Artigo

Hábitos saudáveis de hoje moldam a qualidade de vida no futuro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

É uma cena comum: você acorda bem cedo, toma uma xícara de café, come um pão com manteiga e sai correndo para não perder o ônibus. À tarde, não deu tempo de almoçar e você acaba engolindo um salgado e um refresco rapidamente enquanto olha o celular. Fica mais horas sem comer até comprar um pedaço de bolo para lanchar. Chega em casa tarde da noite e cansado, já sem ânimo de ir à academia. “Talvez amanhã”, você pensa, enquanto prepara algo pra comer antes de dormir e começar tudo de novo. Se identificou?

Esta descrição representa a rotina de milhares de brasileiros que moram nos grandes centros urbanos em meio ao estresse da realidade social em que vivemos. Se, por um lado, a correria contribui para sustentar a produção e gerar dinamismo em nossa sociedade, por outro, tem enraizado maus hábitos alimentares e comportamentais. Como consequência desse estilo de vida que alia sedentarismo com má nutrição, cada vez mais temos obesidade ou sobrepeso.

De acordo com a recente pesquisa “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe” da Organização das Nações Unidas (ONU), mais da metade dos brasileiros está com sobrepeso e 1 a cada 5 adultos no país é obeso. Isso se manifesta como uma insatisfação crescente com o corpo e tentativas de perder peso rapidamente por meio de dietas desenvolvidas por leigos e que circulam no boca a boca, em sites e revistas. Estas dietas não possuem embasamento científico e pioram ainda mais a situação, podendo levar até mesmo a deficiências nutricionais.

As consequências de uma má nutrição vão além do aspecto físico: o sobrepeso e a obesidade estão associados também a doenças silenciosas, isto é, que não manifestam sintomas por muito tempo, contudo, são detectáveis apenas por exames laboratoriais. Sem um trabalho de rastreio e prevenção adequados, estas doenças são reconhecidas apenas anos depois, quando os danos causados são irreversíveis.

Podemos citar, por exemplo, as dislipidemias, nome médico para aumento dos triglicerídeos e do colesterol, as gorduras do sangue. Quando o nível destas gorduras está aumentado, vão se acumulando lentamente nos vasos sanguíneos, levando a uma obstrução progressiva. Esse processo não é percebido até que a obstrução seja tão grande que limite o fluxo sanguíneo para o coração, quando um esforço provoca uma dor excruciante no peito, o infarto. A partir desse momento há morte do músculo cardíaco e não há recuperação.

Outra possibilidade é que o colesterol se deposite nas artérias que levam o sangue para o cérebro, formando placas. Estas placas podem se tornar grandes e instáveis, soltando fragmentos que podem seguir pelo fluxo sanguíneo e ir parar em um pequeno vaso do cérebro. Assim temos o chamado Acidente Vascular Encefálico (AVE), antigamente chamado de AVC, que gera sequelas neurológicas de difícil recuperação.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, no Brasil estima-se que até setembro de 2017 mais de 237 mil pessoas tenham falecido por doenças cardiovasculares, o equivalente a 955 óbitos diários. De 2004 a 2014, houve aumento de 19% dessa causa de morte, com importante repercussão para o sistema de saúde. Fica claro nesse contexto que as medidas de prevenção são fundamentais para evitar que esse tipo de doença se instale, mais do que tratar as suas complicações. Para isso, são fundamentais os exames laboratoriais de rotina, que possibilitam um diagnóstico precoce, quando por vezes apenas a adoção de hábitos de vida mais saudáveis é suficiente para evitar todos esses desdobramentos.

Pensando nisso, qual foi a última vez que você foi ao médico? Você já fez um exame de sangue esse ano? É sempre melhor descobrir hoje algo que você pode mudar do que ter de lidar com o irreversível no futuro. Lembre destas perguntas quando estiver no trânsito da volta do trabalho e marque uma consulta. Os hábitos saudáveis de hoje moldam a sua qualidade de vida no futuro. E nada de pular a academia, hein?!

Octavio Fernandes

Patologista clínico e vice-presidente de operações do Labi Exames

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