Artigo

Os drones e as canoas costeiras

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

Qual a relação entre os drones e as canoas costeiras? Vamos refletir. O drone é um VANT - Veículo Aéreo Não Tripulado, ou seja, é uma aeronave que não precisa de um piloto embarcado para ser guiada. Já tem aplicações na área militar, agricultura, vigilância, manutenção, etc. Já a canoa costeira é uma típica embarcação da construção naval artesanal do Maranhão. Tem capacidade de navegar em um mar com fortes correntezas e ventos, com uma variação de maré de até 7 metros, é dotada de duas velas coloridas, enfim é uma verdadeira obra de arte da navegação artesanal. A sua importância cultural pode ser comprovada pela canoa costeira Dinamar que em outubro de 2013 recebeu o título de Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan.

Essas duas tecnologias são exemplos de duas faces da mesma moeda, ou melhor, do mesmo sistema portuário e marítimo. Nós temos um sistema portuário no Maranhão dos mais avançados e relevantes do Brasil. Em 2017 o sistema portuário brasileiro movimentou 1,086 bilhão de to9neladas, um aumento de 8,3%. Nesse sistema o Terminal Marítimo de Ponta da Madeira ficou em primeiro lugar com movimentação de 15,6% e o Porto do Itaqui foi o 6° maior porto público em movimentação com 5,2% do total.

Nesse contexto se aborda as questões mais relevantes, estratégicas e atuais sobre logística, operação e manutenção portuária e marítima. Por aqui atracam os navios graneleiros mais modernos do mundo com capacidade de transportar 400 mil toneladas, drones já são utilizados para diversos processos, grandes equipamentos já são operacionalizados de forma remota e caminham para uma operação autônoma. O modelo da indústria 4.0 está em processo de adaptação para a nossa indústria portuária.

De outro lado, nós temos um conhecimento e tecnologia sobre construção de embarcações artesanais no Maranhão repassado de pai para filhos. Segundo Luis Phelipe André (Diretor do Estaleiro Escola) “A construção naval artesanal maranhense é resultado de 400 anos de experiência empírica dos seus navegantes que a construíram perfeitamente adaptada às condições de maré, ondas e ventos da região que vai do Golfão Maranhense ao Pará, onde a maré atinge até sete metros de altura e navega apenas com a força do vento". Representa um símbolo cultural.

Vale ressaltar o trabalho desenvolvido pelo Estaleiro Escola. Ele foi criado em 2006 com a proposta de preservar as tradicionais técnicas de construção naval, com o objetivo de formar mestres carpinteiros, pintores, calafates, ferreiros e mecânicos que atuam na produção artesanal de embarcações, difundindo este conhecimento para futuras gerações. Uma iniciativa pioneira com a finalidade de assegurar a transmissão dos conhecimentos tradicionais que foram registrados pelo projeto “Embarcações do Maranhão” coordenado pelo já citado engenheiro Luis Phelipe André.

Hoje o Estaleiro Escola é uma unidade vocacional do IEMA - Instituto do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. Já teve projetos financiados e apoiados pela EMAP. Representa para a comunidade onde está localizado muito mais do que uma escola de construção naval artesanal, lá surgem oportunidades para utilizarem a biblioteca (contém livros doados pelo Navegador Amyr Klink), computadores com acesso a internet e realização de outros cursos como o de gestão ambiental. Porém, ele precisa de mais apoio.

Precisamos valorizar os avanços tecnológicos, mas sem deixar de reconhecer a grande sabedoria dos mestres da carpintaria naval maranhense. Precisamos de mais drones, sensores inteligentes, navios e máquinas autônomas, mas também de mais canoas costeiras, mais estaleiros escolas, mais desenvolvimento regional do setor portuário e marítimo.

Prof. Dr. Sérgio Cutrim

Coordenador do curso de Administração e da Especialização em Logística portuária da UFMA

E-mail: sergio.cutrim@ufma.br

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