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Onda conservadora ou legítima defesa?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

É uma campeã a ministra Cármen Lúcia, do STF. Sem querer, ou talvez muito de propósito, acaba de assumir, no espectro político, a posição antinômica ao conservadorismo como doutrina política. Em conferência, no dia 5 deste, em Brasília, comemorativa aos 30 anos da Constituição de 1988, a magistrada não deixou por menos, e, em tom de previdente advertência, fez soar o alarme: o Brasil, e o mundo, estão passando por mudança “perigosamente” conservadora.

Nada a obstar na análise crítica da ilustre conferencista sobre o momento político universal, não fosse o adverbio sobre o “perigo” que vê na evidente mudança.

O diabo foi quando a ministra exibe, no seu sinistro subjetivismo, o reducionismo de que a mudança seria apenas nos costumes, esquecida ela de um detalhe maior: de que a mudança, não apenas no Brasil e não somente nos costumes, estaria sendo feita de modo e alcance muito mais abrangentes.

A coisa precisa ser melhor explicada, até porque tem-se de justificar o título de campeã, lá do início. Basta acompanhar a sequência histórica.

De começo, quando as posições políticas passaram a ser organizadas em movimentos e partidos, o poder central sempre foi hostilizado por linhas de pensamento adversas. Fala-se em sociedades, quase sempre secretas, algumas com o título algo romântico e sedutor de carbonárias, nihilistas, anarquistas, maçônicas. Deva-se combate ao Trono e à Igreja, estava na moda. No Brasil, por exemplo, tivemos a fermentação positivista a conjurar pela queda do Império.

A esse tempo, ainda não envenenado pela peçonha da ideologia, dava-se combate tão só a homens e programas de governo. Por trás dessas posições, apenas personalistas e programáticas, ainda não se instalara um fator extra e diferenciado que vem a ser a luta pela “causa”, a grande novidade do século XIX.

O nascimento desse fator, que vem a ser a notória ideologia, tem como batismo histórico o Manifesto do Partido Comunista, de 1848, quando Marx e Engels proclamaram o abre-te Sésamo à onda ideológica pela causa maior. Repito: o combate vai deixar de ser a homens e programas para centrar-se, agora, ao âmago dos próprios valores que já embasavam a sociedade ocidental. O Manifesto era contra religião, família e propriedade - o quanto bastava para definir os objetivos da causa, sua ideologia.

De lá para cá, tirante as variações de sempre, tópicas e circunstanciais, chegamos aos dias de hoje com o florido álbum de todos os esquerdismos: socialismos, comunismos, progressismos, boliviarianismos. E para fechamento apoteótico, podemos dizer que a ministra Cármen Lúcia, acaba de requisitar o título de ser a chefona do movimento universal anticonservadorista.

Deveras, outra coisa não fez a insigne pensadora ao assumir a cruzada contra o perigoso perigo do conservadorismo. Esse monstro formidoloso precisa ser combatido, segundo sua visão, para que ele não devore a quintessência dos nossos direitos fundamentais.

Em resumo, não percebeu a egrégia que em lugar do perigo o que na verdade está ocorrendo é que o Ocidente está acordando de um pesadelo e contra o qual só uma coisa pode ser oposta: a legítima defesa.

Esse, na verdade, o verdadeiro que deve ser visto: ou o Ocidente se defende, conservando sua essência, ou sucumbe aos direitos drapejados no estandarte marxista cultural da ministra campeã.

Advogado

E-mail: plpcadv@gmail.com

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