Ameaça

EUA deixarão de cumprir tratado que retirou mísseis da Europa

Saída definitiva de acordo assinado com Moscou na Guerra Fria será em seis meses, diz Washington; pacto levou à destruição de 2.692 projéteis

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

WASHINGTON — Os Estados Unidos confirmaram na sexta-feira ( 1º) que a partir deste sábado ( 2) amanhã deixarão de cumprir o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado com a então União Soviética em 1987. Segundo o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, Washington se retirará formalmente do acordo em seis meses se Moscou não encerrar a suposta violação do pacto de que é acusado por Washington.

A Rússia nega ter violado o acordo, enquanto os EUA dizem que reconsiderariam a suspensão caso Moscou voltasse a cumpri-lo. O tratado proíbe que os dois lados instalem mísseis terrestres de curto e médio alcance na Europa, e na época de sua assinatura pelos governos de Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev levou à eliminação dos arsenais então existentes no continente, em um total de 2.692 mísseis.

"A Rússia se recusou a dar qualquer passo para retornar ao cumprimento real e verificável [do acordo]", disse Pompeo a repórteres no Departamento de Estado. "Forneceremos à Rússia e aos outros tratados o aviso formal de que os Estados Unidos estão se retirando do tratado INF, em vigor em seis meses".

Tratado internacional

É o segundo tratado internacional de controle de armamentos do qual os EUA se retiram no governo de Donald Trump. Em maio do ano passado, os americanos saíram do acordo nuclear firmado com o Irã em 2015, pelo qual o país persa se comprometia a não desenvolver uma bomba atômica em troca do fim de sanções internacionais contra ele. Em 2002, no governo de George W. Bush, Washington deixou o Tratado de Mísseis Antibalísticos, também firmado com a antiga URSS e herdado pela Rússia.

Os Estados Unidos alegam que um novo míssil de cruzeiro russo viola o pacto. O míssil, o Novator 9M729, é conhecido como o SSC-8 pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A Rússia diz que o alcance do míssil o exclui das restrições previstas pelo tratado e acusa os Estados Unidos de inventarem um falso pretexto para sair de um acordo que querem deixar de qualquer maneira para desenvolver novos mísseis. A Rússia também rejeitou uma demanda dos EUA para destruir o novo míssil.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres na sexta-feira ( 1º) que os Estados Unidos não estavam dispostos a discutir o assunto. Trump, por sua vez, disse mais tarde que quer realizar novas conversas com o objetivo de criar um novo tratado de controle de armas.

"Eu espero que consigamos reunir todos em uma grande e linda sala e fazer um novo tratado que seria muito melhor. Certamente, eu gostaria de ver isso", disse Trump a repórteres na Casa Branca.

Poucas horas antes do anúncio de Pompeo, uma declaração da Otan dissera que a aliança "apoiaria totalmente" o aviso de retirada dos EUA. A Alemanha, no entanto, disse que o "o mundo ficará menos seguro" sem o tratado.

Alguns especialistas acreditam que o colapso do tratado INF poderia prejudicar outros acordos de controle de armas e acelerar a erosão do sistema global projetado para bloquear a disseminação de armas nucleares. Autoridades europeias estão especialmente preocupadas com essa possibilidade, temerosos de que a Europa possa voltar a ser uma arena para mísseis nucleares de médio alcance dos Estados Unidos e pela Rússia.

Negociações

Antes do anúncio de Pompeo, a chanceler alemã, Angela Merkel, enfatizou a importância de usar a janela de seis meses até a retirada formal dos EUA para manter negociações."Está claro para nós que a Rússia violou este tratado", disse ela. "O importante é manter a janela de diálogo aberta".

O senador americano Bob Menendez, democrata que integra a Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA, acusou Trump de não compreender a importância dos tratados de controle de armas nem ter uma estratégia mais ampla para controlar a disseminação de armas nucleares. "A retirada de hoje é mais um presente geoestratégico para (o presidente russo) Vladimir Putin", disse ele em um comunicado.

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