SEM TRANSPORTE

Colapso: em menos de 30 dias, quatro paralisações no transporte público

Todas as mobilizações foram motivadas por atraso salarial e corte de benefícios; situação tem prejudicado usuários de mais de 25 bairros da capital

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26

[e-s001]De 28 de dezembro até ontem (22), quatro manifestações de funcionários – provocadas por atrasos salariais – interromperam o serviço de transporte público em São Luís. Ontem (22), a paralisação foi promovida por cerca de 1.400 funcionários da Empresa 1001, que faz parte do Consórcio VSL, e surpreendeu usuários do serviço, que, desavisados, se aglomeraram em pontos de ônibus espalhados por mais de 20 bairros atendidos pelas linhas afetadas. Os trabalhadores mobilizaram-se em frente à garagem da empresa, localizada na Forquilha. De acordo com a categoria, as atividades só serão normalizadas após o pagamento integral dos salários em atraso.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Maranhão (Sttrema), a paralisação foi motivada pelo atraso de salários e, também, pela não disponibilização do tíquete-alimentação aos trabalhadores. No sistema de transporte público, os funcionários são pagos em duas parcelas efetivadas a cada dia 5 e 20 do mês, mas, segundo Isaias Castelo Branco, presidente do Sttrema, desde dezembro não é feito o repasse.

“Estão atrasados tanto os pagamentos de 20 de dezembro quanto do quinto dia útil e 20 de janeiro de todos os funcionários. Após a paralisação de ontem, alguns trabalhadores receberam parte do pagamento, mas não chegou a atingir nem 20% dos funcionários afetados pelo atraso. Apenas um dos empresários que compõe o grupo apresentou uma proposta, que seria para efetivar o pagamento até sexta-feira, mas foi rechaçada pela categoria”, afirmou.

Incerteza
Para os funcionários, a situação de incerteza afeta as condições de trabalho devido à preocupação de estarem em débito com os compromissos. “Levar as coisas deste jeito é quase impossível. Não trabalhamos satisfeitos e ficamos desacreditados, porque ninguém nos dá informações, nenhum funcionário do administrativo ou mesmo os empresários. Nenhuma informação do porquê do atraso”, lamentou o motorista Ruben Frazão.

A manifestação atingiu bairros como Angelim, Araçagi, Cohatrac, Forquilha e Parque Vitória, que amanheceram sem transporte público ontem. Além de prejudicar a chegada ao trabalho e outros compromissos, centenas de estudantes não puderam ir às aulas neste início de ano letivo, como destacou Aline Santana. “Para quem está no ensino médio, principalmente, cada dia de aula perdido conta muito, porque já já iremos prestar vestibular. É muito difícil ter que contar com o transporte público aqui em São Luís, porque a gente sai de casa e não sabe com o quê vai se deparar”, ressaltou.

[e-s001]Assim como a estudante, muitos usuários foram surpreendidos pela paralisação e, durante as primeiras horas da manhã, não tinham conhecimento sobre o que motivou a falta de ônibus. No bairro Cohatrac V, o vendedor Cosme Pereira passou mais de 40 minutos aguardando pelo transporte até receber a notícia de que o serviço havia sido suspenso, mas compreendeu as reivindicações dos funcionários do sistema de transporte.

“Eu trabalho no Centro e não fazia ideia de que não tinha ônibus hoje. É uma situação chata, porque a gente é pego desprevenido, mas se os trabalhadores estão reclamando, deve haver algo de errado e é um direito deles. Quanto a mim, vou ter que acordar a minha filha para me levar até o trabalho”, contou.

A empregada doméstica Maria José diariamente sai do Maiobão, em São José de Ribamar, onde mora, para o trabalho, no bairro Planalto Anil III. O trajeto, que costuma ser feito de van e ônibus, ontem precisou ser modificado, e o transporte público foi substituído pela caminhada. “Sem ônibus, é muito difícil, mas a gente precisa trabalhar e enfrenta esse tipo de coisa”, relatou.

O Sttrema se manifestou em apoio aos trabalhadores. “Os representantes da empresa não deram sinalização sobre quando regularizarão a situação dos trabalhadores, desta forma, pelo segundo dia consecutivo, os ônibus não saíram das garagens”. O Sindicato dos Rodoviários do Maranhão reafirmou ainda que continuará dando total apoio ao movimento coordenado pelos trabalhadores, que, no entendimento da entidade, é legítimo, já que o que está sendo reivindicado é a garantia de direitos e o cumprimento da Convenção Coletiva de Trabalho.
O Sindicato das Empresas de Transportes (SET) foi contatado, mas até o fechamento desta edição não se manifestou.

ÚLTIMAS PARALISAÇÕES

28 de dezembro
Pelo menos 25 bairros de São Luís deixaram de ser atendidos pelo serviço de transporte público da Expresso 1001, durante as primeiras horas da manhã. Na ocasião, funcionários cruzaram os braços reivindicando pagamento de salário. Eles se concentraram na porta das garagens da empresa, nos bairros Forquilha e Cidade Olímpica, onde vários ônibus foram retidos.
9 de janeiro
Cerca de 120 funcionários, entre cobradores e motoristas de ônibus, das empresas São Benedito e Planeta, reuniram-se nas proximidades da garagem, no Recanto dos Vinhais, em protesto pelo atraso nos salários– que por dois meses não eram repassados aos trabalhadores – e da segunda parcela do 13º, tíquete-alimentação e suspensão de plano de saúde e odontológico, resultando em acumulo dívidas e insatisfações de trabalhadores durante o período.
21 de janeiro
Motoristas e cobradores de ônibus da empresa Solemar, do consórcio São Luís Rei de França e 1001, realizaram um protesto em frente à garagem no bairro Cidade Olímpica, na manhã do dia 21. A parou em razão da falta de pagamento dos salários. Os trabalhadores deveriam ter sido pagos desde o dia 5 deste mês. A segunda parte do pagamento já deveria ter saído até aquele dia. Revoltados, eles resolveram chamar a atenção para o problema, que já foi motivo de outra manifestação a menos de um mês. Pelo menos 13 bairros foram afetados pela falta de ônibus.
22 de janeiro
Depois do protesto no dia anterior, trabalhadores da empresa 1001 paralisaram atividades, e os ônibus não saíram da garagem, por atraso de salários

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