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Oferta de alugueis gera ocupação por conta própria no estado

Dados do IBGE apontam que o Maranhão registra atualmente a segunda maior taxa do país de trabalhadores que são “donos do próprio nariz”; índice é retrato de momento de falta de oportunidades no mercado formal

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

[e-s001]Os muitos serviços de locação vistos em praças e outros espaços públicos de São Luís representam o momento vivido pelo estado, conforme aponta o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o órgão, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) que analisou o retrato do território do estado no cenário social no último trimestre, o Maranhão apresenta a segunda maior taxa do país de ocupados por conta própria. Segundo o levantamento, são 33,8% de pessoas que decidiram ser “donas de seus narizes”.

Neste caso, de acordo com a pesquisa, o dado pode ser levado em conta pelo aspecto da falta de oportunidades no mercado de trabalho já que, ainda de acordo com o IBGE, o estado possui a segunda maior taxa de desocupação de força de trabalho em potencial do Brasil - que abrange os que não estão vinculados formalmente a uma relação trabalhista que não procuraram emprego ou que procuraram, mas por quaisquer razões “não estão disponíveis para trabalhar”.

[e-s001]No aspecto dos valores daqueles que estão atuando no mercado de forma autônoma, o Maranhão é superado apenas pelo Pará no quesito. Destacam-se ainda os estados do Amazonas (33%), Piauí (31,9%), Amapá (31,5%), Bahia (29,4%), Acre (29,4%), Rondônia (29,2%), Sergipe (28,8%), Ceará (28,7%). Em contrapartida, estados como São Paulo (21,4%), Santa Catarina (22,1%) e Minas Gerais (22,9%) estão abaixo da média dos locais com grande número de trabalhadores informais.

“Há uma forte preocupação acerca destes dados. Existe atualmente um grande contingente populacional que está fora do mercado formal e que recorreu a outras atividades sem a assinatura da carteira para trabalhar”, disse o diretor da Unidade Estadual do IBGE no Maranhão, Marcelo Melo.

A informalidade também é representada com força no Maranhão quando se analisa o quadro de pessoas com carteira assinada. De acordo com o balanço do PNAD, o estado apresenta o maior percentual de trabalhadores sem o documento formal no setor privado no país. O recorte do terceiro trimestre deste ano aponta que 48,9% das pessoas estão nesta situação, ou seja, sem a previsão de recebimento por participação das empresas de benefícios considerados essenciais, como serviços previdenciários e outros assistenciais. “Há ainda os trabalhadores que, por alguma razão, se vinculam a determinados compromissos de trabalho, no entanto, não tem a carteira assinada pelo empregador. Com medo de perder o emprego, muitas vezes, este empregado não procura os órgãos de fiscalização e controle para efetuar a denúncia quanto ao seu patrão”, frisou Marcelo Melo.

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No quesito de registro de carteira assinada, estados como Piauí (45,9 %), Paraíba (45,1%), Pará (44,8%), Bahia (42,5%), Ceará (42,4%), Roraima (42,2%), Sergipe (39,9%), Rio Grande do Norte (38,6%) e Acre (37,7%) também são referência negativa.

Se o Maranhão é referência quanto à informalidade, pelos altos valores de pessoas sem carteira assinada, o estado é automaticamente protagonista de forma negativa quando o assunto é número de trabalhadores com carteira. Atualmente, ainda de acordo com o IBGE, o estado registra o menor percentual do país de trabalhadores com o documento. Dados do último trimestre apontam que apenas 51,1% das pessoas estão nesta situação.

Outros estados como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná registram, na mesma estatística, índices superiores a 80%. O Maranhão também lidera a estatística de pessoas desalentadas – ou seja – que poderiam trabalhar e que nem foi ao menos atrás de um emprego por razões distintas.

[e-s001]Criatividade, marketing pessoal e bom humor

Em qualquer oferta de serviço, o responsável deve primar pelo bom atendimento e, principalmente, criatividade na disponibilidade do bem ao consumidor. O mercado do entretenimento, com concorrência alta devido aos índices de informalidade, exige novas formas de tratamento entre empreendedor e cliente. Na oferta de bens para alugueis em áreas públicas da capital maranhense, o bom marketing pessoal e, principalmente, o estado de humor são peças fundamentais e fazem a diferença na aquisição de novos clientes.

