Arte urbana

Memórias e poesia na arte de Romildo Rocha

Trabalho do artista maranhense faz ode à cultura popular do Nordeste e à beleza do cotidiano; obras trazem arte para as ruas da capital maranhense

Raíza Carvalho/ Especial para O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Irmão caçula de Rocha observa à janela enquanto ele e Hagah desenvolvem o mural. (Foto: Amanda Travassos)
Irmão caçula de Rocha observa à janela enquanto ele e Hagah desenvolvem o mural. (Foto: Amanda Travassos) (romildo rocha)

SÃO LUÍS- Na periferia de São Luís, no bairro da Vila Embratel, a música de uma igreja evangélica invade a rua enquanto a duas casas de distância, uma mulher dança um reggae sem compromisso sorrindo e conversando com a vizinha. Emoldurados por este cenário, estão murais de Romildo Rocha, artista visual e morador da área Itaqui-Bacanga.

Fazendo uso de três expressões artísticas – o muralismo/graffiti, a ilustração e a xilogravura - reprodução de imagens a partir de madeira entalhada - Rocha revela as fontes de inspiração que fazem seu coração vibrar. A beleza do cotidiano, gente forte, a memória em costumes simples e a cultura rica do Maranhão e do Nordeste. Os elementos estão presentes nas oito xilogravuras apresentadas na primeira exposição de Rocha, que aconteceu em Porto Alegre, na última sexta-feira (18), na Paxart, galeria de arte.

Nuances do graffiti
Nos muros não tão limpos e em cenários longe da perfeição, os murais coloridos com os traços bem marcados da literatura de cordel podem surpreender os olhares. Personagens e elementos regionais são retratados delicadamente na arte de Rocha, que bebe da água da xilogravura e a mistura em outros estilos em seus murais e ilustrações. Nelas, estão retratados o sertanejo, o cangaceiro, o bode, a dançarina de tambor, a cozinheira, a mãe, o menino, o índio, o negro.

Nos graffitis e murais pintados pelo artista, a fineza dos traços surpreende. Em uma parede na Vila Embratel, o olhar atinado da sertaneja pintada de forma realista e a textura das rendas que emolduram a arte captam o olhar dos transeuntes. Lá, bairro do artista, as pessoas estão aprendendo a conviver e admirar com esta arte urbana. “Muito bonito, viu? Faz na minha casa também?!”, muitos comentam. A rua Dois de Maio, da Vila Embratel, ganha contornos de Beco do Batman, referenciado ponto do graffiti de São Paulo.

A força da gravura
A arte aprendida mais cedo com Airton Marinho, xilogravurista maranhense, não é somente a maior força da linguagem artística de Rocha. Nos últimos anos, o artista tem trabalhado esculpindo a madeira, produzindo as matrizes e fazendo as gravuras, de fato. Rocha se tornou também um xilogravurista. “A xilogravura foi onde eu me encontrei. Ela sempre tratou do popular, do interior, dos contos, do cotidiano do sertanejo, do povo nordestino de uma forma especial. Da sua forma simples, ela diz muita coisa. E eu resolvi adotá-la para fazer minhas ilustrações e painéis”, explica ele.

Muito do que Rocha traz para as obras é herança direta de seus pais. Ambos nasceram e se criaram em pequenos povoados do Maranhão. Francisco, o pai, nasceu no interior de Duque Barcelar, onde trabalhava com roça lidando com terra e gado e mais tarde foi caminhoneiro. A mãe, Rosely, nasceu no interior de Coelho Neto e foi quebradeira de coco babaçu. A obra do artista é um doce resgate histórico da essência nordestina. “As pessoas sentem orgulho quando veem o estado delas, o Maranhão, a região, sendo representadas e se sentem representadas. Eu vejo que se tornou uma bandeira e vejo que o trabalho cumpriu seu papel”, relata ele.

Apesar da valorização da região ser a principal missão de Rocha, ele explica que isso não é uma amarra. “Já retratei o judô, o Japão, com meu traço. Se eu me inspiro em uma viagem, vou retratar o que me encanta, mas minha principal missão é difundir o que é o Brasil e o Nordeste através de imagens”, explica.
Além dos retratos da realidade, há um espaço escancarado para a poesia em sua obra. Em uma ilustração, uma guerreira dá à luz no meio do mato; em outra, um chapéu de uma cangaceira transporta o sistema solar. Com tal herança e riqueza cultural, o Maranhão, o Nordeste e o Brasil se agigantam nas percepções e mãos sensíveis de Romildo Rocha.

Arte de Romildo Rocha

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