Investigação

Assessor de príncipe chegou a consulado antes de jornalista

Jornal turco "Sabah" exibiu ontem imagem de Maher Mutreb entrando no consulado de seu país em Istambul antes de Jamal Kashoggi

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Jamal Kashoggi teria sido morto no consulado da Arábia Saudita na Turquia
Jamal Kashoggi teria sido morto no consulado da Arábia Saudita na Turquia (Reuters/Jornalista)

WASHINGTON — Um funcionário e companheiro frequente do príncipe herdeiro da Arábia Saudita durante suas viagens ao exterior entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul horas antes do jornalista dissidente Jamal Kashoggi chegar ao prédio, de acordo com uma imagem publicada pelo jornal turco "Sabah"ontem. Segundo o jornal, a imagem, marcada com data e hora, foi tirada de um circuito interno de TV.

A imagem do funcionário, que foi identificado como Maher Abdulaziz Mutreb, é uma das mais claras evidências a ligar o desaparecimento e possível morte de Kashoggi em 2 de outubro ao príncipe herdeiro do país, Mohammed bin Salman. Autoridades sauditas têm negado envolvimento no caso, mas não apresentaram nenhuma prova contundente de que o jornalista estaria vivo, afirmando que também estão realizando suas próprias investigações.

O "Sabah" também publicou fotografias de Mutreb fora da residência do cônsul geral saudita no país, saindo de um hotel com uma mala grande e deixando o país a partir do aeroporto internacional de Istambul. Todas as imagens têm data e hora marcadas, mostrando que Mutreb percorreu todos esses lugares no mesmo dia do desaparecimento.

Mutreb

De acordo com o jornal turco, as fotos mostram Mutreb entrando no consulado saudita às 9h55, na casa do cônsul geral às 16h45, deixando o hotel em Istambul às 17h15 e no aeroporto, deixando o país, às 17h58.

Khashoggi, de 60 anos, era colunista do jornal "Washington Post". Seu desaparecimento causou um alvoroço internacional e manchou profundamente a imagem do governo saudita, que buscava modernizar sua imagem. Ele entrou no consulado às 13h15 e nunca foi visto saindo. O governo turco sugere que uma equipe de 15 membros da Arábia Saudita, incluindo Mutreb, assassinou Khashoggi dentro do consulado, esquartejando seu corpo.

Na terça-feira, 16, uma investigação do "New York Times" mostrou ligações entre Mutreb e pelo menos três outros suspeitos e Mohammed bin Salman. Mutreb já havia sido visto em fotografias da visita de três semanas do príncipe herdeiro aos Estados Unidos neste ano.

Último texto

O jornal americano contou, ontem, no editorial, a história e a luta de Khashoggi, além de publicar o último texto dele. Na abertura da coluna de Khashoggi, o jornal publicou uma nota da editora de opinião, Karen Attiah, na qual explica como recebeu o texto. Attiah disse ter recebido o texto no dia seguinte ao desaparecimento de Khashoggi, enviado por seu assistente e tradutor.

"The Post suspendeu a publicação, porque esperávamos que Jamal voltasse para que ele e eu pudéssemos editá-lo juntos. Agora tenho que aceitar: isso não vai acontecer. Esta é a última coluna dele que vou editar para o The Post. Esta coluna capta perfeitamente seu compromisso e paixão pela liberdade no mundo árabe. Uma liberdade para a qual ele aparentemente deu sua vida", escreveu. Encerrando a nota, Attiah agradece por Khashoggi ter escolhido o jornal como seu último posto de atuação.

No texto, Khashoggi defende a liberdade de expressão no mundo árabe. Ele cita o relatório Liberdade no Mundo de 2018, publicado pela Freedom House: apenas um país no mundo árabe foi classificado como "livre", a Tunísia. Jordânia, Marrocos e Kuwait foram classificados como "parcialmente livres". O restante dos países, como "não livre". "

Segundo Khashoggi, sem liberdade de informação, os árabes são desinformados ou mal informados. “Eles são incapazes de tratar adequadamente, muito menos discutir publicamente, assuntos que afetam a região e suas vidas cotidianas. Uma narrativa estatal domina a psique pública e, embora muitos não acreditem, a grande maioria da população é vítima dessa falsa narrativa. Infelizmente, é improvável que essa situação mude", escreveu.

Para Khashoggi, "o mundo árabe está enfrentando sua própria versão de uma Cortina de Ferro, imposta não por atores externos, mas por forças domésticas que disputam o poder".

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