NEGLIGÊNCIA

Feto morre, e família denuncia negligência em maternidade

Bebê sofreu de síndrome de aspiração de mecônio após gestante aguardar atendimento por 15 horas; caso ocorreu na Maternidade Benedito Leite, no dia 26

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Família denuncia a Maternidade Benedito Leite por negligência
Família denuncia a Maternidade Benedito Leite por negligência (Benedito Leite)

O que deveria ser um momento feliz acabou em sofrimento para a família de Rosa Vitória da Silva e Silva, de 17 anos, que, no sábado (26), deu à luz o primeiro filho, que, se não fosse por negligência médica, conforme denúncia feita por parentes da adolescente, teria nascido vivo. Após as primeiras contrações, sentidas desde as 6h de sábado, a mãe foi levada à Maternidade Marly Sarney, na Cohab, mas, por falta de leito, precisou ser transferida para a Santa Casa de Misericórdia, no
Centro, e, posteriormente, à Maternidade Benedito Leite, também na Cohab, onde o parto foi realizado tardiamente.

Para os familiares da jovem, que estava caminhando para a 41ª semana de gestação, a demora no atendimento efetivo foi decisivo para o desfecho do caso. “Assim que ela começou a sentir as contrações, fomos para a Marly Sarney. Nos atenderam, mas não tinham leito e encaminharam ela para a Santa Casa. Chegando lá, o médico fez os procedimentos, mas disse que não ficaria com ela. Nós voltamos para a Marly Sarney na ambulância e de lá encaminharam para a Benedito Leite. Ela ficou na porta durante bastante tempo e a cirurgia só aconteceu por volta de 21h”, explicou a recepcionista Rozana Souza, tia da adolescente.

De acordo com o primo da jovem, Marcos André Souza, o médico plantonista da Maternidade Benedito Leite que a atendeu, no período da tarde, optou por aguardar a dilatação aumentar para que fosse feito o parto normal. “Quando nós chegamos, o médico que estava no plantão da tarde preferiu esperar a dilatação, que estava em quatro centímetros, aumentar. Só o médico da noite que levou a sério a condição dela e fez a cirurgia, mas já era tarde demais”, lamentou.

A causa da morte foi registrada como “síndrome de aspiração meconial”, uma dificuldade respiratória que ocorre quando o feto aspira mecônio (fezes) para os pulmões antes ou perto da ocasião do parto. Segundo os parentes de Rosa Vitória, era possível ver o material inalado pelo feto sendo expelido pela jovem durante a espera. “Estava saindo um líquido estranho, de cor verde”, contou Marcos André Souza.

Ainda de acordo com os familiares, não foram dadas mais explicações sobre o caso. “Só a assistência social tem nos dado apoio. A administração não nos passou mais nenhuma informação, não nos passa os dados do médico que atendeu a minha sobrinha à tarde, alegam que não tem esse controle. Como não? Eles têm um funcionário e não sabem nem mesmo o nome dele? É inaceitável uma situação desta”, esbravejou Rozana Souza, que destacou que a família tomará as providências cabíveis.

“Já registramos uma reclamação na ouvidoria e vamos entrar com um processo para que esse tipo de situação não volte a acontecer. É muito triste para uma mulher vir ter o seu neném e sair daqui de mãos vazias. Era o primeiro filho dela, estávamos tão felizes esperando por ele, com o enxoval em casa todo montado. Não sei como ela vai lidar com tudo isso”, lamentou a tia da jovem.

A administração da Maternidade Benedito Leite foi procurada por O Estado para tratar do assunto, mas não se manifestou. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) também foi contatada, mas até o fechamento desta edição não retornou.l

SAIBA MAIS

Mecônio
O mecônio é a matéria fecal estéril verde escura produzida pelos intestinos antes do nascimento. Normalmente é eliminado depois do nascimento, quando o recém-nascido começa a se alimentar. No entanto, como resposta ao estresse e a uma concentração de oxigênio no sangue inadequada, o feto pode evacuar mecônio no líquido amniótico. O estresse também pode fazer o feto ofegar com força, de maneira que o líquido amniótico contendo mecônio é inspirado (aspirado) para dentro dos pulmões. Após o nascimento, o mecônio aspirado pode bloquear as vias respiratórias e fazer regiões dos pulmões colapsarem.

Às vezes, as vias respiratórias ficam somente parcialmente bloqueadas, o que permite que o ar alcance partes dos pulmões além do bloqueio, mas impedem que ele seja expirado. Desse modo, o pulmão afetado pode se expandir demasiadamente. O superexpansão progressiva de uma parte do pulmão pode resultar em ruptura e depois colapso do pulmão. O ar pode então se acumular dentro da cavidade torácica ao redor do pulmão (pneumotórax), causando inflamação dos pulmões (pneumonite) e aumentando o risco de infecção pulmonar.

Mortalidade neonatal
Dados do Ministério da Saúde atestam que o índice de mortalidade neonatal no Maranhão é o quarto pior da região Nordeste, cando abaixo penas do Piauí (14,1), Bahia (13,4) e Sergipe (12,4), e o 22º entre os estados brasileiros. Em 2016, último ano do levantamento, a taxa de mortalidade para cada mil crianças nascidas no estado, com menos de 27 dias, foi de 11,2, enquanto em 2015, de 11,5.

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