Vida na estrada

Djanira e seus dois maridos: gêmeos viajam em kombi-home

Os capixabas André e Davi Forechi percorrem o Brasil e chegaram a São Luís nesta semana; quatro projetos criados pelos irmãos devem ser realizados com estudantes

Emmanuel Menezes / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

“O que você faz quando ganha um presente? Você utiliza, aproveita ao máximo, não é? É isso o que fazemos com a nossa vida: aproveitamos”, diz Davi, um dos gêmeos que faz parte do projeto Os Viajero. Davi e André Forechi, irmãos gêmeos nascidos na cidade de Arauna, município do Espírito Santo, estão há mais de um ano viajando pelo Brasil a bordo de Djanira, nome carinhoso dado à Kombi que se tornou casa dos irmãos.

Os dois jovens, de 24 anos, chegaram a São Luís no último domingo (6), e estão “hospedados” na área de estacionamento do Espigão Costeiro, onde se preparam para executar seus quatro projetos na Ilha. Davi e André decidiram sair na estrada, em dezembro de 2017, para mostrar em diversos municípios do Brasil aquilo que eles gostam de fazer: arte, meditação, cultura e educação.

“Fazíamos faculdade e sinceramente, vivíamos uma vida mecanizada. Sempre tivemos o desejo de ser autônomos e descobrir novas aventuras. Foi pensando nisso que construímos a Djanira, nossa fiel escudeira, e embarcamos nessa jornada que vai nos levar até algum lugar, não sei onde”, diz André, irmão mais novo de Davi, por uma diferença de cinco minutos.

Os dois jovens construíram tudo presente dentro do carro, que é uma casa. Fogão, uma pequena geladeira, cama, mesa, dispensa, fruteira, pia com água potável, chuveiro e, ainda, instalaram energia. A dupla utiliza energia solar fotovoltaica, tipo comum para alimentar aplicativos e aparelhos autônomos e para abastecer refúgios ou moradias isoladas da rede elétrica.

“Nós dois queríamos ser cientistas. Então, construir uma casa sobre rodas foi uma diversão. Demoramos cerca de três meses para que tudo ficasse pronto”, explica Davi. A casa ambulante é cheia de surpresas. Por exemplo: a porta de um dos armários se torna uma mesa, com um auxílio de um pedaço de bambu, que os irmãos pegaram no Ceará. São vários truques utilizados para tornar o ambiente completo, porém compacto.

Cotidiano
O Maranhão é o nono estado que os irmãos chegam em sua viagem, que, até o momento, rodeou sobretudo estados do Nordeste, em mais de 16 mil quilômetros rodados. “Sei que deve ser difícil imaginar como pode-se levar uma vida normal dentro de uma kombi, mas a normalidade nos assusta”, diz André, em tom de brincadeira.

Questionados sobre como é a vida dentro do ambiente kombi, os jovens mostram como pode ser fácil. A energia é provida pela placa solar, que fica na parte superior do carro, e convertida em eletricidade, por uma bateria; a água é potável e vem de torneiras públicas. Já a comida é adquirida de duas formas: os grãos são comprados via internet, por terem um preço muito mais baixo do que o encontrado em supermercados. E os demais alimentos, como frutas, verduras, legumes e proteínas são conseguidos através do descarte de material de grandes supermercados e feiras.

“As pessoas pararam de se importar com aquilo que ‘é resto’. Muita comida é descartada todos os dias e nós ficamos tristes em saber que o destino direto de tanto alimento é o lixo. Conseguimos nos alimentar muito bem, todos os dias, com esse tipo de reciclagem”, explica Davi, enquanto organizava frutas e legumes em uma pequena estante.

Projetos
Os irmãos andam principalmente em cidades do interior dos estados ao qual passaram, realizando quatro projetos para públicos dos mais diversos. O Projeto Palito de Fósforo, por exemplo, é voltado para crianças em creches e escolas públicas, sobretudo de regiões periféricas.

No estado, os irmãos estiveram presentes em uma escola municipal da comunidade Una dos Moraes, pertencente a Morros. Lá, fizeram rodas de dinâmicas e cantaram canções, inspirando as crianças à arte. “Tentamos fazer com que as crianças descubram um viés artístico dentro de si. Em meio a tantas tecnologias e corrupções mentais que o mundo tem hoje, achamos mais que importante que as pessoas vivam a vida através da arte e cultura”, reforça Davi.

Os irmãos também realizam outros projetos por onde passam, tais como o Cinema Bandoleiro, que traz exibição de longas em uma tela montada na parte externa da própria kombi; o projeto Vida de Estrada, que ensina jovens e adultos a como construir uma casa móvel, além de compartilharem dicas de sobrevivência na estrada; e, por fim, o projeto de Meditação Itinerante.

“Nos reunimos em pontos estratégicos e ensinamos, ou reforçamos, as boas energias que devem sempre estar presente no dia a dia para aqueles que buscam participar”, conta André. Os projetos dos gêmeos são sempre divulgados via Instagram (@osviajero).

Oh, querida Djanira
“Não é a toa que as Djaniras no campo em flor são filhas do menor chuvisco, saberá...”. E foi por meio da letra da canção “Djaniras”, da paraibana Cátia de França, que a dupla escolheu nomear a casa móvel.

“Essa canção foi trilha sonora de todo o processo de construção da nossa casa. Nada mais justo que nomeá-la com algo que diz tanto a respeito dela mesma”, explica Davi.

A Djanira querida e seus dois maridos, Davi e André, permanecem em São Luís por tempo indeterminado, distribuindo muita calmaria, sabedoria e ótimas histórias.

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