Kosovo anuncia criação de Exército e aumenta tensão com a Sérvia
Projeto será votado hoje ( 14) pelo Parlamento e tem apoio dos EUA; território é atualmente protegido pela Kfor, força internacional comandada pela Otan desde a guerra de 1998-99. Sérvia não reconhece independência de sua antiga província
BELGRADO - O Parlamento do Kosovo vota hoje (14) a criação de um Exército, um atributo da soberania que o território reivindica, porém motivo de mais tensões com a Sérvia, que não reconhece a independência de sua antiga província.
Trata-se de uma decisão tão política quanto militar. Segundo analistas kosovares, a implementação efetiva deste Exército vai durar uns dez anos. Seu objetivo será assegurar a integridade de um território protegido hoje pela Kfor, força internacional comandada pela Otan desde a guerra de 1998-99, que deixou mais de 13 mil mortos.
Além disso, os 2.500 membros das forças de segurança do Kosovo (KSF), estão - juntamente com a Polícia - encarregados de missões de segurança civil.
O orçamento para preparar este Exército de 5 mil soldados (e 3 mil reservistas) será de 57 milhões de euros previstos para 2019. Esta força é pouco comparável à do Exército sérvio e seus 30 mil militares, tanques e aviões de combate.
Mas sua criação ocorre em um contexto de péssimas relações com a Sérvia, ilustrado pela instauração, em novembro, pelo Kosovo, de barreiras alfandegárias aos produtos sérvios.
O diálogo entre ambas as partes está em ponto morto. Pristina exige como condição prévia que a Sérvia reconheça sua independência proclamada em 2008, enquanto a Sérvia inscreve em sua Constituição a tutela sobre sua antiga província, majoritariamente povoada por albaneses.
"Expulsar o povo sérvio"
O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, vê na criação de um Exército e nessas barreiras alfandegárias a vontade "de expulsar o povo sérvio do Kosovo". Cerca de 120 mil sérvios vivem no Kosovo.
A primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, disse esperar que a Sérvia "nunca precise usar seu Exército", mas advertiu que é "uma das opções" possíveis, já que Belgrado não aceitaria "uma nova limpeza étnica".
O resultado da votação de hoje (14), boicotada pelos dez deputados da minoria sérvia, não deixa dúvida: todos os partidos do Kosovo são unânimes a esse respeito.
A imprensa kosovar celebra há vários dias esta "semana do Exército", uma oportunidade para o governo demonstrar algum êxito após os fracassos na liberação dos vistos com a União Europeia ou na adesão à Interpol.
Tanto no Kosovo quanto na Sérvia, a hipótese de uma intervenção militar de Belgrado não é considerada possível. "Não é crível atualmente", afirma o analista militar sérvio Aleksandar Radic.
Apoio de Washington
A Otan - quatro de seus membros não reconhecem Kosovo: Espanha, Grécia, Romênia e Eslováquia - afirmou que a Kfor continuaria garantindo estabilidade. Mas seu secretário-geral, Jens Stoltenberg, acredita que a iniciativa kosovar ocorre em um momento ruim.
Kosovo recebeu, no entanto, o único apoio público que lhe importa, o dos Estados Unidos, aonde viajou recentemente seu presidente, Hashim Thaçi.
O chefe das KSF, Rrahman Rama, afirmou que a decisão de criar um Exército foi tomada "em cooperação com nossos parceiros", e informou que será equipado pelos Estados Unidos.
O Kosovo reivindica ter sido reconhecido por 115 países. Belgrado assegura que 15 deles reverteram esta decisão, o que Pristina nega. Seu caminho para entrar na ONU está fechado pela oposição de Rússia e China.
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