Estudo do Ipea

Mulheres dedicam muito mais tempo ao trabalho doméstico

Segundo o Ipea, entram no cálculos o tempo dedicado ao trabalho remunerado, não remunerado e tempo de deslocamento casa-trabalho-casa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Para as mulheres, o fato de ser casada e ter filhos reduz sua jornada de trabalho em 2 horas e 6 horas, respectivamente, segundo o estudo do Ipea
Para as mulheres, o fato de ser casada e ter filhos reduz sua jornada de trabalho em 2 horas e 6 horas, respectivamente, segundo o estudo do Ipea (trabalho domestico)

São Paulo - Estudo do Ipea revela que as mulheres trabalham mais horas semanais que os homens: 47 horas contra 45 horas, de acordo com dados de 2015. Nos cálculos, entram o tempo dedicado ao trabalho remunerado, não remunerado e tempo de deslocamento casa-trabalho-casa. A composição desse tempo permanece desigual entre os sexos, com as mulheres dedicando 18 horas por semana a mais aos afazeres domésticos.
Os dados mostram que, de 2001 a 2015, as mulheres aumentaram em 7 horas semanais o tempo disponível para lazer, enquanto que, para os homens, esse aumento foi de 4 horas. Para elas, isso se deve à diminuição no tempo gasto com trabalhos domésticos. Já para eles, o motivo é a redução no tempo destinado ao trabalho remunerado.

Afazeres
Durante todo o período analisado, a proporção de mulheres que realizam afazeres domésticos ficou acima de 91%. Já entre os homens, ela variou de 45% em 2001 para 55% em 2015. “O que chama a atenção nos dados é que, enquanto o tempo dedicado aos afazeres domésticos entre as mulheres se reduz de forma acentuada ao longo do tempo, a jornada de trabalho doméstico entre os homens aumenta pouco”, destaca a pesquisadora do Ipea e autora do estudo, Ana Luiza Neves de Holanda.
A pesquisa, realizada com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), revela algumas mudanças importantes nos últimos anos em relação ao uso do tempo dedicado ao trabalho remunerado e aos afazeres domésticos. Por um lado, há um aumento nas horas remuneradas entre as mulheres de 2001 até 2014 (de 21 horas para 23 horas semanais) e uma redução em 2015 (voltando para 21 horas semanais). Os homens, por outro lado, apresentaram uma redução no trabalho remunerado de 5 horas semanais no período, passando de 40 horas em 2001 para 35 horas em 2015.

Deslocamento
A análise dos grupos demográficos, incluindo recortes de raça, escolaridade, vínculo conjugal e indivíduos com filhos ou não, revela que o maior impacto positivo no tempo gasto com trabalho remunerado é, para elas, a escolaridade: as com ensino superior completo trabalham, em média, 8h a mais que as sem ensino superior por semana. Já para eles, o fato de ser casado aumenta esse tempo em 6 horas, e de ter filhos entre 0 e 4 anos aumenta em uma hora. Para as mulheres, o fato de ser casada e ter filhos reduz sua jornada de trabalho em 2 horas e 6 horas, respectivamente. “Em outras palavras, é interessante observar que, para as mulheres, a estrutura familiar impacta negativamente nas suas horas dedicadas ao trabalho remunerado, enquanto que, para os homens, esse impacto é positivo.”
A pesquisa também captou, para o período de 2001 a 2015, o tempo médio de deslocamento casa-trabalho-casa. Entre os homens, a média nacional ficou entre 3 horas e 4 horas semanais. Entre as mulheres, a média das horas gastas ficou perto de 2 horas. De forma ainda preliminar, a pesquisadora analisou se as mudanças demográficas ao longo do período de análise - como redução da taxa de fecundidade, mudanças nos arranjos familiares, elevação do nível de escolaridade da população - foram fatores relevantes para explicar a evolução das horas de lazer e sua diferença por gênero apresentadas acima.
Os resultados do estudo sugerem que tais mudanças não são o fator preponderante dessa diferenciação. Uma possível explicação se deve a um aspecto comportamental dos indivíduos e que merece um estudo mais detalhado. “Por enquanto, tentamos excluir alguns aspectos. Mas o observado no Brasil não é caso isolado e já vem ocorrendo nos países ocidentais”, explica Holanda.

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