Migrantes

Hondurenhos rompem bloqueios policiais e chegam ao México

A multidão ignora as ameaças do presidente Donald Trump de fechar as portas à sua entrada nos Estados Unidos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Migrantes hondurenhos removem barreiras para chegar ao território mexicano, uma etapa-chave
Migrantes hondurenhos removem barreiras para chegar ao território mexicano, uma etapa-chave (Reuters)

CIDADE DO MÉXICO - A linha de frente da caravana de migrantes que percorre estradas há uma semana em direção à América do Norte cumpriu mais uma etapa-chave: a chegada ao México. Para isso, foi necessário romper bloqueios policiais, derrubar a cerca da fronteira em Tecún Umán, no lado guatemalteco, e atravessar a ponte sobre o rio Suchiate.

A multidão ignora as ameaças do presidente Donald Trump de fechar as portas à sua entrada nos Estados Unidos , enquanto autoridades mexicanas alertam que cada um deles terá que passar por procedimentos burocráticos individualizados na passagem pelo seu território.

Cantando o hino de Honduras, os migrantes apelavam aos agentes mexicanos que permitissem a sua entrada. Alguns lançaram pedras contra os policiais, dos quais ao menos dois ficaram feridos. Imagens do local mostram que diversos imigrantes também se feriram na confusão. O comissário-geral da Polícia Federal, Manelich Castilla, pediu por um megafone que os migrantes desistissem de agressões para garantir entrada ordenada.

Horas antes, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em visita à Cidade do México pedira que o seu vizinho freasse o grupo de chegar ao território americano. Por sua vez, o México pede a ajuda do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) para lidar com as demandas humanitárias e burocráticas da caravana.

Advertência

O chanceler mexicano, Luis Videgaray, advertiu os migrantes que será necessário realizar trâmites de maneira individual ao cruzar a fronteira, o que poderia dividir ainda mais o grupo, já fragmentado ao longo do caminho. A última caravana que em abril chegou perto da fronteira americana acabou pulverizada entre desistentes e unidades menores na hora de se apresentar às autoridades dos EUA.

"É um desafio que o México está enfrentando, e foi como eu o expressei ao secretário Pompeo" disse Videgaray em entrevista após se reunir com o homólogo americano. "Não tivemos uma caravana ou grupo deste tamanho procurando refúgio ao mesmo tempo, foi por isso que buscamos o apoio dos Estados Unidos".

No sábado, 13, os migrantes, cuja maioria vem de Honduras, começou a viagem em San Pedro Sula. Inicialmente, o grupo contava com cerca de 1.800 pessoas, mas foi aumentando enquanto passava por novas cidades, e os seus moradores iam se juntando à caravana. Famílias inteiras — com crianças, adultos e idosos - se arriscam na viagem na esperança de fugir da pobreza e da violência em suas comunidades.

Diversas razões

Os participantes da caravana estão participando dessa empreitada por diversas razões. Alguns relatam estar fugindo de gangues que aterrorizam seus bairros e buscam proteção no México ou nos Estados Unidos. Outros estão em busca de trabalho ou de mais estabilidade para suas famílias.

Na noite de quarta-feira, 17, centenas de pessoas lotaram um abrigo de imigrantes na Cidade da Guatemala e se deitaram no chão de uma escola. Mais dezenas dormiam nas ruas. "Nós viajamos para encontrar um futuro melhor para nossas filhas", diz Fanny Rodríguez, acompanhada do seu marido, Edil Moscoso, de 26 anos, e suas duas filhas: Daily Edith, de 2 anos , e Yarice, de nove meses. "Nós não vamos para ter coisas luxuosas, só o necessário. Para que minhas filhas não fiquem sem comida ou roupas".

A família de Fanny tinha sido recebida com considerável simpatia e generosidade pelos guatemaltecos enquanto adentrava o país. Desconhecidos haviam doado alimentos e fraldas para as crianças. "Não podemos reclamar".

Já Melvin Gómez planejava deixar sua casa e migrar ao Norte em dezembro próximo. Mas quando ele soube da caravana na televisão, decidiu que era hora de partir. Telefonou para sua mulher e dois filhos, que estavam na casa de parentes na cidade hondurenha de La Ceiba, e se despediu. " Ela me pediu para lembrar dela e das crianças. Eu espero que tudo fique bem".

'Não há dinheiro, não há trabalho'

A família de Ever Escalante tinha cinco pessoas e apenas duas malas. Eles carregam, sobretudo, roupas, sem nenhum item de valor sentimental. " Nós não tinhamos nada importante", disse Escalante. Ele e sua família - sua mulher, Sarai Najera, e suas três crianças - se mudaram há um ano da sua casa em San Pedro Sula, em Honduras, para La Ceiba, após receberem ameaças de gangues. Mas eles vinham tendo dificuldades de pagar as contas no fim do mês, e viram a caravana como uma boa oportunidade de migrar aos Estados Unidos. "Ao invés de avançar, nós acabamos retrocedendo. Não há trabalho, não há dinheiro. É isso que está nos levando a sair do país".

'Não sei onde eles estão'

Lindell Marroquín, uma mãe solteira com cinco filhas, começou a aventura com seu irmão e três das suas filhas. Agora, ela está com apenas duas das meninas. No caos ao longo do caminho, a família se separou. O seu irmão está em algum lugar com uma das suas filhas, enquanto ela acompanha Dariana, de 5 anos, e Sofia, de 1 ano. "Não sei onde eles estão: se estão na minha frente ou atrás de mim", diz ela.

Nery Maldonado partiu sozinho para viajar aos Estados Unidos. Ele parou ao longo do caminho na cidade guatemalteca de Esquipulas. Quando a caravana chegou, ele decidiu se juntar à procissão. Maldonado, que não tem pernas e usa uma cadeira de rodas, logo se tornou amigo de outro homem na mesma jornada, Omar Orellana, de 38 anos. Os dois se tornaram companheiros de viagem.

Maldonado já fez a mesma viagem uma vez antes. Foi durante a primeira tentativa, em 2015, que ele perdeu as pernas enquanto andava de trem no norte do México, de acordo com a agência "Associated Press". " Decidimos vir por causa da situação econômica", disse Maldonado. "Queremos ir para os EUA para pedir próteses".

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