Oposição venezuelana

Guaidó se declara presidente da Venezuela com protestos

Líder da Assembleia Nacional (AN), de apenas 25 anos, fez anúncio em Caracas, onde milhares se manifestaram ontem contra Nicolás Maduro; o Brasil e os EUA reconhecem o jovem líder opositor como presidente interino da Venezuela

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Juan Guaidó fez juramento como presidente interino da Venezuela, ontem, em Caracas
Juan Guaidó fez juramento como presidente interino da Venezuela, ontem, em Caracas (AFP)

CARACAS - Diante de uma manifestação gigantesca, que superou amplamente as expectativas da oposição em toda a Venezuela, o presidente da Assembleia Nacional (AN), Juan Guaidó, declarou assumir "formalmente as competências do Executivo Nacional como presidente encarregado" do país. O jovem líder opositor, de apenas 35 anos, vinha sendo pressionado para tomar esta decisão, mas claramente esperou a reação popular de ontem para dar o passo que a maioria da oposição esperava.

"Aqui não existe nada paralelo, o exercício do poder é aqui", declarou o presidente da AN em Caracas, derrubando teorias sobre a criação de um governo paralelo no exílio, nos moldes do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) que se reúne no exterior e não é reconhecido pelo Palácio de Miraflores.

A proclamação de Guaidó era uma especulação, e poucos esperavam que fosse anunciada ontem, já que a AN ainda está debatendo um projeto de lei sobre o que a oposição já chama de "transição". O texto começou a ser discutido na terça e ainda não foi votado. A AN, eleita em 2015, tem maioria oposicionista. Guaidó assumiu a Presidência do Legislativo no início deste ano.

De acordo com o TSJ no exílio, Guaidó já estava em condições de assumir como "presidente encarregado" já que a AN declarou um "vazio de poder" após a posse não reconhecida do presidente Nicolás Maduro para um segundo mandato, em 10 de janeiro último.

Em seguida à proclamação de Guaidó, o TSJ venezuelano - que, ao contrário do TSJ no exílio, é governista - determinou ao Ministério Público que investigue criminalmente os integrantes do Parlamento, de maioria opositora. O Legislativo é acusado de usurpar as funções de Maduro. "Exorta-se o Ministério Público, ante a objetiva materialização de condutas constitutivas de tipos delitivos, para que de forma imediata proceda a determinar as responsabilidades dos integrantes da Assembleia Nacional", destacou o TSJ em uma declaração lida à imprensa.

Juramento

Diante de milhares de pessoas, Guaidó fez o juramento como presidente interino e, antes de convidar os manifestantes a cantar o hino nacional, disse: "Não deixaremos nosso povo sozinho, porque enquanto Maduro não protege ninguém, nós resgataremos a Constituição, os direitos humanos. Hoje damos um passo a mais. Que não reste dúvidas de que o povo sairá no fim de semana para receber a primeira ajuda humanitária. Tomara que a família militar se coloque ao lado do povo. Hoje, entendendo que estamos numa ditadura, chegaram a perguntar se teríamos coragem. Estamos na rua com o povo que, unido, jamais será vencido".

Brasil e EUA reconhecem Guaidó

Os governos do Brasil e dos Estados Unidos reconheceram o líder opositor como presidente interino da Venezuela. "O Brasil reconhece o Senhor Juan Guaidó como Presidente Encarregado da Venezuela", disse o Itamaraty, em nota, acrescentando que "apoiará política e economicamente o processo de transição para que a democracia e a paz social voltem" ao país vizinho.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assim se manifestou: "Continuaremos a considerar o ilegítimo regime de Maduro como responsável direto de qualquer possível ameaça à segurança do povo venezuelano", disse o chefe da Casa Branca em comunicado. Trump também instou outros governos ocidentais a reconhecerem Guaidó como chefe do Executivo interino da Venezuela. O presidente disse ainda que "usará todo o peso econômico e o poder diplomático dos EUA para pressionar por uma restauração da democracia venezuelana".

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu a Maduro que "abandone a Presidência em favor de um líder legítimo refletindo a vontade do povo venezuelano". Pompeo também exortou militares e forças de segurança do país a "apoiarem a democracia e protegerem os cidadãos".

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, também reconheceu a Presidência interina de Guaidó. "Nossos cumprimentos a Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela. Tem todo o nosso reconhecimento para impulsionar o retorno do país à democracia", tuitou Almagro.

Um funcionário do governo do Canadá disse em anonimato à agência Reuters que o país também reconhecerá Guaidó como presidente interino. A Argentina também informou que o reconhece no cargo.

Em encontros com as mais altas autoridades do governo brasileiro, na semana passada, em Brasília, líderes da oposição pediram o reconhecimento de Guaidó como presidente "encarregado" e saíram da capital brasileira com o compromisso, não só do governo Bolsonaro, mas de todos os membros do Grupo de Lima, de que o presidente da AN seria considerado um chefe de Estado legítimo.

Manifestações

Os protestos de ontem ( 23) vinham sendo convocados pela oposição desde a posse de Maduro. Várias cidades da Venezuela amanheceram tomadas por manifestantes. Milhares de pessoas marcham em todo o país exibindo cartazes com apelos à liberdade e à saída de Maduro do poder. Alguns cantam o hino nacional. Outros bradam: "Não quero bônus, não quero Claps, quero que Nicolás saia", em referência ao sistema paralelo de distribuição de alimentos por meio dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção, mercados mantidos pelo governo para a venda aos venezuelanos mais pobres.

Desde a madrugada até o final da manhã, ao todo nove mortes no contexto dos protestos já haviam sido registradas em Caracas e nos estados de Bolívar e Amazonas, segundo a imprensa local.

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