Existem exemplos de trabalhadores da informalidade que entenderam este contexto e, no dia a dia, usam de mecanismos criativos para arrematar clientes. Talvez o melhor deles seja o do ex-cozinheiro, Casimiro Mendes Filho. Como trabalhador formal, atuou em cozinhas da cidade por mais de duas décadas e, há alguns meses sem emprego, decidiu investir em alugueis.

Além de sua simpatia, já que está sempre com um sorriso no rosto, o ex-cozinheiro - que até então ainda não havia desenvolvido suas aptidões na engenharia - projetou um quadriciclo feito com peças recicláveis e com capacidade de transportar até quatro adultos. O veículo está disponível nos fins de semana e feriados no Espigão Costeiro e é um dos principais atrativos do local. “Na verdade, quando comecei, tava oferecendo somente um pula-pula. Mas aí eu vi que todo mundo tava fazendo isso, decidi ir para outro caminho. Foi aí que tive essa ideia e, pelo jeito, pegou”, disse.


[e-s001]O aluguel do quadriciclo é ofertado há pelo menos seis meses na área de convivência entregue em 2014 e várias famílias usufruíram do passeio. “Eu trouxe toda a minha família, esposa e netos, para curtir a brisa aqui no Espigão. Nem sabia que tinha o serviço. Daí, o seu Casimiro atendeu a gente tão bem e os netos insistiram. Aluguei e gostei”, disse o aposentado Valter Ferreira. A neta dele, Maria Fernanda, aprovou. “Muito legal, quando eu puder vou dirigir também”, disse.

O ex-funcionário de grande marca ligada à construção civil, Celionaldo Correa, seguiu pela autonomia financeira por outra razão. Como no emprego anterior passava muito tempo longe de casa, ele decidiu largar o serviço e abriu um novo negócio: aluga motos elétricas para crianças. “Foi a melhor coisa que fiz na minha vida!”, disse. Celionaldo afirmou ainda que se preparou para o momento. “Fiz um planejamento financeiro, vi os prós e contras e decidi mudar de ramo. Estou hoje mais com a minha família que amo e, se soubesse, já teria feito isso há mais tempo”, afirmou.

SAIBA MAIS

Para sair da informalidade, uma das possibilidades é se tornar um microempreendedor individual (MEI). No país, de acordo com dados mais recentes do Portal do Empreendedor, estão registrados 7,7 milhões de MEIs. Estados como o Rio de Janeiro e São Paulo concentram os maiores contingentes de empreendedores deste tipo.
O MEI deve seguir alguns requisitos, como apresentação de faturamento de até R$ 81 mil por ano. O postulante não pode ser ainda sócio ou administrador de outra empresa.

Taxa de ocupados por conta própria
Pará - 34,6%
Maranhão - 33,8%
Amazonas - 33%
Piauí - 31,9%
Amapá - 31,5%
Bahia - 29,4%
Acre - 29,4%
Rondônia - 29,2%
Sergipe - 28,8%
Ceará - 28,7%

Fonte: PNAD/IBGE

Percentual de trabalhadores sem carteira assinada no setor privado do país

Maranhão - 48,8%
Piauí - 45,9%
Paraíba - 45,1%
Pará - 44,8%
Bahia - 42,5%
Ceará - 42,4%
Roraima - 42,2%
Sergipe - 39,9%
Rio Grande do Norte - 38,6%
Acre - 37,7%

Fonte: PNAD/IBGE

Percentuais de trabalhadores com carteira assinada

Maranhão – 51,1%
Piauí – 54,1%
Paraíba – 54,9%
Pará - 55,2%
Bahia – 57,5%
Ceará – 57,7%
Roraima – 57,8%
Sergipe – 60,1%
Rio Grande do Norte – 61,4%
Acre – 62,3%
Tocantins – 62,4%

Fonte: PNAD/IBGE

Taxas combinadas de desocupação e de força de trabalho em potencial

Maiores taxas
Alagoas (32,4%)
Maranhão (30,8%)
Bahia (27,3%)

Fonte: PNAD/IBGE

Menores taxas
Santa Catarina (8,5%)
Mato Grosso (10,5%)
Rio Grande do Sul (10,9%)

Fonte: PNAD/IBGE

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