Educação e cultura

O estudo de óperas entre crianças maranhenses

Mais de 700 alunos da rede municipal foram impactados pelo projeto “Ópera para todos” desde 2004; educação de vanguarda que fomenta a aprendizagem mais qualitativa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Para a plateia que foi à Praça Maria Aragão ver a “Flauta Mágica”, ficou o gostinho de “quero mais”
Para a plateia que foi à Praça Maria Aragão ver a “Flauta Mágica”, ficou o gostinho de “quero mais” (Ópera)

A Praça Maria Aragão foi tomada pela emoção pungente de uma das mais belas e famosas óperas do compositor Mozart, no dia 1º. A versão maranhense de “A Flauta Mágica” arrebatou uma enorme plateia, como sempre acontece quando é encenada nos palcos mais importantes de grandes teatros mundiais.

Como não vibrar com as aventuras dos destemidos Príncipe Tamino e do caçador de pássaros Papagueno, que, usando uma flauta mágica, lutam para resgatar a princesa sequestrada, a bela Pamina? E como não se emocionar com a dor que sente a Rainha da Noite, mãe da princesa sequestrada?

É com esses sentimentos fortes, que traduzem dramas atemporais, que a ópera “A Flauta Mágica” se passa; usando elementos da arte - música, teatro, literatura e dança para expressar sentimentos que nem sempre poderiam ser traduzidos só com palavras. Um olhar desesperado, um abraço apertado, um grito de dor são também signos eficientes de comunicação nesse espetáculo.

Comunicação essa que foi aprendida com louvor por crianças na faixa etária média de 6 anos, alunos de classes de alfabetização de quatro escolas, uma particular e três da rede municipal; que passaram um ano letivo estudando a fundo e reescrevendo a obra de Mozart, pintando, encenando e dançando a história da “Flauta Mágica”; e ao final do processo a interpretam, sob a direção da educadora maranhense e doutora em Psicologia da Educação Ceres Murad. Não se trata de teatro escolar, mas de uma megaprodução caprichada, que há 21 anos reúne cenários majestosos assinados pelo arquiteto Roosevelt Murad; figurinos de época, música erudita e uma alta carga dramática que impressiona por vir de atores mirins.

No palco, crianças de classes sociais diferentes e de mundos tão distintos; mas que se igualam todos na arte, e se integram no desafio de contar uma história de garra, luta e superação.

Essa superprodução, encenada no sábado, 1º, foi a 21ª edição do projeto “Ópera Para Todos”, uma pioneira metodologia de alfabetização criada por Ceres Murad, que faz uso da ópera e de seus elementos artísticos para ampliar e embasar a construção do conhecimento produzido pelos alunos em seu rico processo de aprender a ler e escrever. Uma aprendizagem diferenciada, na qual o aluno é um ativo protagonista das descobertas da linguagem falada e escrita; utilizada para expressar sentimentos e emoções bem mais amplos que o simples decorar de sílabas e palavras poderiam proporcionar.

Reconhecimento
Reconhecido pelos grandes resultados na formação de leitores mais críticos e escritores mais eficientes na arte de traduzir o mundo com palavras; o projeto “Ópera para Todos” foi agraciado em 2003 com o prêmio "Darcy Ribeiro", a mais alta comenda da área da educação brasileira, concedida pela Câmara dos Deputados.

Graças ao patrocínio da Cemar, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o projeto, que já era um marco na alfabetização escolar no Colégio Dm Bosco, desde o ano de 2014 pode ser levado também para alunos de escolas municipais, além de tornar-se importante também para a cultura, pois oferta arte erudita de primeira qualidade à população maranhense, de forma gratuita e democrática. Um fomento único à formação de novas plateias para a ópera no Maranhão.

“O patrocínio da Cemar possibilitou que nossa metodologia pedagógica chegasse às salas de aulas das escolas da rede municipal Maria Alice Coutinho e José Sarney, oferecendo aos alunos da rede pública as mesmas oportunidades de alfabetização vivenciadas pelos alunos do Colégio Dom Bosco onde o projeto teve início, e da escola comunitária Luiz Pinho Rodrigues, mantida pelo Instituto Áurea Faria na Divineia, que desde o ano de 2002 conta com essa parceria”, explica a educadora Ceres Murad.

Garantir uma alfabetização eficiente e da mais alta qualidade é garantir um verdadeiro passaporte às crianças, que serão mais competitivas à partir do momento em que se tornam seres produtores de conhecimento e não meros repetidores de conteúdo. Aprender a ler pensando, e a escrever sentindo são grandes diferencias dessa prática, na qual o espetáculo encenado em praça pública é só a ponta do "iceberg" de um projeto muito mais amplo, e que reúne com louvor educação, inclusão social, arte e cultura.

Os melhores resultados não estão no palco, mas na vida de cada aluno que vivenciou o processo desse método revolucionário de alfabetização e que depois passam a ter notas melhores e produções textuais relevantes, segundo o relato de pais e professoras das escolas e turmas envolvidas no projeto ao longo desses 21 anos.

"Como educadora, esse projeto é uma meta pessoal e profissional e que visa alfabetizar com qualidade e garantir aos alunos um forte alicerce que é a capacidade de ler e interpretar o mundo com suas palavras e ideias. Sem isso, forma-se analfabetos funcionais. Poder levar essa metodologia também aos alunos de escolas municipais foi uma conquista importante" ressalta Ceres Murad.

Sobre os benefícios de um aluno ser alfabetizado com o uso da ópera, a educadora é enfática: "Esse trabalho parte do pressuposto que se a gente ensinar as crianças a escrever o que pensam, teremos um texto final de alta qualidade. E se dermos a oportunidade para que essas crianças possam escrever o que sentem e pensam, o potencial da escrita é mil vezes maior e melhor. Este é um processo de utilização de múltiplas habilidades e múltiplas inteligências para fazer a criança atingir o que se quer, que é pensar, sentir e se comunicar com riqueza e criticidade", explica a autora do projeto Ópera para Todos.

Para a plateia que foi à Praça Maria Aragão ver a Flauta Mágica, ficou o gostinho de “quero mais” desse espetáculo para toda a família. Para os pais que foram prestigiar seus filhos - atores, ficou a certeza de que esses devem ser duplamente aplaudidos: Pelo espetáculo encenado com maestria, mas acima de tudo, pela conquista da leitura e da escrita de qualidade, aprendidos com louvor máximo.

Para encerrar, vale lembrar a frase de Nélson Mandela, cada dia mais atual: “A educação é arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. E em São Luís, essa revolução já acontece em parte com o projeto Ópera para Todos!

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