Negociações

May descarta ''avanço imediato'' na UE para salvar o Brexit

Líderes europeus não vão modificar acordo, que deve ser votado em janeiro pelo Parlamento britânico; a reunião de cúpula de ontem e hoje da UE encerra uma semana de drama para o Brexit, na qual a premier conseguiu convencer os deputados de seu partido

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Theresa May chega a Bruxelas para reunião com integrantes da União Europeia sobre o Brexit
Theresa May chega a Bruxelas para reunião com integrantes da União Europeia sobre o Brexit (Reuters)

BRUXELAS - Após sobreviver à moção de desconfiança dentro do próprio partido, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, buscou ontem (13) "garantias" da União Europeia para salvar o acordo do Brexit. Ela descartou, porém, um "avanço imediato" de parceiros decididos a não modificar o pacto.

"Não espero um avanço imediato, mas o que espero é que possamos começar a trabalhar o mais rápido possível nas garantias que são necessárias", declarou May.

A premiê britânica busca apoio da UE para levar o Parlamento – até agora hostil ao acordo – aprove o texto em janeiro. Também ontem, o governo do Reino Unido prometeu que a votação, que deveria ter ocorrido há dois dias, será remarcada "o mais rápido possível" até 21 de janeiro.

A primeira-ministra esteve em Bruxelas, após reunião com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o premiê da República da Irlanda, Leo Varadkar. "Eu sei das preocupações na Câmara dos Comuns sobre a questão do 'backstop'", declarou May. Ela se referia ao mecanismo acertado para evitar uma fronteira para bens entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte – que integra o Reino Unido – e proteger o acordo de paz da Sexta-Feira Santa de 1998.

May assegurou que vai abordar a situação com seus parceiros europeus, ao quais "irá apresentar as garantias políticas e jurídicas" que, na sua opinião, são necessárias "para apaziguar as preocupações dos membros do Parlamento sobre o assunto".

May enfrenta dificuldades

A reunião de cúpula de ontem e hoje (14) da UE encerra uma semana de drama para o Brexit, na qual Theresa May conseguiu convencer os deputados de seu próprio Partido Conservador a não a afastarem do poder nem das negociações com Bruxelas.

Apesar de sua vitória em Londres, a rejeição no Parlamento Britânico ao acordo de divórcio permanece, e o mecanismo de último recurso acertado para evitar uma fronteira para bens na ilha da Irlanda cristaliza a oposição.

Diante de uma possível derrota, a premier adiou a votação prevista para terça-feira passada ao mês de janeiro. Ela, então, viajou por vários países europeus para obter "garantias" de seus sócios de que o mecanismo, conhecido como "backstop", não será utilizado.

Os defensores mais ferrenhos do Brexit temem que o país fique atrelado indefinidamente às redes de um "território alfandegário comum" com a UE, caso Londres e Bruxelas não alcancem uma solução melhor para sua futura relação, que deve começar no máximo em janeiro de 2023.

Posição da UE

Os 27 sócios da Grã-Bretanha na União Europeia mantêm a posição de não modificar o acordo de divórcio nem a declaração política sobre a futura relação, mas afirmaram estar dispostos a apoiar May. O acordo foi negociado durante 17 meses e finalmente aprovado em 25 de novembro.

"Não vejo como podemos mudar o acordo de divórcio. Claro, podemos falar sobre se há garantias adicionais", disse a chefe do governo alemão, Angela Merkel. "Estamos dispostos a ajudá-la", garantiu, por sua vez, o primeiro-ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel.

A primeira-ministra britânica deve apresentar sua visão da situação à tarde para seus colegas, que discutirão as opções sem ela no final de um jantar de trabalho. "É tudo uma questão de esclarecimento esta noite", disse o holandês Mark Rutte.

"Temos várias ideias, mas não uma estratégia desenvolvida. Tudo dependerá de seu discurso antes do jantar", declarou um diplomata europeu, para quem a solução consistirá mais em um exercício de comunicação – já que não estão dispostos a retornar aos textos.

O imbróglio da Irlanda

O projeto de declaração de seis parágrafos preparado pelos europeus afirma que o "backstop" – proposta para regime diferenciado da fronteira irlandesa – "só seria implementado por um curto período e apenas pelo tempo necessário", segundo fontes diplomáticas europeias.

O acordo de divórcio explicita que o "backstop" seria aplicado apenas "temporariamente", até a obtenção de um acordo posterior. Uma fonte diplomática questionou se uma declaração jurídica sobre sua interpretação solucionaria "o problema do Reino Unido".

O Conselho está disposto, no entanto, a "estudar se pode oferecer novas garantias" em janeiro, que "não entrem em contradição com o acordo de retirada", segundo uma fonte europeia. Tal enfoque em duas etapas busca evitar que os defensores do Brexit "comecem a pedir mais após alguns dias".

O "melhor método para tornar 'backstop' supérfluo é chegar a um acordo sobre a futura relação o mais rápido possível", afirmou uma fonte do governo alemão, em referência a um eventual futuro acordo comercial, político e de segurança entre UE e Reino Unido.

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