Mistério

Trump se manifesta sobre o desaparecimento de jornalista

Presidente dos EUA diz ter recebido negativa ''muito, muito forte'' do envolvimento do país no sumiço de Khashoggi

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Trump disse que enviará seu secretário de Estado, Mike Pompeo, para a Arábia Saudita
Trump disse que enviará seu secretário de Estado, Mike Pompeo, para a Arábia Saudita (Reuters/Trump)

WASHINGTON - O presidente americano, Donald Trump , aventou a possibilidade de o jornalista saudita Jamal Khashoggi - desaparecido na Turquia há duas semanas — ter sido morto por "assassinos fora de controle".

Após receber uma "negativa muito, muito forte" do rei Salman da Arábia Saudita sobre o envolvimento de Riad no desaparecimento do jornalista, Trump afirmou à imprensa na Casa Branca que o crime "talvez tenha sido obra de assassinos fora de controle. Quem sabe?".

Mais cedo, no Twitter, Trump informou que havia conversado com Salman e disse que enviaria seu secretário de Estado, Mike Pompeo, para a Arábia Saudita.

"Acabo de falar com o rei da Arábia Saudita, que nega ter qualquer informação do que pode ter acontecido com seu cidadão saudita", escreveu o presidente americano.

Com a declaração, Trump abriu uma brecha para o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que tem propagandeado reformas e feito esforços para transmitir uma imagem de renovação, alegar que os supostos asssassinos não agiram sob suas ordens.

Na tarde de ontem,15, a "CNN" e o "New York Times" informaram que a Arábia Saudita está disposta a reconhecer esta versão, o que transmitiria a responsabilidade pela morte de Khashoggi a agentes que teriam agido em desacordo com as ordens do governo.

A Arábia Saudita é, ao lado de Israel, o principal aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio. No governo Trump, sauditas e israelenses têm jogado papel vital na política de isolamento do Irã. Em nome dessa aliança, Washington tem ignorado os crimes de que guerra de que os sauditas são acusados no Iêmen, onde intervieram em 2015 para conter uma insurgência pró-Teerã.

Investigação

Segundo a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, "o presidente Trump determinou uma investigação imediata e transparente sobre o desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi".

"Não deixaremos de examinar nada", disse Trump a repórteres. Khashoggi não é visto desde que esteve, em 2 de outubro, no consulado saudita em Istambul para um procedimento administrativo a fim de obter documentos para seu casamento. Segundo autoridades turcas, o jornalista foi assassinado e esquartejado por agentes sauditas.

Riad nega categoricamente qualquer envolvimento no desaparecimento do jornalista, um crítico do príncipe Salman. Khashoggi vivia exilado nos Estados Unidos desde 2017 e colaborava com o jornal "Washington Post".

O presidente americano, grande aliado da Arábia Saudita, mencionou pela primeira vez no final de semana a possibilidade de um envolvimento de Riad no caso e ameaçou o reino com um "castigo severo". Contudo, deixou claro que não pretende abrir mão dos bilhões de dólares movimentados por ambos os países em contratos militares bilaterais.

No consulado

Enquanto isso, autoridades sauditas e turcas começaram a inspecionar nesta segunda-feira o consulado da Arábia Saudita em Istambul no âmbito da investigação sobre o desaparecimento de Khashoggi.

A operação, prevista para a acontecer na presença de autoridades sauditas, ocorreu após uma conversa por telefone entre o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e o rei Salman da Arábia Saudita.

Uma fonte presidencial turca citada pela agência oficial Anadolu explicou que ambos líderes enfatizaram a importância de uma equipe de trabalho conjunta estabelecida para investigar o caso Khashoggi. Antes de ir ao consulado, o grupo fez sua primeira reunião nesta segunda-feira, nas instalações da Direção Geral de Segurança em Istambul, que durou duas horas.

O rei Salman ordenou à Promotoria saudita que abrisse uma "investigação interna" sobre o caso Khashoggi com base nas informações que forrem obtidas pela equipe enviada a Istambul, disse uma fonte do governo saudita à Reuters. "Ele diz que está trabalhando de perto com a Turquia para encontrar respostas", disse o presidente dos EUA, Donald Trump, em sua conta no Twitter.

No domingo, a Arábia Saudita rejeitou qualquer ameaça de sanções ligadas ao desaparecimento do jornalista e ameaçou contra-atacar em caso de medidas hostis.

"O Reino afirma que rejeita qualquer ameaça ou tentativa de enfraquecê-lo, seja por meio de ameaças de sanções econômicas ou por pressão política", afirmou um funcionário que pediu anonimato, citado pela agência oficial SPA.

França, Grã-Bretanha e Alemanha cobraram uma "investigação séria e crível". "Defender a liberdade de expressão e a imprensa livre e assegurar a defesa dos jornalistas são medidas primordiais", disseram num comunicado comum os ministros das Relações Exteriores dos três países.

Evento esvaziado

No front econômico, a conferência de investidcores internacionais conhecida como "Davos do Deserto", marcada para acontecer no fim do mês em Riad, está cada vez mais esvaziada depois do desaparecimento de Khashoggi e já é alvo de controvérsias políticas.

Nesta segunda-feira, a Bolsa de Valores saudita se recuperava depois de um domingo negro devido ao caso. O mercado de ações em Riad caiu drasticamente, registrando seu menor nível em três anos.

O chanceler do Bahrein, Khalid Al Khalifa, disse que o país vai boicotar o Uber, uma das empresas que desistiram de ir ao evento. "Nós vamos boicotar quem boicotar a Arábia Saudita", afirmou.

A Uber recebeu investimentos de US$ 3,5 bilhões (R$ 13,2 bilhões) do reino árabe em 2016. Seu diretor executivo, Dara Khosrowshahi, afirmou que só compareceria à conferência "se surgir uma série de fatos consideravelmente diferentes" sobre o sumiço do jornalista saudita.

O empresário dos Emirados Árabes Jalaf Al Habtoor também pediu aos países do Golfo e aos aliados de Riad que boicotem as empresas que se retirarem do encontro.

Além da diretoria da Uber, desistiram de ir ao evento o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, e o multimilionário britânico Richard Branson, que cancelou investimentos de US$ 1 bilhão (R$ 3,7 bilhões) em projetos na Arábia Saudita, bem como vários órgãos importantes de imprensa, como o jornal "New York Times", a revista "The Economist", o "Financial Times", a agência Bloomberg e as redes CNN e CNBC. O bilionário americano Steve Case, um dos fundadores da America On Line (AOL), e o diretor executivo do conglomerado Viacom, Bob Bakish, também desistiram de viajar para a conferência.

Até o Fórum Econômico Mundial — que reúne a elite econômica do planeta em Davos, na Suíça, todo ano - protestou contra o "uso impróprio" do nome de sua sede no apelido do evento saudita. "Esse uso provoca mal-entendidos", disseram os responsáveis pelo evento num comunicado.

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