Economia do Irã

Iranianos estão temerosos com novas sanções dos Estados Unidos

Governo dos Estados Unidos confirmou retomada nesta segunda-feira,5, de todas as sanções contra o Irã que estavam suspensas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Um comerciante de câmbio conta notas de dólares americanos em sua loja em Teerã, no Irã
Um comerciante de câmbio conta notas de dólares americanos em sua loja em Teerã, no Irã (Reuters)

TEERÃ - Heidar Fekri vende equipamentos industriais em sua pequena loja no bazar de Teerã desde antes da revolução, mas esta é a primeira vez em seus 70 anos que não está certo de que irá conseguir sobreviver.

"As minhas prateleiras estão vazias, meus depósitos estão vazios e logo vou ter que fechar. Isso foi a minha vida. Não irei sobreviver muito mais depois que fechar as portas", afirma.

A economia iraniana já tinha muitos problemas antes de o presidente americano, Donald Trump, decidir, em maio, abandonar o acordo nuclear de 2015 e impor novamente sanções "devastadoras". E essa decisão agravou a queda da divisa iraniana, que sofreu uma baixa de 70% no ano passado e provocou o êxodo de empresas estrangeiras.

A antecipação ao retorno do embargo ao petróleo - previsto para hoje, 5 - já afundou o país em uma recessão e, no ano que vem, provocará uma queda de 3,6% da economia iraniana, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Para Fekri, que trouxe bombas de gasolina e furadeiras da Europa por 47 anos, a incerteza se traduz em um ano sem importar nada. "As vendas caíram 90% em comparação há seis meses. Todo o bazar está sofrendo", disse à AFP.

Quase todos os produtos no Irã, desde remédios até peças de reposição de aeronaves, estão ligados à cadeia mundial de fornecimento e, por isso, a queda da divisa e o novo isolamento ameaçam toda a sociedade.

O governo se viu forçado a entregar cestas de alimentos para cerca de metade dos lares à medida que a inflação disparava.

'Assédio'

Para a classe média, o pior golpe talvez seja o psicológico, já que a esperança surgida com o acordo nuclear se esvai. "Ninguém sabe o que realmente os americanos querem. Fizemos tudo o que queriam e não foi suficiente. Parece assédio", considera Sam Cordier, presidente da PGt Advertising, que representa em Teerã clientes internacionais como British Airways e Nestlé.

Washington diz que as sanções têm por objetivo reduzir a "desestabilizadora" atividade do Irã no Oriente Médio, mas para muitos é uma tentativa de detonar uma revolução.

Cordier se viu obrigado a demitir seis dos seus 30 funcionários e a reduzir seus salários à medida que seus clientes abandonavam o país.

Existe muito ódio com o governo Trump, mas uma surpreendente quantidade de iranianos culpa o próprio Executivo por não protegê-los melhor. "Sim, os Estados Unidos estão fazendo coisas ruins, mas velam por seus interesses. Se o nosso Estado tivesse velado pelos interesses do Irã, não teríamos a situação que temos agora", considera Erfan Yusufi, de 30 anos, dono de uma cafeteria.

Os líderes iranianos têm se mostrado desafiadores com relação à pressão americana, enquanto reconhecem o dano econômico que o país está sofrendo. "Todos nós entendemos o que o povo está sofrendo", declarou o presidente Hasan Rohani, na semana passada, ao Parlamento. "Não podemos dizer ao nosso povo que, devido à pressão americana, não podemos fazer nada. Não é uma resposta aceitável".

Existem poucos sinais de que os iranianos queiram outra revolução, sobretudo porque uma parte importante deles ainda apoia firmemente a última. Muitos outros temem a violência, ao estarem intimidados pelas forças de segurança ou por não quererem obedecer às ordens de um poder estrangeiro.

Mas há resignação entre os jovens, que muitas vezes falam de si como a "geração perdida", pois tiveram negada a oportunidade de desenvolver seu potencial. "O futuro me preocupa", reconhece Yusufi. "Nossa geração começa cada dia sem saber o que será de nós", conclui, fatalista.

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