Ameaça

Pyongyang ainda desenvolve bases de mísseis balísticos

Estudo do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, de Washington, aponta que país teria 18 transportadores de mísseis, cada um deles capaz de carregar uma ogiva nuclear, na base de Sakkanmol, a 80 quilômetros da fronteira com a Coreia do Sul

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

Legenda/Reuters
Imagens de satélite de base de mísseis da Coreia do Norte até hoje desconhecida

WASHINGTON - A Coreia do Norte continua a desenvolver seu programa de mísseis balísticos em 16 bases ocultas indicam novas imagens feitas por satélites. A localização das bases seria conhecida pela inteligência dos Estados Unidos, mas elas deixaram de ser foco do governo já que o presidente Donald Trump alega ter neutralizado a ameaça nuclear de Pyongyang.

As imagens de satélite sugerem que Pyongyang tem articulado um esquema para enganar Washington: ofereceu o desmantelamento de um grande local de lançamento de mísseis - o que começou a fazer, mas depois suspendeu - ao mesmo tempo em que continuou a melhorar mais de uma dúzia de instalações que reforçariam sua capacidade de lançar ogivas convencionais e nucleares.

A existência de bases de mísseis balísticos, algo que Pyongyang nunca reconheceu, contradiz a afirmação de Trump de que sua diplomacia histórica está possibilitando a eliminação de um programa nuclear e de mísseis que, segundo a própria Coreia do Norte, poderia devastar os Estados Unidos.

"Não temos pressa", disse Trump sobre as conversas com a Coreia do Norte em entrevista na semana passada, logo após os republicanos perderem o controle da Câmara. "As sanções estão ativas. Os mísseis pararam. Os foguetes pararam. Os reféns estão de volta aos EUA."

De acordo com membros da inteligência americana, no entanto, a produção de material nuclear, de novas armas nucleares e de mísseis que podem ser colocados em ogivas móveis e escondidas em bases secretas nas montanhas continuou.

Além disso, um programa americano para rastrear os mísseis móveis com uma nova geração de satélites pequenos e baratos, está paralisado. O Pentágono esperava já ter os primeiros satélites sobre a Coreia do Norte, mas em razão de uma série de disputas burocráticas sobre o orçamento, o programa - iniciado no governo de Barack Obama e continuado por Trump - ainda não entrou em operação.

As bases secretas de mísseis balísticos foram identificadas em estudo detalhado publicado ontem, 12, pelo programa Beyond Parallel (Além dos Paralelos, em tradução livre), do Centro para Estudos Estratégios e Internacionais (CSIS, em inglês), um think tank de Washington.

O programa, cujo foco é a perspectiva de uma integração entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, é liderado por Victor Cha, um destacado especialista em Corea do Norte que foi considerado pelo governo Trump para ser nomeado embaixador na Coreia do Sul em 2017. O nome dele foi vetado, no entanto, depois de se mostrar contrário à estratégia da Casa Branca de negociar com Kim Jong-un.

Um porta-voz do Departamento de Estado afirmou, em nota enviada ao NYT, que o governo acredita que essas bases devem ser inutilizadas. "O presidente Donald Trump deixou claro que se o presidente Kim seguir com seus compromissos, incluindo a completa desnuclearização e a eliminação do programas de mísseis balísticos, um futuro muito mais brilhante está à frente da Coreia do Norte e de seu povo", diz o texto.

Desde o encontro inicial entre Trump e Kim, em 12 de junho em Cingapura, o Norte ainda não tomou, no entanto, o primeiro passo para sua desnuclearização exigido por Washington: fornecer aos EUA uma lista de todas a suas instalações e armas nucleares, dos locais de produção de mísseis e das bases de lançamento.

Autoridades norte-coreanas disseram ao secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que essa exigência significaria dar aos EUA uma "lista de alvos". Diplomatas americanos responderam, no entanto, que Washington já tem uma lista detalhada de alvos - feita há algumas décadas -, mas que gostariam de cruzar com os dados fornecidos pela própria Coreia do Norte para ter certeza de que o país revelou todas sua instalações e está prosseguindo, de forma honesta, com a desnuclearização.

Essas novas imagens de satélite sugerem exatamente o oposto desse caminho. "Não parece que essas bases deixaram de operar", diz Cha. "Continuaram trabalhando (nesses locais). O que preocupa todos é que Trump vai aceitar um acordo ruim - eles nos entregam um único local de teste e desmantelam algumas outras coisas e, em troca, recebem um acordo de paz (que encerra formalmente a Guerra da Coreia)."

Os especialistas que analisaram as imagens dizem ser relativamente fácil interpretar as motivações da Coreia do Norte. "Parece que estão tentando maximizar suas capacidades", aponta Joseph Bermudez Jr., co-autor do estudo e um veterano na análise de imagens de satélite sobre a Coreia do Norte. "Qualquer míssil nessas bases poderia receber uma ogiva nucelar."

"O nível de esforço que a Coreia do Norte investiu na construção dessas bases e na dispersão delas é impressionante", continuou Bermudez. "É algo muito lógico do ponto de vista da sobrevivência."

Material físsil

Especialistas em armamentos, assim como o próprio secretário de Estado dos EUA, afirmam que apesar de a Coreia do Norte ter se comprometido com a desnuclearização, continua a produzir material físsil que alimenta armas nucleares. Acredita-se que o país tenha entre 40 e 60 ogivas nucleares.

O novo estudo identificou uma nova base conhecida como Sakkanmol, localizada cerca de 80 quilômetros ao norte da Zona Desmilitarizada. É uma das bases mais próximas da Coreia do Sul, cuja capital, Seul, fica apenas a 130 quilômetros da fronteira.

O relatório tem mais de uma dúzia de imagens de satélite de Sakkanmol - cada uma delas com uma série de anotações identificando pontos de controle, edifícios da sede, quartéis, áreas de segurança, depósitos de manutenção e as entradas para os túneis subterrâneos que escondem mísseis móveis e seus caminhões transportadores.

Vale

A base atravessa um estreito vale montanhoso sobre uma área de 7 quilômetros quadrados. Cada entrada do túnel, diz o relatório, é protegida por uma passagem estreita com cerca de 18 metros de altura e duas portas com cerca de 6 metros de largura. Essa estrutura tem como objetivo proteger as entradas do túnel de fogo de artilharia e ataque aéreo.

O relatório diz que a base Sakkanmol esconde sete longos túneis que podem acomodar até 18 transportadores de mísseis. Cada um pode, por definição, ser equipado com uma ogiva.

No caso de uma crise, os mísseis poderiam ser transportados da base para locais de lançamento predeterminados - em muitos casos, apenas uma área ampla em uma estrada. Os lançadores móveis podem se mover rapidamente e podem estar prontos para disparar em menos de uma hora.

O estudo, que também teve a autoria de Lisa Collins - uma pesquisadora no CSIS - levou em consideração também entrevistas feitas com desertores norte-coreanos e funcionários da Pyongyang ao redor do mundo.

As bases de mísseis da Coreia do Norte, com poucas exceções, estão “em terreno montanhoso, muitas vezes espalhadas em vales estreitos e sem saída”, disse Bermudez. "Essas bases simplesmente não se parecem com bases de operação de mísseis como as usadas por Estados Unidos, Rússia, China ou Europa."

"As bases estão claramente ativas. Nenhuma delas foi desativada ou está se deteriorando", finalizou Cha.

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