NATAL

“A gente só quer ter um Natal feliz”, dizem carentes em São Luís

Viaduto do Monte Castelo e Ponte do São Francisco reúnem famílias necessitadas, que, anualmente, vão aos locais para receber doações de alimentos, roupas e outros objetos; este ano, segundo eles, as doações foram escassas

IGOR LINHARES / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

[e-s001]A noite de 24 de dezembro é, para muitas pessoas, marcada por grandes confraternizações e a ceia de Natal em família. Para os mais carentes, a situação diverge, principalmente, pela falta de condições que impossibilita, até mesmo, um presente para as crianças, que, por viverem uma realidade modesta, não pedem muito. Em São Luís, historicamente, diversas famílias, que vivem na pobreza, se juntam em pontos estratégicos da cidade para tentar suprir, por meio da ajuda solidária de outros, o vazio que fica na vida das crianças que esperam por um presente e na mesa do jantar, que corre o risco de não ter nada para celebrar a data simbólica do nascimento de Jesus.

Na manhã de ontem, O Estado esteve em locais, como o viaduto do Monte Castelo e a Ponte do São Francisco, onde mães e filhos, em sua maioria, se reúnem para receber o que pessoas abastadas costumam doar no período natalino. Mãe de três filhos, a diarista Márcia Ribeiro, de 35 anos, contou que, este ano, não foi tão farto quanto em anos anteriores. “A gente sempre se reúne aqui, há anos, para tentar ganhar alguma coisa. Seja lá o que for. Só queremos algo para levar para casa”, destacou.

Mesmo com dificuldade em casa, várias responsabilidades para atender e, por vezes, nenhuma luz para resolver os problemas, Márcia Ribeiro diz que não ousa reclamar da vida. “Por dificuldade, todo mundo passa. A gente vem aqui para tentar ganhar algum alimento para levar para comer, mas eu não reclamo. Só tenho a agradecer, pedir saúde e paz para todo mundo”, frisou. “Com saúde e paz, a gente bebe um copo d’água, mata a sede, encosta a cabeça no travesseiro e dorme. Porque a gente poderia estar numa situação pior, como no hospital ou correndo algum perigo, em guerra”.

Assim como a diarista, a jovem Maria do Socorro Medeiros, de 19 anos, mãe de um menino de pouco mais de um ano, se reuniu a vizinhos e conhecidos, com o objetivo de ser presenteada por pessoas que se sensibilizam com a realidade do outro, mas, segundo ela, nem a cesta básica tinha garantida para levar para casa. “Eu venho desde que eu era mais nova, há uns cinco anos, e a gente sempre voltava para casa com alguma coisa. Mas, nesse Natal, foi difícil”, contou. “Eu não trabalho, meu marido só faz alguns bicos, e o que a gente tem não dá para comprar tudo o que a gente precisa, nem mesmo para fazer uma ceia hoje [na noite de ontem]”.

[e-s001]Para as crianças, mesmo com uma vida difícil desde o nascimento, sem muito para vestir, calçar, comer e brincar, a esperança por receber um presente, o mínimo que fosse, era nítida no olhar de cada uma. “Eu queria ganhar um brinquedo ou qualquer outra coisa. Já voltaria para casa feliz”, ressaltou a menina Ana Cláudia Sales, de 7 anos. Como ela, o pequeno Gabriel da Silva, de 5 anos, não queria nada, além do essencial. “Ainda não ganhei nada, mas queria roupa e sapato”, disse.

Visão equivocada
De acordo com a dona de casa Maria do Rosário Costa, de 39 anos, é visível o olhar crítico de quem passa pelos locais onde há pessoas carentes, como ela, esperando por doações no período de Natal. “Algumas pessoas ficam falando, e ainda põem em frente o que a gente recebe do governo [federal] pelas crianças. Mas a verdade é que não dá para nada, e como a gente não quer fazer nada de errado para ter as coisas, o jeito é contar com a ajuda de quem pode ajudar”.

Por fim, o intuito de cada um é único: ter uma noite agradável, com comida na mesma, mas, principalmente, cheio de alegria. “Hoje, a gente só quer ter um Natal feliz”, pontuou a dona de casa.

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