Vida Ciência

Da evolução à inteligência artificial das máquinas

O artigo deste mês da Vida Ciência traz uma descrição do avanço constante e do progresso cientifico e tecnológico desencadeado pela evolução das máquinas térmicas

Carlos Cesar Costa e Antonio José Silva Oliveira

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

O artigo deste mês da Vida Ciência tem a participação do físico Carlos Cesar Costa, do LCN – Bio do Campus da UFMA de Pinheiro. Mestre em Física e, no momento, no programa de Doutorado pela UERJ, traz uma descrição do avanço constante e do progresso científico e tecnológico desencadeado pela evolução das máquinas térmicas, bem como suas novas abordagens acerca das interações humanas – interações estas retratadas nos livros e nas telas dos cinemas.

Historicamente, podemos afirmar que a sociedade, de um modo geral, desenvolveu-se cientificamente e tecnologicamente a partir da Primeira Revolução Industrial. Este marco histórico foi responsável por produzir profundas transformações nos séculos XIX e XX, alavancando todo o desenvolvimento da atual sociedade informatizada, que se caracteriza pelo acesso, comunicação, difusão e armazenamento de informações em seu sentido mais amplo.

As máquinas térmicas, que utilizam a transformação do calor (forma de energia) compreendidas entre duas fontes de temperaturas diferentes, foram inventadas em 1712 pelo inglês Thomas Newcomen, que conseguiu criar uma máquina autônoma, que funcionava por meio do aproveitamento do vapor para produzir trabalho mecânico, obedecendo às leis de transformação de energia.

Princípio de funcionamento de uma máquina térmica
Princípio de funcionamento de uma máquina térmica

Todavia, o aperfeiçoamento da máquina térmica veio por intermédio do escocês James Watt (1736 – 1819), engenheiro e construtor de experimentos. Ele percebeu que o reaquecimento do cilindro em cada ciclo em que era resfriado, reduzia em muito o rendimento da máquina, corrigindo a máquina de Newcomen com a introdução de um condensador, compartimento especial para resfriamento do vapor.

O motor a vapor deu um grande passo em direção à Revolução Industrial, tirando o homem do centro da relação capital trabalho, passando a ser o operador e o alimentador das máquinas.

Nesse período, o homem, movido pela pressa capitalista em produzir cada vez mais no menor tempo possível, passa a estabelecer a primeira relação efetiva de familiaridade e de proximidade com as máquinas, tanto na condição de operador quanto de mantenedor.

Neste período, a humanidade desenvolveu-se rapidamente, pois a mecanização do trabalho desempenhou um papel fundamental, provocando mudanças profundas no cotidiano da sociedade, podendo ser considerado o precursor do que conhecemos hoje como a era das máquinas e robôs.

A máquina a vapor e a transformação de energia térmica em energia mecânica foram as responsáveis pela Revolução Industrial, que teve início no século XVIII entendendo-se até o século XIX, momento em que toda a produção manual foi substituída pela mecanização. Com o evento da eletricidade, ocorrida na metade do século XIX, a produção em massa torna-se possível, dando início à segunda revolução industrial.

A terceira revolução industrial ou revolução digital foi caracterizada pela soma do conhecimento de novas tecnologias de informação e comunicação, permitindo o desenvolvimento das atividades na indústria de tecnologias avançadas e de controle em todas as etapas de produção de bens de consumo. Podemos citar como exemplo o desenvolvimento do protocolo TCP/IP para interligar a comunicação entre diferentes computadores, cujo principal objetivo era encontrar uma solução de conexão em todas as formas de comunicação. O desenvolvimento deste protocolo ocorreu durante a guerra fria e tinha como objetivo manter a comunicação, caso houvesse uma guerra nuclear. O projeto de comunicação cresceu entre instituição de pesquisas transformando-se no que conhecemos hoje como internet.

