William Eduardo da Luz Santana, o Boka - Tatuador

"A tatuagem me tirou das ruas"

Um dos nomes de destaque da tatuagem hoje no Maranhão, ele é ex-morador de rua e iniciou na arte ainda adolescente, com amigos, no bairro Cohatrac; o apelido Boka ele ganhou ainda criança

Marcio Henrique Sales / O ESTADO DO MA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Boka no estúdio onde trabalha fazendo tatuagens
Boka no estúdio onde trabalha fazendo tatuagens

SÃO LUÍS - Ex-morador de rua, o tatuador William Eduardo da Luz Santana, o Boka, de 31 anos, nasceu em São Luís e morou em vários estados antes de se profissionalizar e se tornar um dos nomes de destaque da tatuagem no estado. “A tatuagem me tirou das ruas”, afirma. Boka começou como desenhista ainda adolescente e, com o passar do tempo, foi se aperfeiçoando até se dedicar integralmente à arte de tatuar.

O apelido Boka ele ganhou quando era criança. “Como eu tenho adenoide e sinusite crônica, respiro pela boca. Os colegas de escola, quando perceberam, passaram a me chamar de Boca Aberta. Depois, ficou só Boka”, esclareceu.

Quem vê Boka hoje, em um luxuoso estúdio de tatuagens, não imagina a sua história de superação. A vida reservava algumas surpresas inesperadas. Sua família, que não se adaptou ao seu estilo de vida punk, ameaçou colocá-lo para fora de casa, e ele preferiu morar nas ruas por quase 3 anos. “Sempre fui roqueiro e quando me tornei punk a situação ficou complicada com meus pais, que não aceitavam meu estilo de vida. Naquela época, andava com um cabelo moicano enorme, com uma corrente de moto na cintura e bota militar. Um dia, eles me ameaçaram colocar para fora de casa e eu preferi sair. Passei fome e frio, mas nunca mais voltei. Nunca me meti com droga”, comentou.

Foi na rua que Boka teve o primeiro contato com a tatuagem ao tatuar os próprios amigos. “Tinha uns amigos que moravam no Cohatrac e eram punks e a gente um dia decidiu se tatuar. Na época, usava uma máquina feita com agulha de costura, motor de secador de cabelo e tinta de caneta. Não era algo profissional. A gente se tatuava na base da camaradagem”, comentou.

A música é uma das paixões de Boka, que chegou a montar uma banda e fazer show. “Tive meu primeiro contato com o rock em 2004, quando minha tia me deu uma fita da Legião Urbana, mas depois conheci o punk e mudou meu estilo de vida. Tinha uma banda chamada Diarreia e fazíamos apresentações até no interior do estado. A gente fazia sucesso com a galera do punk”, disse.

Foi nessa época que Boka começou a viajar. “Fui para Recife a pé e pedindo carona. Passei um tempo em Olinda. Lá, tive contato com tatuagem, mas não era nada profissional. Aí, conheci uns punks que fizeram uma vaquinha e compraram minha passagem de volta. Chegando aqui, viajei com a minha banda para Imperatriz, me meti em uma confusão e cheguei a ser preso. Os punks me soltaram e me mandaram de volta para São Luís. Aqui, soube que minha mãe estava me procurando. Passei uma temporada em casa, mas não me adaptei e fui morar em Belém”, recordou.

De Belém, ele foi para Manaus (AM), onde teve seu primeiro emprego de carteira assinada. “Ninguém queria me empregar por causa da minha aparência, mas em Manaus consegui meu primeiro emprego em uma fábrica de bicicletas. Passei sete meses, quando decidi que não era meu estilo de vida e voltei para São Luís”, destacou.

Boka durante processo de produção de tatuagem
Boka durante processo de produção de tatuagem

Máquina
Decidiu viajar de novo e, na terceira passagem por Belém, Boka passou a se dedicar exclusivamente à tatuagem. “Lá em Belém, eu morava em um ‘Abrigo Nuclear’ (como os punks chamam a moradia deles). Um dia, encontrei uma máquina de tatuar debaixo de uma cama e comecei a tatuar os caras. O dono da casa era tatuador, mas tinha se convertido para uma religião que via arte como pecado e, quando ele soube que eu sabia tatuar, fez uma proposta para mim. Ele me ofereceu um estojo de tinta de tatuagem e uma máquina profissional. Em troca, eu teria que convencer os punks a deixar o ‘Abrigo Nuclear’. Fiquei maravilhado com o material, porque até antes nunca tinha visto nada profissional. Respondi: eu não sei se eles vão embora, mas eu já estou indo”, contou.

Inicialmente, Boka atuava como artista de rua, fazendo tatuagens com pequenos desenhos, e eventualmente também atendia em domicílio. “O começo foi difícil, porque, por causa da minha aparência, tinha dono de estúdio que nem me deixava entrar. Foi quando percebi que tinha de tratar a coisa como profissional. Passei a me vestir melhor e comecei a ser aceito nos estúdios”, explicou.

Um dia, encontrou um tatuador peruano que lhe ensinou técnicas profissionais e, de lá para cá, não deixou mais de estudar sobre tatuagem. “Tem gente que diz que sou excelente tatuador, mas acho que ainda posso aprender mais. Quando a pessoa diz que é o melhor e não precisa aprender, nesse dia ele está acabado. Todo dia a gente aprende alguma novidade. Antes, se tatuava com algodão e água mineral. Atualmente, a gente usa papel toalha e água destilada”, afirmou.

Os estilos de tatuagem preferidos de Boka são: Old School e New School, tatuando em preto e cinza e realismo. “De fato, gosto mais desses dois estilos, mas faço frases coloridas e outros estilos. Aqui não dá para fazer só um. Além disso, tenho família para sustentar”, comentou.
Apesar do sucesso e da família que formou com a esposa Thais Cristina Santos e Santos, da filha Eduarda e do enteado Gabriel, Boka sofreu uma grande perda há menos de um ano. “Fui criado pela minha tia, Josiane, a Zizi, porque minha mãe, Isabel, não tinha tempo, era lavadeira ou trabalhava como doméstica. Infelizmente, quando pude me reaproximar dela, ela faleceu 10 dias antes do Natal. É uma coisa que me dói muito”, relatou, chorando, ao recordar da mãe.

Boka com a mãe, Josiane, de quem lembra emocionado
Boka com a mãe, Josiane, de quem lembra emocionado

Paixão pelo Palmeiras e elogios

Além do rock e da tatuagem, Boka tem uma outra paixão, o Palmeiras. “Não perco um jogo do Palmeiras. Essa é uma paixão que me acompanha desde 1993, quando comecei a torcer pelo Verdão”, sorriu. Boka está há três anos no Gallery Tattoo do Shopping da Ilha, mas até a sua contratação foi de surpresa.

“Eu tinha convidado outro tatuador, mas na hora o cara me deixou na mão. Aí lembrei do Boka e o convidei. Ele aceitou e está comigo há três anos. Foi uma boa escolha, pois ele é um excelente profissional e está sempre com a agenda cheia”, disse o dono da rede de estúdio, Burg Mussury.

O cliente de Boka, Carlos Moura, explicou porque o escolheu para tatuar seu antebraço. “Quando a gente decide fazer uma tatuagem tem que pesquisar o profissional porque depois que a tatuagem está pronta se não ficar boa só resta lamentar pelo resto da vida”, disse.

Quem quiser conhecer a arte de Boka, basta ir ao Gallery Tattoo do Shopping da Ilha (telefone: (98) 98883-8586).

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