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Valorização do docente, valorização da educação

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

A Coreia do Sul é um país que, constantemente, é comparado ao Brasil. Há cerca de cinquenta anos, o país asiático era paupérrimo. A renda do brasileiro era duas vezes maior. Além disso, havia saído de uma guerra fratricida que dividiu a península, como resultado da polaridade entre americanos e russos, o que se chamou naquele período de Guerra Fria.

Desde então, esse pequeno país de pouco mais de 50 milhões de habitantes se tornou uma potência econômica. Apesar de todas as decisões econômicas acertadas e mantidas, constantes ao longo de décadas, não se explica o sucesso de um país apenas pelos investimentos, por generosos que sejam.

O que se rotulou no Brasil de “milagre econômico” que gerou, por curto período, altas taxas de crescimento, não foi suficiente para tornar-nos desenvolvidos. A razão, ainda que se explique por fatores econômicos internos e externos, é menos importante do que o que fizemos com a educação neste período e mesmo agora.

O milagre da Coreia do Sul foi a educação. O investimento deu a largada, mas o que sustentou a inovação e deu suporte à necessidade de profissionais cada vez mais qualificados foi a seriedade com que trataram a educação.

É evidente que é preciso pensar no longo prazo. Eles o fizeram. O investimento sistêmico e orgânico na educação. Privilegiar a qualificação dos professores, a quantidade de horas estudadas pelos alunos, a uniformização da qualidade de ensino em todo o país, tornou a Coreia do Sul a potência que é hoje. A boa remuneração atraiu cada vez mais bons profissionais para a docência, de modo que ser professor na Coreia do Sul é almejar uma das carreiras de mais alto status social.

Esta fórmula para a educação não é privilégio desse país, mas tem sido a receita de todos os que pensam seriamente em se tornar mais igualitário, desenvolvido e independente. Cingapura, a cidade-estado, tem um dos mais rígidos sistemas de ensino do mundo e não por acaso, ostenta um dos mais altos níveis de qualidade de vida para seu povo.

"A qualidade da educação de um país nunca será maior que a qualidade dos seus professores", afirmou Andreas Schleicher, o idealizador do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) que é a referência mais qualificada para avaliar o ensino de um país. No Brasil há um fosso profundo entre estudantes pobres e ricos. Isso não só explica nosso atraso, mas, de imediato, nosso lugar vergonhoso na avaliação PISA, entre os dez piores de 75 países atualmente avaliados.

Finlândia, Alemanha, Cingapura, Estônia, Japão, China são todos países que ocupam os primeiros lugares em educação. A, pode-se dizer, fórmula, é simples: incentivo, cobrança de metas, horas de estudo, nivelamento por cima do ensino, valorização salarial do docente. No Vietnam, ainda um país pobre, mas que começa uma bela carreira em direção ao desenvolvimento pergunta ao seu professor em início de carreira: Quer trabalhar na linha de frente com as crianças e adolescentes? Almeja um cargo de gestão? Ou gosta mesmo de pesquisar e desenvolver técnicas e metodologias de ensino? Definido isso, uma carreira tem início com horizonte de crescimento, mas, evidente, de muito trabalho.

O compromisso com a educação é que pode nos diferenciar numa era de aprendizados superficiais e a concorrência com distrações tecnológicas que teimam em afastar o aluno da dedicação que o estudo requer. O presidente, eleito nas urnas em 28/10, tem um desafio, além de tantos outros, especialmente em relação à valorização da carreira do docente. Tornar a carreira atrativa é um dos componentes desse desafio, o que passa por uma remuneração justa e melhores condições de salário. Sem o docente valorizado, o país não avançará.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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