Artigo

Epitáfio

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

No ano passado ocupei este nobre espaço, nesta mesma data, para falar da finitude da vida. Hoje, volto ao tema, para homenagear os que partiram antes de nós; amores, familiares, amigos, conhecidos.

Epitáfio, tem origem no grego e significa frase escrita sobre túmulos, mausoléus, tumbas, ou simples covas.

Sempre me chamou atenção os epitáfios nas lápides dos Campos Santos que visito quando de minhas andanças pelo mundo. Lembro de uma excursão com guia pelo famoso cemitério Père-Lachaise, o maior e mais famoso de Paris, onde estão os túmulos de famosos como Edith Piaf, Oscar Wilde, Frederic Chopin, e outros; ou uma visita ao cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, com seus túmulos em formato de casinhas, com alguns caixões expostos, todos com seus epitáfios.

Chamou minha atenção a visita a um cemitério no interior da Tailândia, onde todos os túmulos são pintados na cor vermelha forte, e pequenas placas em madeira com suas homenagens; ao entrar em um cemitério de Israel, em que um rico judeu que morreu na Europa e foi sepultado em Jerusalém, na terra sagrada, em cujo túmulo estava escrito, “Adeus, fui”.

Lembro de ter pego um atalho em um cemitério na cidade Malmö, Suécia, onde em um gramado bem cuidado, e por ser um dia de sol, coisa rara por aquelas bandas, vi belas jovens a tomar banho de sol, de topless, a não se incomodar com a vizinhança. Confesso que foi a visão do paraíso, e me chamou atenção o contraste entre o presente e o futuro, a vida e a morte.

Cada povo reverencia seus mortos de acordo com sua cultura e suas crenças.

Morrer é a única certeza que temos quando desembarcamos por aqui. Como não sabemos de onde viemos , muito menos quanto tempo ficaremos, e para onde iremos, é imperativo aprender a viver.

Nas minhas visitas à última morada,para despedir-me de familiares e amigos queridos, me chamam atenção as lápide, e em cada uma tem duas datas; uma é do nascimento, a outra da partida, e no meio tem um traço, que resume a vida, e a maneira que cada um escolheu para viver.

Faço minha as palavras da linda canção “Epitáfio” do compositor Sérgio Britto, imortalizadas com a banda Titãs,

“Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer,

Devia ter arriscado mais, e até errado mais, Ter feito o que eu queria fazer, Queria ter aceitado as pessoas como elas são,

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”.

Relendo Fernando Pessoa, vi esse belo poema, do heterônimo Alberto Caeiro, “Quando Vier a Primavera”, que eu acho um ótimo epitáfio,

“Quando vier a Primavera,/ Se eu já estiver morto,/ As flores florirão da mesma maneira/ E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.

A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme/ Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma/ Se soubesse que amanhã morria/ E a Primavera era depois de amanhã,/ Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.

Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?

Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;/ E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.

Por isso, se morrer agora, morro contente,/ Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem/ Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.

Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências./ O que for, quando for, é que será o que é”.

Viver é uma dádiva, aproveite; por saber que tudo é finito torna a vida mais fascinante.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Engenheiro agrônomo e palestrante

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