Crise

Rússia resiste a liberar navios, e presidente da Ucrânia decreta lei marcial

Europa pressiona Moscou a soltar marinheiros após ataque e detenções na disputada área da Península da Crimeia; as relações entre o governo russo e Kiev estão estremecidas desde 2014

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27

MOSCOU E KIEV — Pressionada por potências europeias que a acusam de violar tratados internacionais e ferir a soberania da Ucrânia, a Rússia resiste a liberar os dois navios militares ucranianos e um rebocador apreendidos no domingo,25. As forças russas abriram fogo contra a tripulação dos navios e capturaram as embarcações e 24 marinheiros após bloquearem o Estreito de Kerch, que liga o território russo à Península da Crimeia. O incidente causou novo foco de tensão entre os dois países.

As relações entre Moscou e Kiev estão estremecidas desde 2014, quando a Rússia anunciou a anexação da Crimeia, território que havia sido cedido à Ucrânia no período soviético, e deu apoio a separatistas no Leste ucraniano. Diante do que chamou de "ato de agressão" russo, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, convocou reunião do gabinete de guerra e assinou um decreto impondo a lei marcial no país por 30 dias. A medida seria votada ontem pelo Parlamento.

A medida de urgência fez comentaristas da televisão ucraniana especularem sobre uma suposta intenção de Poroshenko de adiar as eleições presidenciais de março de 2019. O baixo índice de popularidade indica poucas chances de o presidente conseguir a reeleição. Políticos russos acusaram o ucraniano de provocar o incidente para obter ganhos políticos. Questionado, o presidente destacou que o pleito ocorrerá como previsto.

Invasão

As autoridades russas afirmam que os navios invadiram seu mar territorial e que agiram estritamente dentro da lei. Os marinheiros teriam ignorado advertências das forças russas e realizado "manobras perigosas" no local. O serviço de segurança russo (FSB) confirmou que três militares ficaram feridos e receberam atendimento médico. "Com o propósito de forçar a parada dos navios ucranianos, armas foram usadas", reportou o FSB.

Segundo Moscou, a Ucrânia não avisou com antecedência da trajetória dos navios, que partiram de um atracadouro em Odessa rumo ao Mar de Azov, ligado ao Mar Negro pelo Estreito de Kerch e no qual os dois países têm disputas territoriais. Os russos bloquearam a passagem com uma embarcação de carga — posicionada em frente à Ponte de Kerch, construída por Moscou para ligar a Rússia à Crimeia depois da anexação da península. A Ucrânia alega ter enviado todas as notificações exigidas pela lei internacional antes de os navios zarparem.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Organização das Nações Unidas (ONU), que não reconhecem a anexação russa da Crimeia, pediram moderação e a reabertura do Estreito de Kerch. As duas organizações apontaram violações à soberania, à integridade territorial e aos direitos de navegação de Kiev no episódio. A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, informou pelo Twitter que o Conselho de Segurança das Nações Unidas vai se reunir para discutir a crise.

O porta-voz da primeira-ministra britânica, Theresa May, condenou o "ato de agressão" da Rússia contra a Ucrânia, e afirmou que o incidente é mais uma evidência do que chamou de comportamento "desestabilizador" de Moscou. Ela defendeu o direito de livre passagem da Ucrânia no Mar de Azov.

Um comunicado publicado no site de Poroshenko cita mensagem da chanceler alemã, Angela Merkel, que "expressou preocupação" com o uso de armas e prometeu "fazer de tudo" pela distensão. A Polônia pediu a imposição de novas sanções contra a Rússia.

"Nada parece justificar o uso da força pela Rússia. Nós apelamos à Rússia que liberte os marinheiros ucranianos e devolva os navios apreendidos o mais breve possível", ressaltou em comunicado o Ministério das Relações Exteriores da França.

Captura

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, condenou a captura das embarcações ucranianas no Estreito de Kerch, em ligação telefônica a Poroshenko, e ressaltou que a Rússia deve parar com as "provocações".

"A Europa ficará unida em apoio à Ucrânia", disse Tusk. A Rússia ignorou os apelos europeus e culpou a Ucrânia pela crise. Segundo Moscou, a invasão de suas águas deve-se a uma "política de provocar conflito" coordenada com os Estados Unidos e a União Europeia.

"É óbvio que esta meticulosamente pensada e planejada provocação foi destinada a inflamar outra fonte de tensão na região, a fim de criar um pretexto para aumentar as sanções contra a Rússia", afirmou o Ministério das Relações Exteriores russo, em comunicado.

Acusação

Kiev há tempos acusa Moscou de conduzir inspeções longas e custosas e de deter navios comerciais ucranianos no Mar de Azov, que é crucial para o escoamento da produção de cereais e aço do Leste da Ucrânia. Os dois lados capturaram navios pesqueiros um do outro este ano.

O rublo iniciou o pregão 1,4% mais fraco que o dólar em Moscou, o valor mais baixo desde meados de novembro. Os títulos russos atrelados ao dólar recuaram, diante da escalada da tensão. Os mercados estão altamente sensíveis a qualquer possível indicativo de novas sanções ocidentais contra Moscou, o que enfraqueceria a economia russa. A queda no preço do petróleo - a maior fonte de renda da Rússia - tornou as finanças do país mais vulneráveis.

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