Após rebelião em quartel

Guaidó pede que militares não reprimam protesto contra Maduro

Em vídeo no WhatsApp, líder do Parlamento afirma: ''Não estamos pedindo golpe de Estado, pedimos que não disparem''; estão previstas hoje ( 23) manifestações contra o governo Maduro; Juan Guaidó recebeu apoio de boa parte da comunidade internacional

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Presidente da AN, Juan Guaidó, convidou militares a se unirem a protesto contra Nicolás Maduro
Presidente da AN, Juan Guaidó, convidou militares a se unirem a protesto contra Nicolás Maduro (Reprodução)

CARACAS - O presidente da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela, Juan Guaidó, lançou uma nova investida para angariar o apoio de militares, hoje a principal base de apoio do presidente Nicolás Maduro. Juan Guaidó disseminou pelo WhatsApp um vídeo em que apela a integrantes da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) a defender "a Constituição e sua família" e não dispararem contra os manifestantes que a oposição convocou para ir às ruas na quarta-feira desta semana.

O líder opositor, que recebeu apoio de boa parte da comunidade internacional para encabeçar um futuro governo de transição no país, convidou os militares e funcionários de todos os órgãos de segurança a se unirem aos grandes protestos convocados para hoje ( 23) em vez de reprimir os manifestantes.

"Não estamos pedindo que (vocês) deem um golpe de Estado. Não estamos pedindo que disparem. Pelo contrário: pedimos que não disparem", ressaltou o parlamentar. "(Pedimos) Que defendam junto a nós os direitos que tem nosso povo de ser escutado, de ser feliz e livre. Vocês nos viram nas ruas (...) milhões que, apesar dos anos de (bombas) de lacrimogêneo, voltamos a sair (às ruas)", afirmou, referindo-se às reuniões em locais públicos que os opositores vêm organizando desde a semana passada.

Em post no Twitter, outro deputado opositor e coronel reformado, Teodoro Campo, reforçou: "Não estamos pedindo que se rebelem, estamos pedindo que se apeguem aos artigos 328 e 329 da Constituição que estabelecem que o militar tem que ser apolítico".

Na terça-feira (22), um grupo de oficiais da Guarda Nacional Boliviariana roubou armas, veículos militares e se entrincheirou no quartel de Cotiza, em Caracas. Em vídeo divulgado nas redes sociais, um porta-voz deles pediu que colegas se juntassem aos rebeldes e não reconhecessem Maduro. O governo logo contra-atacou e os deteve. As Forças Armadas são o principal pilar de sustentação do presidente, mas o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, já reconheceu que o diabo (da rebeldia) ronda os quartéis. Em situação financeira precária e maior contato com o povo, a GNB é o elo mais fraco do governo Maduro.

Guaidó ressaltou o histórico militar de seus avós e o respeito que nutre pelos oficiais venezuelanos, mas destacou que a Fanb perdeu prestígio nos últimos anos. O líder do Parlamento, de maioria opositora, decidiu divulgar a gravação pelo WhatsApp. Segundo ele, a ideia é que parentes mostrem a mensagem aos militares.

"Sei que, se utilizarmos os canais comuns, vocês não poderão receber esta mensagem. E também sei que, se vocês receberem de maneira direta, podem se tornar mais um bode expiatório", destacou Guaidó, segundo quem o Palácio Miraflores espera que os oficiais defendam o governo, mas não se compromete a defendê-los de volta.

Para o presidente da AN, o momento é "decisivo". Ele chamou os militares à "luta pela liberdade que tomou as ruas da Venezuela" e reiterou a oferta de conceder anistia aos oficiais que romperem com Maduro, feito em projeto aprovado na semana passada pela AN, que têm maioria oposicionista desde as eleições de 2015.

"Nenhum de vocês pode viver dignamente com seu salário como militar, não podem satisfazer as necessidades de seus filhos nem de seus parentes. Em meio a este debate, os culpados da crise obrigaram vocês a reprimir manifestações de pessoas que só exigem comer, ter saúde, que chegue luz, que tenham gás", apontou Guaidó. "Este é o momento de defender a Constituição, mas sobretudo defender sua família".

A oposição tem argumentado que o novo mandato de Maduro, para o qual ele tomou posse no última dia 10, é ilegítimo devido às condições em que ocorreu o pleito no qual ele foi reeleito, em maio de 2008. A Assembleia declarou o presidente um "usurpador" e discute um decreto que levaria à formação de um governo de transição, encarregado de convocar novas eleições.

Em sua primeira reação pública ao motim de segunda-feira, Maduro afirmou no Twitter que os militares deram "incontáveis demonstrações de disciplina, coesão e preparação para enfrentar qualquer ameaça aos inimigos da pátria".

Mulher de Guaidó

Fabiana Rosales, mulher de Guaidó, também gravou um vídeo de apoio aos protestos do dia 23. A mensagem dela foi voltada às mães e às mulheres dos militares.

"Como na sua vida, na minha há um homem que decidiu fazer o que considera correto, apesar dos riscos e perigos dessa decisão", disse Fabiana, que, no mesmo tom do marido, não defendeu rebeldia nem golpe de Estado. "Vocês foram testemunhas de como a vida dele, a sua vida e a da sua família ficaram condicionadas nos últimos anos, porque têm que obedecer ordens que contradizem seu treinamento, por se verem forçados a ver um lado para não serem castigados, enquanto outros poucos usam a farda para enriquecer".

Na gravação, ela pediu desculpas aos oficiais militares pelos ataques e as desqualificações de que foram alvos por parte de opositores, mas reforçou a necessidade de eles honrarem o uniforme e "ousarem tomar as decisões corretas".

"Hoje eu falo como uma mulher comprometida com o país, com a anistia, com a democracia. Sou mulher de um homem do qual sinto orgulho, mas também sinto angústia pelo risco que sua vida corre (na luta política)", destacou Fabiana. "Hoje desejo a você o mesmo que desejo para a minha família e para o futuro da minha filha, porque, com todo o coração, não creio que essa angústia seja a única maneira em que possamos viver neste país. Desejo o mesmo para o homem que você ama".

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