Roubo de dados

EUA acusam sete agentes russos de fraude eletrônica em Olimpíada

No Rio de Janeiro, eles teriam invadido rede de wifi para conseguir acesso a informações sobre antidoping nos Jogos Olímpicos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Russos teriam agido no Rio de Janeiro, por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016 na cidade
Russos teriam agido no Rio de Janeiro, por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016 na cidade (Olimpíada/Reuters)

WASHINGTON - Os Estados Unidos acusaram ontem sete funcionários da inteligência russa de conspirar para hackear computadores e roubar dados em uma tentativa de deslegitimar organizações internacionais antidoping, além de expor autoridades que revelaram o programa de doping de atletas patrocinado pelo governo russo.

Documento do Departamento de Justiça americano dá detalhes, entre outras coisas, de como os russos teriam agido no Rio de Janeiro, por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016 na cidade.

As acusações contra os russos incluem conspiração para cometer fraude com computadores, fraude de comunicação e lavagem de dinheiro, e sua divulgação acontece horas depois que autoridades holandesas disseram que frustraram uma tentativa de agentes da inteligência russa de invadir a Organização para a Proibição de Armas Químicas, em Haia, em abril.

Jogos do Rio

Em julho de 2016, foi divulgado o chamado 1º Relatório McLaren, da Agência Mundial Antidoping (WADA, na sigla em inglês), descrevendo como a Rússia fraudava o processo de testes antidoping durante e logo após os jogos de inverno de Sochi, em 2014.

Essa investigação contou com apoio da Agência Antidoping dos Estados Unidos (USADA) e o Centro Canadense de Ética no Esporte (CCES, agência antidoping do Canadá). A Corte Internacional de Arbitragem do Esporte decidiu então que 111 atletas russos seriam excluídos dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, por diversas federações internacionais de atletismo. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) impôs uma proibição geral dos atletas russos dos Jogos Paraolímpicos de 2016, que também foram realizados no Rio.

Segundo a Justiça americana, dias após o anúncio da exclusão dos atletas russos, os acusados se prepararam para invadir as redes da WADA, da USADA e da TAS / CAS.

"Os conspiradores, incluindo especificamente os acusados Ivan Sergeyevich Yermakov, de 32 anos, e Artem Andreyevich Malyshev, de 30 anos, registraram domínios falsos que imitavam domínios legítimos da WADA e da TAS / CAS, e outras infraestruturas, sondaram as redes dessas entidades e fizeram phishing com funcionários da WADA e da USADA", diz comunicado da Justiça americana.

Os EUA afirmam que, provavelmente por não terem conseguido capturar os logins necessários, ou porque as contas de uma vítima que foram comprometidas com sucesso não tinham os privilégios de acesso necessários para conseguir as informações que procuravam, os acusados Aleksei Sergeyevich Morenets, de 41 anos, e Evgenii Mikhaylovich Serebriakov, de 37 anos, foram ao Rio de Janeiro para realizar operações de hacking com suporte remoto de Yermakov.

Eles mantiveram acesso contínuo a redes de wi-fi usadas por funcionários antidoping no Rio. Ainda segundo a acusação, como resultado desses esforços, em agosto de 2016, os russos obtiveram as credenciais necessárias de um funcionário do Comitê Olímpico Internacional e, posteriormente, as usaram com outras credenciais para obter acesso não autorizado a uma conta num banco de dados antidoping.

Ainda segundo o governo americano, um alto funcionário antidoping da USADA viajou ao Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Enquanto esteve lá, o funcionário da USADA usou o Wi-Fi no hotel e outros pontos de acesso Wi-Fi no Rio para acessar remotamente os sistemas de computadores da USADA. Enquanto esses funcionário da USADA estava no Rio, os russos conseguiram "comprometer as credenciais da sua conta de e-mail", que incluía o recebimento dos resumos dos resultados dos testes de atletas e de medicamentos prescritos.

Ciberataque

O governo da Holanda anunciou ontem ter frustrado um ciberataque da agência de inteligência militar russa (GRU) contra a Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq) , que tem sede em Haia, e expulsado os quatro agentes da Rússia envolvidos. A Chancelaria russa negou as acusações, afirmando se tratar de "propaganda contra o país".

Os quatro suspeitos tinham passaportes diplomáticos. Segundo a Holanda, eles foram pegos em flagrante enquanto tentavam hackear a rede de computadores da Opaq de dentro de um carro alugado estacionado na frente de um hotel próximo à sede da organização. Quando foram detidos, cada um levava US$ 20 mil.

A tentativa de ataque, segundo as autoridades holandesas, aconteceu em abril deste ano. Naquele mês, a Opaq - que monitora a convenção internacional de 1993 que proibiu o uso de armas químicas - estava investigando o envenenamento do ex-agente duplo russo Sergei Skripal, ocorrido em março, na Inglaterra. O governo britânico também acusa a Rússia pelo ataque a Skripal e afirma que o agente nervoso usado contra ele pertencia à classe novichok, fabricada na antiga União Soviética. Posteriormente, a Opaq confirmou que a substância era novichok, mas não apontou onde ela foi produzida.

Em entrevista coletiva, a ministra da Defesa da Holanda, Ank Bijleveld, afirmou que um laptop pertencente a um dos agentes fora usado no Brasil, na Suíça e na Malásia, sem dar mais detalhes. Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Defesa holandês disse que não daria mais informações além do que já foi divulgado.

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