A quarta revolução industrial é a era dos dispositivos “vestíveis” (wearable), que ajudam a construir um ambiente em que a tecnologia passa a estar intrinsecamente ligada ao dia a dia das pessoas de modo imperceptível, caracterizando-se como máquinas inteligentes e dispositivos em rede.

As máquinas inteligentes são as que utilizam algoritmos de inteligência artificial (AI). Inteligência Artificial é a inteligência similar à humana exibida por hardware (máquinas) ou software que podem ser criados pelo homem.

Linha do tempo para evolução das máquinas
Linha do tempo para evolução das máquinas

Os impactos advindos do progresso científico e tecnológico, causados em nossas vidas, são frequentemente retratados nos livros e nos cinemas. O filme “Tempos Modernos” nos leva a uma reflexão crítica sobre a estrutura da sociedade industrial capitalista da década de 30, na qual a produção industrial em série torna-se a imagem da modernidade, impondo um estilo de vida que se baseava no tempo de trabalho, na hierarquia do sistema produtivo, e no poder de consumo que cada indivíduo detinha.

No entanto, os impactos advindos do campo ético das tecnologias passadas, ocorreram dentro de um contexto em que a natureza desempenhou o papel apaziguador determinante e nós éramos seus trabalhadores.

Chaplin em cena de “Tempos Modernos”
Chaplin em cena de “Tempos Modernos”

Atualmente, o cinema retrata a inteligência artificial como robôs humanoides que tentam dominar o mundo. Entretanto, a evolução atual das tecnologias de AI não é tão assustadora – ou tão inteligente, mas evoluiu consideravelmente para fornecer muitos benefícios específicos para todas as indústrias.

Cena do filme “Eu, Robô”. 20th Century Fox, 2014
Cena do filme “Eu, Robô”. 20th Century Fox, 2014

Isaac Asimov em seu livro “Eu, Robô” – um clássico da ficção científica que serviu de roteiro para o filme que leva o mesmo nome – enumera as Três Leis da Robótica:
I. Um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal;
II. Os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei;
III. Um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.

As regras visam manter a paz entre autômatos e seres humanos, impedindo rebeliões apocalípticas, como na franquia “Exterminador do Futuro”, e são diretrizes até hoje respeitadas pelos pesquisadores de inteligência artificial. Com o livro, a ficção científica deixou de ser só fantasia para entrar definitivamente no campo da discussão ética sobre a nossa relação com a tecnologia.

Na era do mundo digital, as máquinas com seus algoritmos avançados estão ajudando a construir um universo cultural dos consumidores alinhados com interesses obscuros de grandes corporações; interesses estes, que colocam em evidência a ameaça ao livre acesso à informação e à democracia dos seus usuários.

É comum entre os usuários de aplicativos, como o Spotify, por exemplo, receber listas personalizadas de músicas. Sistemas semelhantes de recomendação, como o Amazon, Google, eBay e Facebook, fazem parte desse sistema governado por um ‘cérebro artificial’ que consegue traçar um retrato automatizado do gosto de seus usuários, além da interação em si.

Hoje um smartphone, utilizando AI e impressão 3D, já sabe a hora que você dorme e sua duração, qual o tempo de sua caminhada, os lugares que você frequenta, os seu gosto por comidas e bebidas e opina sobre seus próximos passos e vontades, modelando, desta forma, o comportamento humano, ou seja, a máquina fazendo a função de operadora, como no passado, de maneira inversa. Para isto, basta fazermos uma pequena busca na internet.

O que poderemos, então, esperar no futuro? Um pensamento do linguista e poeta brasileiro Carlos Vogt talvez nos ajude a responder esta pergunta: “O que sabemos sim é que a interação, cada vez maior e mais intensa, do homem com a máquina, da máquina com o homem e da máquina com a máquina, criará, como está criando, novos tipos de intersubjetividade, possibilitando novas formas de emoção e de sensação que também desconhecemos e que, por isso, a exemplo dos estados de consciência, não temos como nomear”.

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