Operação

Mantido o cerco ao bando que infernizou a cidade de Bacabal no último domingo

Secretário Jefferson Portela diz que quadrilha que levou mais de R$ 100 milhões do Banco do Brasil era chefiada pelo baiano Zé de Lessa, que está foragido no Uruguai

Ismael Araújo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, chefe da quadrilha que infernizou Bacabal
José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, chefe da quadrilha que infernizou Bacabal (Zé de Lessa)

SÃO LUÍS - Mais de R$ 100 milhões foi quando os quadrilheiros que implantaram o terror na cidade de Bacabal, no último domingo, teriam levado da agência do Banco do Brasil. A informação foi repassada ontem pela cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP) em coletiva ocorrida na sede da SSP, na Vila Palmeira. A quadrilha, segundo o secretário Jefferson Portela, foi coordenada por José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, procurado da Polícia Federal (PF) e que estaria foragido no Uruguai. Ele é chefe de um dos bandos mais violento da Bahia, conhecido como Bonde do Maluco (BDM).

Ainda de acordo com o secretário, o soldado do Corpo de Bombeiros Militar, Luís Gustavo Lima Mendes, e o soldado da Polícia Militar do Piauí, André dos Anjos de Sousa, foram presos sob acusação de terem furtado dinheiro deixado pelos bandidos. Eles serão investigados pela Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic). Funcionários do Banco do Brasil também serão chamados para depor por não terem pedido apoio à SSP, já que havia um volume grande de dinheiro na agência.

Quadrilha

A polícia informou, também, que cerca de 30 homens teriam participado da ação criminosa que resultou na morte de três bandidos e de um morador, identificado como Cleonir Borges Araújo, e que deixou um rastro de destruição em Bacabal. A delegacia regional e o quartel da Polícia Militar foram metralhados, sete veículos incendiados. A agência do Banco do Brasil, segundo a polícia, que é o centro distribuidor de dinheiro da região do Médio Mearim, foi destruída pela explosão.

O secretário da SSP, delegado Jefferson Portela, confirmou que essa ação foi planejada por Zé de Lessa, com participação direta de seu irmão, Edielson Francisco Lumes, o Dó ou Titi, que foi morto no confronto com os policiais militares na madrugada de segunda-feira, 26, em Bacabal. Esse bando tem base o estado da Bahia, mas age em todo o Norte e Nordeste, com ligação com uma facção criminosa de São Paulo.

Ainda de acordo com Portela, essa organização criminosa é composto por 78 membros entre homens e mulheres. Eles são especializados em assalto a instituições financeiras e explosão de veículo de transporte de valores. Em cada estado a um representante dessa quadrilha. “A polícia já conseguiu identificar os elos dessa organização no Maranhão que devem ser presos a qualquer momento”, disse o secretário.

Cerco policial

Portela informou que as incursões continuam no interior do estado, principalmente nas imediações das cidades de Itapecuru-Mirim, Vargem Grande, Coroatá, Caxias, Pedreiras, Santa Inês e Bom Jardim.

Ele afirmou que caso ocorra algum tipo de prisão ainda esta semana vai ser considerada como flagrante devido os policiais estarem em operação contínua no estado desde a data do crime. A polícia já solicitou ao Poder Judiciário a ordem de prisão de alguns suspeitos já identificados.

O secretário explicou que o soldado do Corpo de Bombeiros Militar, Luís Gustavo Lima, foi preso ontem após devolver a quantia de R$ 5 mil, dinheiro deixado pelos bandidos, que havia furtado no local. Além desse profissional de segurança, o soldado da Polícia Militar do Piauí, André dos Anjos, foi preso em companhia de mais sete pessoas também acusadas de cometerem o mesmo crime.

O secretário informou, ainda, que um professor, nome não revelado, entregou a quantia de R$ 1 milhão na delegacia regional de Bacabal. Também um pedreiro teria entregue ontem um valor alto, proveniente dessa ação ilegal. Há informações de que um policial de outro estado teria sido conduzido ontem para a delegacia, em Bacabal, portando uma arma de fogo, e que seria investigado pela Polícia Civil.

