Resgate histórico

Rampas de São Luís: chegada e partida de mercadorias e pessoas

Construídas na segunda metade do século XIX, estruturas receberam embarcações que conseguiam se aproximar da costa maranhense

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

[e-s001]Inauguradas na segunda metade do século XIX com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico na região, em especial, após a criação e consolidação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, as rampas do Palácio e Campos Melo (esta última que recebeu este nome em referência ao ex-presidente de Província do Maranhão e de Alagoas, Antônio Manoel de Campos Melo), foram estruturas em paralelo e essenciais para o atracamento e ancoragem de embarcações em período importante da cidade. Foi a partir de suas concepções que, por exemplo, anos mais tarde se fixaria a região da Praia Grande (pela presença, em especial, do Mercado das Tulhas) como um dos espaços de maior efervescência da econômica ludovicense.

A “Campos Melo”, como é lembrada até hoje por usuários do Cais da Praia Grande, facilitou a introdução ainda à navegação a vapor e evitou que passageiros, ao trazerem as mercadorias vindas dos barcos e navios para o continente, literalmente, não chegassem impregnados de “lama da maré”, já que com a rampa o acesso para a via terrestre foi dinamizada. Para entender a importância das rampas do Palácio e Campos Melo, é necessário voltar dois séculos antes de sua construção, mais precisamente no século XVII.

De acordo com “São Luís, Fundamentos do Patrimônio Cultural”, de Ananias Martins (lançado no início do século XXI e reeditado em 2012), o traçado urbano de São Luís era considerado “peculiar” entre as cidades portuguesas há cerca de 400 anos. Após vencer a batalha, em 1615, Alexandre de Moura determinou que Jerônimo de Albuquerque seria o novo “comandante da colônia” recentemente descoberta.

[e-s001]Com a medida, coube ao engenheiro militar Francisco de Frias o planejamento das ruas e avenidas da cidade. Segundo planta da cidade de São Luís, de 1641 (quase 30 anos após a descoberta oficial da Ilha), era possível ter noção do antigo forte do território recentemente povoado. Alexandre de Moura muda o nome do Forte de São Luís para São Felipe.
Foi a partir deste forte que, na primeira metade do século XIX, há registros da primeira rampa de acesso aos passageiros.

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De acordo com pesquisa feita por O Estado, a estrutura era vista entre o viaduto do Palácio dos Leões e a atual sede da Capitania dos Portos do Maranhão. Este acesso foi originário, de acordo com Ananias Martins, de outra rampa - feita no mesmo local e que dava acesso à Praça Pedro II. “Era por meio desta rampa mais antiga [rampa do Palácio] que, por exemplo, chegavam produtos vindos de diferentes partes, em especial de Portugal, para os responsáveis pela então colônia”, explicou o historiador Ananias Martins.

Navegação favorável
Por estar situada em uma área de golfo com a influência de diferentes rios, como o Mearim, o Pindaré, o Itapecuru e o Munim, todas as condições de navegabilidade eram vistas na capital maranhense para que ela se tornasse uma das regiões portuárias mais propícias da região.
Se no século XVII, o tráfego pelas águas se resumia a lanchas, jangadas e outros tipos, no início do século XIX, com o erguimento do cais do “Baluarte do Palácio” à “Ponta dos Remédios”, a partir de 1841 e com a abertura dos Portos pelo governo imperial anos antes, em 1808, o fluxo de navegações das mais variadas origens (portugueses, espanhóis, suecas, dentre outras) aumentou. Na segunda metade do século XIX, com os navios a vapor, ficou mais fácil a locomoção pelo Canal do Boqueirão.

[e-s001]​Rampa do Palácio
Considerado um porto de embarque para a navegação fluvial em São Luís até o início do século XX, a rampa do Palácio era vista no Cais da Sagração, nos arredores do Palácio dos Leões, sede administrativa do Governo do Estado. Era pela vasta rampa que era possível o acesso aos barcos para embarque e desembarque. Há poucos registros históricos acerca da estrutura, no entanto, é possível saber que, a partir do aterramento do Cais, surgiu a Avenida Beira-Mar.
A rampa do Palácio também foi cenário de várias despedidas, já que as embarcações com destino a cidades que apresentavam relativa estrutura portuária, como Codó e Caxias, carregavam passageiros que se despediam de seus parentes e amigos nos arredores da rampa. Algumas das despedidas marcantes ficaram na memória da cidade.

A transformação da rampa em cais

Com a decadência das rampas Campos Melo e do Palácio, em especial, após o processo de aterramento que originou a Avenida Beira-Mar, surgiu após iniciativa do governo local o Cais da Praia Grande. O que deveria ser atualmente um ponto turístico e de referência dos visitantes que querem visitar a cidade de Alcântara, de grande apelo de curiosidades, se tornou um ponto de desordem e de reclamações. Várias pessoas questionam, por exemplo, a condição do Cais.

Por causa do processo de assoreamento devido à localização da cidade - cujos dejetos em períodos de chuva deságuam nos rios Anil e Bacanga nos arredores de onde antigamente as embarcações atracavam - o número de saídas do Cais da Praia Grande diminuiu de forma considerável. Em dias de feriado, por exemplo, estima-se pouco mais de cinco viagens, levando pessoas que querem ir à Alcântara a passeio ou mesmo transportando moradores da região que vem à Ilha em busca de alimentos e outros mantimentos.

Recentemente, o Governo do Maranhão informou que o Cais recebeu serviços de melhorias, com a viabilização de rotas para facilitar a acessibilidade e garantir a limpeza. Também foram colocadas grades para incrementar a segurança, segundo a Agência de Mobilidade Urbana. Se na teoria, o Governo executou melhorias na estrutura do local de embarque e desembarque, na prática, há dificuldades e reclamações.

O principal motivo de crítica é com a falta de informações para os turistas. No Cais, há apenas um mapa antigo da cidade. Pessoas que visitam a cidade pela primeira vez questionam, por exemplo, a ausência de um profissional que facilite a descrição da cidade. “Falta melhor informação por aqui. Eu como não conheço o Centro sinto falta de alguém que possa me orientar”, disse Alline Feitosa, que reside atualmente na cidade de Belém e que aproveitou a visita à Ilha para um passeio de barco.

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