Violência

Ativistas presos são torturados na Arábia Saudita, diz Anistia

Mulheres que defenderam direito de dirigir são submetidas a choques, golpes e abusos sexuais, segundo organização internacional que obteve os depoimentos de três fontes diferentes e que eles são consistentes na história dos abusos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Manifestante com a máscara do príncipe Mohammed bin Salman participa de protesto
Manifestante com a máscara do príncipe Mohammed bin Salman participa de protesto (Reuters)

DUBAI - Descargas elétricas, golpes, abusos sexuais, a lista remete a torturas às quais são submetidos prisioneiros das ditaduras mais severas. Segundo denuncia a Anistia Internacional, esse é o tratamento que estão recebendo os ativistas de direitos humanos na Arábia Saudita, inclusive mulheres que lutaram pelo direito de dirigir e que foram detidas desde maio passado, pouco antes de o reino permitir que conduzissem veículos. Vários deles ainda não foram formalmente acusados nem têm acesso a um advogado.

“Os ativistas têm sido repetidamente torturados com descargas elétricas e chicotadas, o que deixou alguns incapazes de andar ou permanecer de pé”, asegura a AI em um comunicado difundido na internet. Um deles foi pendurado no teto. Outros têm tremores nas mãos permanentemente e marcas no pescoço. “Uma das detidas parece ter sido abusada sexualmente de forma repetida por interrogadores com máscaras”, acrescenta o texto.

A organização explica que obteve os depoimentos de três fontes diferentes e que eles são consistentes na história dos abusos. A situação é tão desesperadora que uma das ativistas tentou cometer suicídio em várias ocasiões dentro da prisão de Dhahban. Entre eles se encontram Loujain al-Hathloul, Eman al-Nafyan, a veterana Aziza al-Yusef, Samar Badawi, Nasima al-Sada, Mohamed al-Rabea e Ibrahim al-Modeimigh, que foram detidos em maio passado. Todos foram mantidos em solitárias e incomunicáveis pelos primeiros três meses. Além disso, os responsáveis pela prisão alertaram os detentos para não falar sobre o abuso até mesmo para suas famílias.

"Apenas algumas semanas após o brutal assassinato de Jamal Khashoggi (jornalista assassinado dentro do consulado saudita em Istambul), esses horríveis relatos de tortura, assédio sexual e outras formas de abuso, se provadas, expõem violações ainda mais violentas dos direitos humanos pelas autoridades sauditas", disse Lynn Maalouf, diretor de pesquisa sobre Oriente Médio na AI.

Tortura e abuso

A Anistia lembra que tortura e abuso não são novos em prisões e centros de detenção sauditas, o que viola os compromissos internacionais do reino, que assinou a Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. No passado, numerosos detentos denunciaram a extração sob tortura de confissões que foram usadas para condená-los, sem que o sistema judiciário examinasse as acusações. A Arábia Saudita justifica esses excessos com a aplicação da lei islâmica (sharia).

Mas também no caso de ativistas, observadores e organizações de direitos humanos expressam sérias dúvidas sobre os crimes que lhes foram atribuídos. As autoridades sauditas, incluindo o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, durante sua última entrevista, acusam-nos de "traição" e de ajudar "serviços de inteligência estrangeiros", sem apresentar nenhuma prova. O caso motivou a preocupação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Detidos

Desde maio, pelo menos outras meia dúzia se juntaram à lista de detidos, incluindo a professora Hatoon al-Fassi, que na semana passada recebeu o reconhecimento internacional com o Prêmio de Liberdade Acadêmica da Associação de Estudos do Oriente Médio. Em sua última entrevista ao "El País", logo após obteve sua carteira de motorista, al-Fassi confidenciou seu medo de ser presa. Ela era uma das poucas ativistas conhecidas fora do país que ainda estavam em liberdade.

A extensão da repressão teve consequências imediatas sobre a já limitada liberdade de expressão, tornando mais difícil para os sauditas denunciarem prisões ou abusos.

A Anistia pede a libertação imediata dos ativistas detidos e responsabiliza as autoridades sauditas pelo seu bem-estar. "Não só eles foram privados de sua liberdade por meses apenas por expressarem suas opiniões de maneira pacífica, mas estão sendo submetidos a terríveis sofrimentos físicos", denuncia Maalouf.

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