação Ana Gabriela Moura, 21, que por precisar levantar cedo da manhã, para arrumar e deixar a sobrinha na creche, acaba ficando sem tempo para tomar café. “Eu levanto às 6h e preciso deixar minha sobrinha às 7h, então, às vezes, não consigo tomar café direito por conta do tempo, por isso acabo comprando minha refeição lá perto de onde trabalho”, ponderou. “No dia a dia, isso é algo que facilita nossa vida, vejo esses lanches como uma solução”.

‘Marketing’

Com um serviço autônomo e informal e pouco lucro para contratar um marqueteiro para atrair clientes, a estratégia usada pela maioria dos empreendedores do ramo, é o som da própria voz. É exatamente através do chamado, que a vendedora Juciléia Martins, 43, tem conseguido enfrentar a crise econômica, que se arrasta desde 2015. “O pontapé inicial que eu dei foi produzir o que eu vendo hoje, café, suco, caldo […] então, gritar chamando os clientes, é só o complemento desse trabalho que eu comecei, porque se não for gritando, fica mais difícil trazer a freguesia”, brincou.

Indagada sobre se sentir envergonhada, Martins enfatizou que, entretanto, vergonha é viver no comodismo. “Eu não poderia esperar por dias melhores sem fazer nada, sem me mexer. Quando eu comecei a vender, a vergonha passou, até porque eu não tinha do que ter vergonha, porque é um trabalho honesto como qualquer outro. Feio é ganhar a vida por meio de coisas erradas, roubando”.

Estatísticas

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa média anual de desocupação em 2018, era de 12,3%, correspondente a quase 13 milhões de pessoas desocupadas em todo o país, quase o dobro do contingente médio registrado quatro anos antes, em 2014, quando a população desempregada era o equivalente a 6,7 milhões de pessoas. Na capital, em 2017, o número de pessoas desocupadas chegou 19,8% da população, representando cerca de 108 mil pessoas. Ainda de acordo com material divulgado pelo órgão, o Nordeste é a região que segue com a taxa mais alta de desocupação. Com relação ao contingente de desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar empregos, permaneceu estável nas cinco regiões. Em geral, porém, o contingente de desalentados apresentou tendência de alta em outros nove estados, incluindo o Maranhão.

OPINIÃO

Jayron Barbosa Fonseca

Administrador

O empreendedorismo gera mais oportunidades no contexto atual. Estimula quem precisa de estímulo para continuar batalhando. Instiga o comportamento criativo da população. Incentiva para que novos negócios surjam. Melhora todos os setores da economia e melhorando a economia, ele gera benefícios sociais. Ou seja, a crise que consigo trouxe o desemprego, fez com que o empreendedorismo, por necessidade, voltasse a crescer no Maranhão, consequentemente em todo o país. Segundo dados do Sebrae, aproximadamente 11 milhões de empresas foram criadas no país por pessoas que precisavam de trabalho.

Muitos brasileiros que perderam o emprego na crise enxergaram no empreendedorismo uma saída para voltar ao mercado de trabalho. Sendo assim, ao mesmo tempo, o trabalho informal cresceu. O aumento do trabalho informal é um resultado da própria crise. Além, também, dos fatores burocráticos que limitam o crescimento das empresas formais, como a complexidade da carga tributária e a dificuldade na concessão de crédito. No geral, vale ressaltar que, mesmo sendo um negócio informal, ele é totalmente positivo no sentindo de que contribui para que quem esteja com dificuldades financeiras, consiga passar por cima.

É importante ressaltar que brasileiro nasce com essa característica e capacidade de empreender, porque o ambiente social e cultural em que se nasce mostra a realidade de muitos, em que a maioria das famílias têm que de virar de todas as formas para se manter. É inerente a nós, brasileiros, social e culturalmente, colocarmos a “mão na massa” e usar da criatividade para resolver os problemas que temos de enfrentar, e montar uma barraca de café, lanche, é o indício de que estamos caminhando para momentos melhores.

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