Ameaça

May tenta salvar seu acordo do Brexit com apelo ao Parlamento

Oposição quer rejeição aos termos negociados pela premier;ela alertou mais uma vez que a rejeição ao texto poderia tornar caótica a saída da UE e fragmentar o Reino Unido; premier conseguiu adiar a votação, que antes estava marcada para dezembro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Premier britânica, Theresa May, em discurso ao Parlamento britânico, fez seu apelo final
Premier britânica, Theresa May, em discurso ao Parlamento britânico, fez seu apelo final (AFP)

LONDRES - A primeira-ministra britânica, Theresa May , fez seu apelo final para que o Parlamento aprove, hoje (15), o seu acordo para o Brexit, alertando mais uma vez que a rejeição ao texto poderia tornar caótica a saída da União Europeia e fragmentar o Reino Unido . A premier vem lançando mão de várias estratégias na tentativa de superar as críticas internas, incluindo do seu Partido Conservador, aos termos do divórcio. Mas, enquanto isso, oposição vem há semanas se articulando contra o acordo de May, num sinal de desafio ao seu governo.

May já conseguiu adiar a votação, que antes estava marcada para dezembro, enquanto buscava mais apoio para o texto, obtido após longas e duras negociações com líderes da UE. Ao Parlamento, ela argumentou ontem que um Brexit sem acordo poderia fragmentar o Reino Unido. Além disso, levaria a consequências para a população britânica, incluindo insegurança para os trabalhadores no Reino Unido e para os cidadãos britânicos vivendo em países do bloco europeu.

Segundo a primeira-ministra, a falta de pacto final também acabaria com o período de implementação previsto por enquanto e traria mudanças para a vida cotidiana da população da Irlanda do Norte.

Na terça-feira, parlamentares debaterão a aprovação ou não do acordo de saída formulado por May e de uma declaração política separada para definir a relação de longo prazo entre o Reino Unido e a União Europeia. Uma vez que o debate tenha terminado, haverá uma série de votos: primeiro, aprovar ou rejeitar emendas à moção do governo, e então aprovar ou rejeitar a moção.

O debate ocorrerá na câmara baixa do parlamento, a Câmara dos Comuns. May não tem maioria dentre os 650 legisladores e precisa de 318 votos para conseguir a aprovação. O DUP, o pequeno partido da Irlanda do Norte que geralmente apoia seu governo, se opõe ao acordo.

Se May perder a votação, ela será solicitada pelo Parlamento a voltar dentro de três dias úteis com um projeto para definir seus próximos passos. O prazo para isso seria segunda-feira, 21 de janeiro. O governo diz que, se o acordo for rejeitado, o Reino Unido deixará a UE sem um acordo em 29 de março.

Alguns veículos da imprensa reportaram que May pediria ao Parlamento uma nova votação sobre o acordo. O gabinete da premier disse que ela responderia rapidamente a qualquer derrota, mas não definiu como. Alguns legisladores ainda levantaram a ideia de que o Parlamento poderia tomar o controle do processo, sem o governo, e entregá-lo a um comitê de legisladores de todo o espectro político.

Especula-se, ainda, que May poderia renunciar ao cargo de chefe do seu Partido Conservador, o que poderia desencadear uma disputa interna para substitui-la. No fim do ano passado, a premier já sobreviveu a uma moção de confiança no Parlamento e, segundo seus assessores, tem a intenção de guiar o processo do Brexit até o fim.

Votação difícil

Na busca por apoio, May publicou, também nesta terça ( 15), uma carta de Bruxelas afirmando que a União Europeia quer evitar a aplicação do ponto mais conflituoso do texto, que tem, no total, 585 páginas. O quesito mais sensível é o chamado "backstop" — ou "rede de segurança", um mecanismo elaborado para evitar a reinstauração de controles de fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, única passagem terrestre entre a Europa e o Reino Unido, caso o Brexit seja finalizado.

Ao Parlamento, a premier reiterou que o Reino Unido não permitirá a volta de uma fronteira rígida e, em suas palavras, "os dois lados precisarão para evitá-la" após o Brexit. O bloco "não quer que o 'backstop' entre em vigor", afirmam na carta o presidente do Conselho da UE, Donald Tusk, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Os dois ainda declararam que o acordo negociado com Londres não pode ser modificado.

"Peço aos deputados que considerem as consequências de suas ações sobre a fé do povo britânico em nossa democracia", afirmou May ao Parlamento, depois de visitar uma fábrica da cidade de Stoke-on-Trent, que votou majoritariamente em favor do Brexit em 2016.

Depois do discurso de May, o líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, a sucedeu e fez um acalorado discurso contra o acordo da premier. Ele pediu que o texto seja amanhã rejeitado e uma troca de governo.

Esta é uma das legislações mais importantes apresentadas ao país nos últimos 50 anos, e tudo parece indicar que será rejeitado de forma retumbante. O texto desagrada tanto aos eurocéticos, para quem May faz concessões excessivas à UE, como aos pró-europeus, que querem frear o processo e permanecer no bloco.

A possibilidade de um Brexit sem acordo é muito temida nos círculos empresariais. O Banco da Inglaterra alertou em novembro que provocaria uma grave crise econômica, dispararia o desemprego e a inflação, causaria forte queda da libra e dos preços de moradias, além de reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) em quase 10%.

A hipótese provocou uma forte rejeição em grande parte do país, e um grupo numeroso de parlamentares tomou várias iniciativas para tentar impedi-la.Em uma análise publicada nesta segunda-feira, especialistas da Economist Intelligence Unit, com sede em Londres, consideraram que "um Brexit sem acordo agora é o cenário menos provável".

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.