Artigo

Acabou o pesadelo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

A cena continua recente, vívida, ainda que o filme já se esfumace, esgarçado, na memória do tempo. Em abrigo subterrâneo, nos últimos dias da 2ª Guerra Mundial, cidade alemã, família entre viva e morta, espera o que talvez pudesse ser suas horas últimas. O canhoneio, de ataque e de defesa, é insistente, ensurdecedor, medido pelos dias. A mocinha da cena consegue, não obstante, conciliar o sono, vencido o pavor. E dorme, na placidez de uma naturalidade artificial e criada pela hora. De repente entra em cena o inesperado: lá fora, os exércitos aliados vencem a resistência alemã e a troca das hostilidades de inopino se faz cessar: um silêncio inesperado e total invade o ar e o espaço-tempo da narrativa. O que se segue é bem descrito pelo diretor ao captar que a mocinha, de repente, meio estremunhada, em sobressalto é despertada e pergunta o que está acontecendo: é que ela, sem entender, acabara de ser devolvida à consciência pelo... silêncio. A cena choca pelo contraste ao descrever alguém vivenciando uma realidade que havia sido falseada pelo antinatural: como pode o silêncio acordar alguém?

Sei que acabo de perder bom espaço, acima, em tentar descrever ao leitor singela narrativa de cinema. Cuido de justificar. É que a cena do filme me foi lembrada pela realidade objetiva hoje experimentada em todo o Brasil. Do filme, não me lembro o nome e terei de apelar à boa memória do Joaquim Haickel, meu imbatível assessor para assuntos de cinema e gastronomia.

Tenho percebido que, nos últimos dias, perpassa no ar uma sensação generalizada e indistinta de que o Brasil está sendo despertado para viver uma realidade outra, diferente daquela que lhe fora imposta pelos governos de esquerda. É que a promissora situação de normalidade que, esperançosa, se promete ser devolvida ao País, fez o brasileiro despertar de um pesadelo ao qual já se estava acostumando. Tendo ele sido acalentado pelo canhoneio do erro, da fraude e do crime - quase que não está acreditando que lhe possam dar de presente, em devolução, o silêncio de um estado de normalidade civil, econômico, social. E por isso acorda bestificado, estremunhado, sem querer acreditar.

Eu disse que a sensação era indistinta, não importando de ser o despertado entusiasta ou não do governo que está assumindo. É que o brasileiro anseia por dias melhores para si e, por isso, torce pelo êxito de um governo que também possa ser melhor, afastado qualquer ceticismo negativista que alimentasse.

Lembro-me que, no início dos anos de 1960, a nação majoritária vivenciou situação parecida, com o governo Jânio Quadros que se anunciava diferente... para melhor. Frustração completa. O homem encheu a cara, renunciou e fugiu para Londres.

No plano dos homens tudo pode acontecer (esconjuro!), e nosso receio é que saídas à Jânio, atentados, travas políticas antagônicas venham truncar de forma brusca a trajetória de esperança já desenhada.

Que a mudança é necessária, não há negar. E não deixando de graça essa necessidade, para tanto dou um exemplo só. O episódio como o Lula construiu o lance Cesare Battisti foi emblemático a dizer que o Brasil era governado por uma organização criminosa que atendia pelo nome de fantasia de Partido dos Trabalhadores. Felizmente, acordou.

Pedro Leonel

Advogado

E-mail: plpcadv@gmail.com

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