Qualidade da carne

Pesquisa do IFMA utiliza torta de babaçu em dieta de caprinos

A pesquisa tem a proposta de reduzir os custos da ração dos caprinos com uma dieta equilibrada à base de torta de babaçu; pesquisadores estão trabalhando com quatro grupos de animais; a proposta é fomentar a cadeia de consumo de carne caprina

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Animais recebem na dieta alimentar a torta de babaçu, conforme pesquisa do IFMA
Animais recebem na dieta alimentar a torta de babaçu, conforme pesquisa do IFMA (Divulgação)

SÃO LUÍS - Professores e estudantes do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus São Luís-Maracanã estão realizando uma pesquisa que testa o nível de inclusão de torta de babaçu na dieta de caprinos de corte. A proposta é reduzir os custos da ração com uma dieta equilibrada que possibilite melhorar a qualidade da carne desses animais.

Para isso, os pesquisadores estão trabalhando com quatro grupos de animais. Cada grupo recebe um tipo de ração: ração sem a torta de babaçu, ração com 6% de torta, ração com 12% e, por último, ração com introdução de 18% da torta. A proposta é avaliar cada grupo em duas etapas de pesquisa: confinamento dos animais e, após o corte, na fase laboratorial.

A pesquisa está sendo desenvolvida entre o IFMA Campus São Luís-Maracanã, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuárias (Embrapa Cocais) e a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). A coordenação da pesquisa é do professor do IFMA Cutrim Júnior e do pesquisador da Embrapa Cocais, Joaquim Costa, com colaboração do professor Danilo Brito, do IFMA Campus São Luís-Maracanã e dos estudantes do Campus.

A demanda surgiu a partir de uma necessidade dos trabalhadores da Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco (COPPALJ) que trabalham com o coco babaçu e queriam produzir uma ração comercial para caprinos que pudesse ser vendida na região e, assim, aumentasse a renda familiar. Foi então que surgiu a ideia de aproveitar a torta de babaçu, coproduto do beneficiamento do babaçu para a produção de óleo. Essa é a primeira vez que a torta de babaçu está sendo testada na dieta de caprinos no Maranhão.

Produto regional

A proposta é fomentar a cadeia de consumo de carne caprina no Estado por meio de uma dieta à base de um produto regional em abundância, pois isso reduz os custos na parte nutricional já que numa pesquisa de confinamento a dieta dos animais é a que possui os gastos maiores.

“Antes os produtores vendiam a torta in natura (sem a introdução de outros ingredientes apropriados para a ração), assim não era uma dieta equilibrada, pois não supria as necessidades nutricionais do animal. É nessa fase que entra a nossa pesquisa, pois estamos testando a introdução da torta de babaçu em níveis diferentes. A pergunta norteadora do trabalho era o quanto de torta deveríamos usar nessa dieta para que os caprinos ganhassem peso”, explicou o professor Cutrim Júnior.

O professor explica que a proposta era gerar um produto (ração), utilizando torta de babaçu e outros ingredientes para suprir a exigência nutricional de caprinos para corte em fase de terminação para a região do Médio Mearim maranhense. “Esse é o nosso foco, mas podemos estender essa produção para o Estado todo, pois qualquer pessoa pode comprar a ração e oferecer uma dieta equilibrada para os seus animais”, avaliou.

Impacto

O professor do IFMA explica a relevância desse trabalho junto à comunidade que poderá ser beneficiada. “O grande trunfo dessa pesquisa é o impacto que ela pode ter em uma comunidade que usa a torta de babaçu de forma rústica e que agora pode usar a torta de forma mais direcionada a partir da inclusão de uma dieta balanceada e testada que pode fazer com que as vendas dessa ração aumentem, trazendo mais rentabilidade para aquela cooperativa. A venda desse produto pela cooperativa vai agregar valor à torta e vai gerar mais recurso para a cooperativa”, avaliou o professor.

Cutrim Júnior explica que a participação dos alunos tem sido fundamental no desenvolvimento do trabalho, pois eles têm uma rotina de setor que possibilita a continuidade das atividades. “Todo aluno faz um regime de plantão no setor para tomar conta das atividades do dia a dia. Como nós temos atividades de pesquisa, os alunos estão envolvidos em todas as ações, como limpeza das baias, bebedouros, formulação das rações, avaliação dos animais para verificar o peso e as medidas morfométricas. Tudo que será realizado é feito pelos alunos. A gente só faz o planejamento com datas e isso também discutimos com eles para que não interfira no desempenho acadêmico deles”, explicou.

O estudante do curso técnico em Agropecuária subsequente, Lucas Rocha, disse que nunca havia participado de um experimento antes e gostou dessa experiência. “Para mim está sendo gratificante, porque eu vim do interior (Tufilândia – Vale de Pindaré Mirim) e estou adquirindo experiência com um produto que não é difícil de encontrar no Maranhão. Isso faz com que a gente aprenda e leve adiante”, declarou.

