Arte desvalorizada

Murais de São Luís: os sobreviventes e os esquecidos

Antigos registros da arte de rua, com inspirações na arte moderna, ainda podem ser vistos na cidade, no entanto, a divulgação precária dificulta a percepção da população

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Obra  de Rosilan Garrido foi retirada da praça e seu destino é incerto
Obra de Rosilan Garrido foi retirada da praça e seu destino é incerto (Arte de Rosilan Garrido)

São Luís não é somente conhecida por seu rico acervo arquitetônico, sua história, seus costumes, lendas, mistérios e manifestações culturais. É também lembrada por visitantes e, principalmente, por antigos moradores pela presença em pontos da cidade de registros de arte de rua que, em sua maioria, é inspirada nos principais nomes da modernidade. Em prédios públicos ou em monumentos existentes, os murais são uma forma de valorização dos hábitos populares que não receberam, nos tempos atuais, a devida atenção do poder público e da população em geral. Os murais que ainda sobrevivem ao descaso estão descaracterizados e sem qualquer referência acerca de sua concepção física.

Estes espaços democráticos de manifestação da arte começaram a surgir a partir da década de 1970 por iniciativa própria ou dos gestores da cidade à época. O objetivo era inspirar novos atores da produção cultural e valorizar para o público os hábitos que tornam a cidade de São Luís única no país. As imagens buscavam a essência do maranhense e ludovicense, desde o homem do campo, passando pela mulher quebradeira de coco e mãe de família ao sertanejo e tocador de rebanho.

Outro costume bastante valorizado nos antigos murais da cidade era o hábito da cultura agrícola. Em vários destes espaços, o chamado “homem do campo” também era representado. As cores das figuras eram milimetricamente escolhidas e produzidas pelos artistas que, apesar de receberem remuneração dos contratantes, produziam os murais por “puro amor à arte”.


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A maior parte dos murais de rua de São Luís foi fixada em pontos referenciais, ou seja, em prédios e monumentos da região central da cidade. Alguns deles viraram cartões-postais e se uniram a estruturas de uso comum da população. Mesmo valorizados até o início da década de 1990, a concepção de murais foi caindo em desuso e, nos tempos atuais, se resume a desleixo e falta de incentivo.

O mural perdido
Em 1991, após a passagem do papa João Paulo II por São Luís, Rosilan Garrido - que atualmente leciona no Departamento de Arquitetura da Universidade Estadual do Maranhão (Uema) - recebeu a seguinte missão: retratar em formato de mural o valor de Maria Aragão em trabalho que seria exposto na praça de mesmo nome da médica. Foi aí que Rosilan decidiu buscar inspiração na força da mulher ludovicense (de todos os gêneros e das mais diferentes faixas sociais e etárias). Várias mulheres feitas de forma tridimensional, dando dinamismo e realçadas em amarelo para dar destaque compunham o trabalho, que deu lugar à atual configuração da praça, projetada por Oscar Niemayer.

O mural era visto no antigo palco e é motivo de orgulho de Rosilan. “Foi um trabalho feito após a peça feita para o papa João Paulo, cuja elaboração contou com a participação de nomes como Miguel Veiga e Marlene Barros”, disse. A artista informou que jamais soube o que aconteceu com o mural, que recebeu o nome de “Mulher”. A última informação é que o trabalho estava em um depósito de um órgão da Prefeitura. Até o fechamento desta edição, O Estado não descobriu o destino do mural. “Eram peças de ferro estilizadas, um trabalho que fez parte da configuração visual de uma das partes mais importantes da cidade”, afirmou.

O mural é, atualmente, lembrando por quem viveu o auge da infância e adolescência no início dos anos 90. Vários shows e apresentações culturais em geral usaram como plano de fundo a arte de Rosilan Garrido.

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