Armas nucleares

Rússia condena planos dos EUA de abandonar tratado

''Passo muito perigoso'', disse vice-ministro das Relações Exteriores russo; o acordo proibiu mísseis de médio alcance lançados em solo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Donald Trump pretende 'encerrar' o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário
Donald Trump pretende 'encerrar' o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (Reuters)

MOSCOU - A Rússia condenou os planos dos EUA de se retirarem de um importante tratado de armas nucleares e ameaçou retaliar o que classificou como um "passo muito perigoso".

No sábado, 20, o presidente Trump disse que pretendia "encerrar" o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), de três décadas de existência . Ele disse que a Rússia está "violando isso há muitos anos".

O acordo proibiu mísseis de médio alcance lançados em solo, com alcance entre 500 km e 5.500 km. Trump disse que os EUA não deixariam a Rússia "produzir armas [enquanto] não podemos".

"Não sei por que o presidente Barack Obama não negociou nem desistiu", disse o presidente sobre o tratado INF depois de uma campanha em Nevada.

Em resposta, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, disse: "Este seria um passo muito perigoso que, tenho certeza, não só não será compreendido pela comunidade internacional, mas provocará séria condenação".

Segundo ele, o tratado é "significativo para a segurança internacional e na esfera das armas nucleares, para a manutenção da estabilidade estratégica".

Ryabkov disse que a Rússia condenou as tentativas dos EUA de obter concessões "por meio de um método de chantagem".

Reação

O ministro também comentou qual será a reação, caso os EUA continuem se comportando de forma "desajeitada e grosseira" e desistam dos acordos internacionais."Não teremos outra alternativa senão tomar medidas retaliatórias, inclusive envolvendo tecnologia militar", disse. "Mas não queremos chegar a esse estágio".

Durante uma viagem a Moscou no início da próxima semana, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John R. Bolton, vai alertar o presidente russo, Vladimir Putin, sobre a saída dos Estados Unidos do pacto.

Nos últimos quatro anos, os Estados Unidos vêm alegando que a Rússia estaria violando o acordo por instalar uma série de armas nucleares táticas em represália ao ingresso na Otan, a aliança militar ocidental, de países que antes pertenciam ao bloco soviético. Com a saída do ABM, os Estados Unidos implantaram sistemas antimísseis no Leste da Europa.

Segundo grande golpe

Trata-se do "segundo grande golpe no sistema de estabilidade mundial", após a retirada, em 2001, do tratado ABM sobre os mísseis antibalísticos, afirmou o senador russo Alexei Pushkov. "Mais uma vez, são os Estados Unidos que tomam a iniciativa de dissolver o acordo", acrescentou, no Twitter.

O assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, preparava-se, sábado, 20, para viajar a Moscou a fim de dar prosseguimento ao diálogo polêmico iniciado em julho entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin.

Conhecido por suas posições duras, Bolton deve se reunir a partir de home, 22, com o chanceler russo, Serguei Lavrov, e o secretário do Conselho de Segurança, Nikolai Patruchev.

Segundo o jornal britânico "The Guardian", é Bolton quem pressiona Trump para que os Estados Unidos abandonem o INF.

A retirada do INF também poderia ter como alvo a China. Pequim, que não assina o acordo, pode desenvolver sem nenhum obstáculo armas nucleares de alcance intermediário.

Os laços entre Washington e Moscou estão sob profunda pressão por causa das acusações de interferência russa nas eleições presidenciais americanas de 2016, bem como pelo apoio russo ao governo sírio na guerra civil síria e por seu papel no conflito na Ucrânia.

Washington busca, no entanto, o apoio de Moscou para encontrar uma saída para a guerra na Síria e exercer pressão sobre o Irã e a Coreia do Norte.

'Um erro'

O ex-líder soviético Mikhail Gorbachev, cossignatário do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), afirmou ontem que o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar o país do acordo é um erro, publicou a agência de notícias Interfax.

"Sob nenhuma circunstância deveríamos rasgar antigos acordos de desarmamento...Eles em Washington realmente não entendem para onde isso pode levar?", disse Gorbachev segundo a Interfax.

O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), negociado pelo então presidente dos Estados Unidos Ronald Regan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev em 1987, estabeleceu a eliminação de mísseis nucleares e convencionais de alcances curto e intermediário por ambos os países.

O tratado INF impede a posse pelos EUA de mísseis balísticos que podem ser lançados a partir da terra e tenham alcances entre 500 e 5.500 quilômetros.

O ministro da Defesa da Inglaterra, Gavin Williamson, em comentários publicados pelo "Financial Times", afirmou que Londres se mantém "resoluta" no apoio a Washington sobre o assunto e que o Kremlin está zombando do tratado.

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