Investigação

“A Secretaria de Segurança Pública não sabia que havia um valor acima do esperado no Banco do Brasil de Bacabal no último domingo”, afirmou Portela. Segundo ele caso soubesse da real quantia depositada na instituição financeira teria enviado um policiamento reforçado para aquela região e que deixaria, inclusive, o Comando de Operações de Sobrevivência em Área Rural (Cosar) em alerta.

Funcionários do Banco do Brasil deverão ser intimados para prestarem esclarecimentos sobre esse fato na Delegacia Regional de Bacabal e também na Seic. “O correto era a polícia ter tido ciência do valor que estava no cofre do banco. Esse fato precisa ser esclarecido”, disse Portela.

IML

Os corpos dos três criminosos que morreram durante o confronto com a polícia em Bacabal foram trazidos para autópsias no Instituto Médico Legal (IML), em São Luís. De acordo com a polícia, no momento da ação, eles portavam documentos falsos.

Um deles, irmão de Zé de Lessa, identificado como Edielson Francisco Lumes, estava com uma carteira de identidade falsa com o nome de José Francisco Silveira de Araújo, natural de Sergipe.

O criminoso Walley dos Reis Sousa, natural de Castanhal, no Pará, estava portando uma identidade com o nome de Rafael Atila Sá Mendes, da cidade de Pinheiro. O terceiro bandido morto foi identificado como Gean Martins Rocha, natural do estado do Tocantins. Até o período da tarde de ontem somente os familiares de Walley dos Reis tinham comparecido ao IML.

Saiba mais

Facção criada em presídio na Bahia

O Bonde do Maluco (BDM), comandado por Zé de Lessa, surgiu em 2015 em um presídio de Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura e tem ramificação na facção Caveira, liderada pelo criminoso Genilson Lima da Silva, o Perna, que, no momento, está preso no presídio Federal de Catanduvas, no Paraná.

Zé de Lessa, que é acusado de assaltos a instituições financeiras, já foi preso várias vezes. Ao sair do presídio, foi morar na cidade de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, de onde, segundo a polícia, passou a enviar carregamentos de drogas para abastecer sua quadrilha na Bahia. Ainda de acordo com a polícia, ele criou o BDM dentro da cadeia e se tornou rival do grupo criminoso Katiara, que é comandado pelo criminoso conhecido como Roceirinho. Ele passou a disputar pontos de droga com o rival.

Correlata

Em nota, entidades

manifestam indignação

Ainda ontem foi publicado no blog do jornalista e coordenador de O Estado, Daniel Matos, duas notas das entidades que representam os profissionais da área de Segurança Pública sobre o ataque ao Banco do Brasil de Bacabal. O Sindicato dos Policiais Civis (SINPOL), por meio de nota, manifestou indignação com o crime e informou que no momento da invasão da cidade por uma quadrilha fortemente armada apenas uma investigadora estava de plantão na Delegacia Regional. Já a Associação dos Policiais Militares da Região do Médio Mearim (Aspommem) condenou a vulnerabilidade do policiamento no município e parabenizou os policiais que enfrentaram o bando, mesmo em condições desfavoráveis.

O SINPOL lembrou que em março deste ano sua diretoria visitou a delegacia regional de Bacabal e constatou o baixo efetivo e a falta de investimento em inteligência policial. Reiterou que tem denunciado o descaso do governo Flávio Dino para com a segurança pública, reafirmando que a atual gestão investe menos de 1% na Polícia Civil. A entidade denunciou, ainda, a perseguição que investigadores e escrivães sofrem dentro da instituição, embora trabalhem na legalidade.

A Aspommem, após fazer um relato da barbárie, ressaltou que o episódio expôs a fraqueza do sistema de segurança pública, “notadamente em decorrência da falta de um sistema de inteligência eficiente, capaz de trocar informações e monitorar previamente a ação dos delinquentes, a fim de evitar a ação”. A entidade que representa os PMs de Bacabal e região também chamou atenção para o baixo efetivo, o armamento discrepante, o péssimo sistema de comunicação via rádio VHF (analógico) e a falta de planejamento para o combate a assaltos a bancos. A estidade parabenizou os bravos policiais que defenderam a cidade e seus habitantes e reforçou o clamor para que o sistema de segurança tenha a devida atenção.

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