Protestos

Macron enfrenta semana decisiva para espantar grave crise na França

Apesar da diminuição dos protestos, governo permanece cauteloso, não proclama vitória, e apressa-se para avançar medidas anunciadas e grande consulta popular; existe a possibilidade de nova manifestação no próximo sábado ( 22) contra o governo francês

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
O presidente francês Macron toma providências para encerrar crise no seu governo
O presidente francês Macron toma providências para encerrar crise no seu governo (AFP)

PARIS - Apesar do quinto protesto dos coletes amarelos, no último sábado, ter registrado uma forte queda, com o número de manifestantes dividindo-se por dois (66 mil contra 126 mil da semana anterior), o governo francês permanece cauteloso e sem proclamar vitória. Diante da possibilidade de uma nova manifestação no próximo sábado, (22) Macron apressa-se para tomar providências capazes de encerrar a crise, com o avanço das medidas anunciadas na semana anterior e a organização de uma grande consulta popular.

Em uma entrevista concedida ao jornal Les Echos no domingo ( 16), o primeiro-ministro Edouard Philippe detalhou as medidas anunciadas há seis dias pelo presidente. Ao contrário do anteriormente dito, nem todos aqueles que recebem salário mínimo terão um aumento de 100 euros, que estará vinculado à renda familiar em seu conjunto.

Isto acontecerá, segundo o primeiro-ministro, porque boa parte daqueles que recebem salário mínimo integram famílias de renda alta, e o governo deseja beneficiar exatamente a classe média. Ele disse ainda que 5 milhões de famílias devem se beneficiar:

"Pode parecer surpreendente, mas 1,2 milhão de assalariados que recebem o salário mínimo estão em 30% das casas francesas mais ricas. Nosso objetivo é aumentar o poder de compra das famílias de classe média; isso é o que os coletes amarelos pediram, e neste contexto, levar em conta a renda conjunta não parece escandaloso para mim", disse o Philippe ao jornal.

Além do aumento do salário mínimo e do congelamento do imposto carbono que incide sobre o diesel, o Eliseu também abriu mão de aumentar tarifas de eletricidade e gás durante o inverno e reduziu o imposto para aposentados que ganham menos de 2 mil euros.

Medidas

Segundo Philippe, as medidas anunciadas, cujo custo é calculado em 10 bilhões de euros, devem aumentar ligeiramente o déficit público em 2019, chegando a 3,2% do PIB, acima do máximo de 3% estabelecido para a zona do euro. Para atenuar as consequências sobre as contas públicas dessas medidas, o governo decidiu limitar a baixa de um imposto sobre empresas apenas para aquelas com menos de 250 milhões de euros de receita.

O primeiro-ministro também comentou a abertura de um “debate sem precedentes” sobre as questões dos protestos, o que foi anunciado como uma das medidas por Macron na semana passada. O presidente se reunirá nesta terça-feira com ministros e representantes econômicos para começar a organização das consultas, que devem durar dois meses e meio e abordarão temas como transição ecológica, tributação, organização do Estado, democracia, cidadania e imigração.

Philippe se disse favorável em princípio ao Referendo de Iniciativa Cidadã, uma das principais reivindicações dos manifestantes. O instrumento permitiria a qualquer cidadão, após um abaixo-assinado, submeter uma questão a um referendo, o que possibilitaria a aprovação de uma lei sem passar pelo Parlamento ou pelo governo. O primeiro-ministro elogiou o mecanismo, que, nas últimas eleições, foi apoiado por candidatos como Marine Le Pen, de extrema direita, e Jean-Luc Mélenchon, de extrema esquerda, desde que com limitações.

"Eu não vejo como alguém pode ser contra esse princípio. O referendo pode ser um bom instrumento em uma democracia, mas não sobre qualquer assunto ou sob quaisquer condições. Esse é um bom tópico de debate que vamos organizar em toda a França", afirmou.

Erros cometidos

Edouard Philippe também disse que o executivo "não escutou o suficiente os franceses" e "cometeu erros" na gestão da crise dos coletes amarelos.

"Continuo convencido de que eles querem que esse país seja transformado. Eu digo a eles que a impaciência deles é a minha. Vamos continuar a consertar o país, trazendo-os para perto", disse.

Enquanto isso, nas estradas do país ocupadas pelos coletes amarelos, os manifestantes temem uma retirada à força nos próximos dias. O governo já se manifestou abertamente pelo fim das manifestações. O ministro do Interior, Christophe Castaner, um dos principais alvos dos manifestantes, disse que as mobilizações até aqui já foram o bastante e que os "coletes amarelos" devem abandonar as rodovias. O presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, do partido de Macron, República em Marcha, citou a possibilidade de enviar a polícia de repressão a manifestações para "liberar o espaço público".

"Se o governo fizer isto, significa que não entendeu nada", afirmou à AFP um porta-voz dos manifestantes, Pierre-Gaël Laveder, de Saône-et-Loire, no Centro-Leste da França.

Incêndios

No domingo (16) à noite foram registrados incêndios em vários pontos das rodovias no Sul da França. Há várias semanas, os postos de pedágio e outras instalações estão sendo atacados. Nesta segunda-feira, a empresa Vinci, que administra as estradas, confirmou um número menor de manifestações, mas destacou que alguns pontos permanecem afetados.

Os protestos dos coletes amarelos forçaram Macron ao primeiro recuo desde o início do seu governo, para o qual foi eleito com uma imagem baseada em um estilo “jupiteriano”. Segundo o Le Monde, Macron, conseguiu aplacar parte da raiva, mas mesmo assim “sabe que não pode falhar na execução. Se der a sensação de procrastinar ou desistir de algumas de suas promessas, as ruas podem rapidamente ficar amarelas outra vez”.

"A participação [nas manifestações] é menor, mas as perguntas ainda estão lá", disse François Bayrou, presidente do Movimento Democrata (centro), no domingo, na BFM-TV.

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