Já Eduardo Reis, do curso superior em Zootecnia, afirmou que a experiência tem sido positiva porque há um conhecimento prático no processo de aprendizagem. “Eu tenho aprendido várias técnicas de manejo com animais. Algumas prevenções de doenças. A gente acaba tendo a rotina diária de um produtor. Eu sempre tive interesse nessa parte animal, porque eu vim de uma região que tinha bastante produtores, Coroatá, aí lá sempre tinha criadores de caprinos. Comecei como voluntário e depois me tornei bolsista”.

Parceria IFMA e Embrapa Cocais

A inclusão da torta de babaçu na dieta de caprinos no Maranhão é um projeto que tem a parceria da Embrapa Cocais a partir de uma demanda do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O Programa realiza ações com a Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco (COPPALJ), na região do Médio Mearim, a partir de um projeto chamado Bem Diverso.

“Nesse projeto surgiu uma demanda com a proposta de buscar uma dieta para caprinos que pudesse ser utilizada por essa comunidade. A ideia é que essa cooperativa pudesse produzir uma ração para vender na região. Então eles procuraram a Embrapa Cocais para viabilizar essa proposta de produzir uma ração comercial, e como a Embrapa não tinha a estrutura física, eles nos procuraram, já que temos uma estrutura física e acadêmica para executar o projeto”, explicou Cutrim Júnior.

O pesquisador na área de produção animal da Embrapa Cocais, Joaquim Costa, explica que essa pesquisa é de grande importância para o Estado do Maranhão. “Essa iniciativa se destaca por ser realizada no Maranhão com um coproduto do babaçu, a torta, elaborada por comunidades do Estado. Já há pesquisas desenvolvidas nessa área, porém, foram realizadas por instituições de outros estados e na maioria delas, os coprodutos do babaçu foram adquiridos fora. No caso desse projeto, os coprodutos foram adquiridos na Região do Médio Mearim”, disse.

O professor e pesquisador do IFMA, Cutrim Júnior, explica que nessa fase do trabalho estão sendo testados parâmetros de consumo, de desempenho, de comportamento digestivo, sanguíneo e ruminais dos caprinos. “O trabalho está ainda no início, com uns 30% da pesquisa realizada. Estamos coletando dados ainda. O que já percebemos até agora é que há uma aceitação melhor e um consumo maior dos animais que recebem a dieta que tem mais torta, com 18%. O padrão que a gente avalia é o que sobra do cocho. A gente bota a comida num dia e no outro dia a gente vai ver o que sobrou do dia anterior. E se um animal tem maior ingestão de uma determinada dieta isso está ligado a um maior desempenho e essa correlação é positiva. Maior ingestão, maior peso diário, maior peso final, consequentemente, você tem uma melhor estrutura de carcaça”, analisou.

Joaquim Costa destacou alguns impactos positivos da pesquisa. “1) O conhecimento da bromotalogia do coproduto torta de babaçu, da região do Médio Mearim Maranhense, pois a composição desses coprodutos pode variar bastante de acordo com a matéria prima, e o processo de extração do óleo. 2) Conhecimento sobre como será o consumo e o desempenho de pequenos ruminantes recebendo dietas com inclusão de torta de babaçu 3) Agregar valor à torta de babaçu, gerando mais renda e beneficiando diretamente as comunidades que trabalham com esse coproduto que tem ampla produção no estado do Maranhão”, explicou o pesquisador da Embrapa Cocais.

Parceria IFMA e Univasf

Após a fase de campo do trabalho no IFMA Campus São Luís-Maracanã, que deve durar 77 dias e será finalizará com o corte dos animais, a pesquisa seguirá para a parte laboratorial, momento em que serão analisados o material consumido para verificação do valor nutricional das sobras, a digestibilidade dos animais, a análise da carne e da carcaça. Em seguida, haverá uma fase pós-laboratorial que será desenvolvida por Thamys Oliveira, estudante do Mestrado em Ciência Animal da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), localizada em Petrolina (PE). Ela é ex-aluna do IFMA Campus São Luís-Maracanã, do curso superior em Tecnologia de Alimentos.

Thamys Oliveira explica que sua rotina nessa fase de campo é avaliar as sobras da ração para fazer os ajustes diários do consumo dos caprinos. “Eu peso a ração diariamente e, através desse percentual de sobra, eu vou oferecer para esse animal a manutenção da quantidade que eu preciso, o aumento ou a diminuição. Tem que observar se o animal está ingerindo água e se está em condições adequadas. A gente faz um cronograma de atividades e realiza a quantificação de dados para que futuramente tenhamos tudo catalogado”, explicou a estudante.

A estudante avalia que a pesquisa vai trazer para os pequenos produtores do Médio Mearim a possibilidade de utilizar um ingrediente que é bem comum no Maranhão. “Isso vai trazer para o pequeno produtor uma nova alternativa alimentícia, então ele pode utilizar a torta para agregar valor qualitativo, porque atualmente há um entrave muito grande na produção de caprino e ovinos no Estado, porque a gente não consegue alavancar esse mercado nacional”. E completou: “É importante que essa pesquisa esteja sendo feita no Maranhão, porque nós temos infinitas possibilidades e, infelizmente, as coisas têm ficado mais difíceis para as pesquisas a nível nacional. E é importante a popularização da ciência e, nesse trabalho, estamos conseguimos integrar alunos do superior e técnico”.

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