Editorial

Memória ameaçada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

Em setembro deste ano, foi devolvida à fonte da praça Dom Pedro II a escultura da Mãe D’ Água. A obra, assinada pelo artista Newton Sá, tinha sido retirada há 9 anos do seu local de origem para restauro e a sua volta, após a reforma da Praça revitalizou o espaço como um ponto turístico da cidade.
A importância de monumentos não é apenas para embelezar a cidade, sua presença é marcada por significados que ajudam a contar a história de um povo. Portanto, é essencial a preservação de símbolos que remetam a trajetória daquela população e que sirvam de referência e orgulho para aquela comunidade. No entanto, São Luís parece que se encontra na contramão disso, muitos dos monumentos que narram a história e também as lendas da cidade têm sido poucos preservados ao longo dos anos. Foi o que mostrou a reportagem especial publicada no fim de semana em O Estado e assinada pelo repórter Tiago Bastos.
Na reportagem, O Estado constatou que muitos desses monumentos ou tem sua história pouco conhecida ou simplesmente foram destruídos durante as mudanças estruturais da cidade. É o caso do monumento conhecido como Roque Santeiro que era localizado no bairro Bequimão. O monumento representava Manuel Beckman, líder da Revolta de Beckman (1684), movimento contra os abusos do governo português em relação à taxação produtiva da época e uma das importantes lutas para a construção da história de São Luís, era considerada um ponto de referência para o bairro, mas foi retirada do local em 2004, durante intervenções para a melhoria do trânsito no local e nunca mais voltou ao seu local de origem. De acordo com fontes ouvidas durante a produção da reportagem, o monumento foi destruído durante a obras de intervenções urbanas.
Outra escultura que serviu até de fonte de inspirações em música foi a Sereia que era localizada na praia da Ponta D’Areia até meados da década de 1980. A obra fazia uma referência sobre os encantados que regem às lendas presentes no imaginário coletivo sobre a Ilha de São Luís, mas teve destino parecido com o Roque Santeiro e foi destruída também durante obras da melhoria da infraestrutura da praia.
Além das imagens que foram desaparecidas, outro fato curioso retratado na reportagem é de que muitos dos monumentos ainda existentes têm sua origem desconhecida pela população. Referências religiosas, de lutas sociais e políticas fazem parte das homenagens presentes nas esculturas e correspondem uma verdadeira aula de história em um passeio pela cidade. Por exemplo, a Revolta de Beckman que era relembrada pelo Roque Santeiro, tem outra alusão na Praça 15 de Novembro, no Centro de São Luís. Trata-se da “Pirâmide de Beckman”, considerada pelos especialistas como uma das mais antigas do acervo urbano, no entanto, sendo pouco reconhecida pela sociedade local.
O que se espera é que a denúncia presente na reportagem sirva como um alerta para os gestores públicos e que sirva como ponto de partida para a elaboração de planos turísticos e culturais que inclua a valorização desses símbolos como essenciais para a preservação dos lugares de memória de São Luís e que cada um deles consiga efetivamente representar pontos importantes da história da capital maranhense.

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