Um dia inesquecível.
Falo de Mariana, caçula de três irmãs que se amam para sempre, uma filha, uma esposa, uma mãe, uma amiga, uma mulher que foi assassinada no dia 13 de novembro de 2016, mais uma vítima do feminicídio e de tantas outras Marianas que foram mortas de forma violenta por não aceitarem fazer o que seus agressores queriam e por serem vistas como objetos sexuais.
Se pudesse apagaria essa data da minha vida. Lembro os detalhes daquele assombroso fim de tarde, quando recebi uma ligação telefônica para ir ao Hospital São Domingos, e logo em seguida carregar a minha irmã nos meus braços com o corpo já rígido, cabelos úmidos e para assim de repente, naquela maca fria com o assassino segurando a minha mão, aos prantos fazer uma oração de desespero esperando o milagre.
Durante estes dois anos, nasceu um sonho no coração da minha mãe, a de usar a nossa dor em prol dessa causa, transformando o nosso luto em doação de amor, nascendo o projeto Somos Todos Marianas.
A triste realidade vivida pela nossa família não é um caso isolado, pois os números revelam que 12 mulheres são assassinadas por dia no Brasil, vítimas da violência e do feminicídio.
Existe uma resistência muito grande em incorporar a Lei do Feminicídio, pois nunca o criminoso é o homem racional para quem a lei é dirigida. Mas há uma tendência à desumanização do autor de tais crimes brutais, que pode ter tido “uma forte emoção”, ou alegar que estava sob o efeito de alguma droga, ou era efetivamente um pervertido sexual.
Além de abordagens marcadas por uma compreensão que reforça o lugar da mulher como responsável pela violência sofrida, afetando assim a memória das vítimas que não estão mais presentes para se defenderem e de seus familiares.
É preciso avançar para que as leis em defesa da mulher sejam rigorosamente aplicadas e que a Justiça cumpra o seu papel de defender a sociedade, vítima de tais crimes brutais e violentos.
Carolina Raissa Menezes de Araújo Costa
Servidora pública
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