Saúde

Infecções causadas pela bactéria H. pylori são comuns em São Luís

Segundo pesquisas da UFMA, num grupo com 26 pacientes com queixas referentes ao aparelho digestivo superior, 96% apresentaram infecção por H. pylori; alimentos e água contaminada podem ser principais formas de transmissão

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

SÃO LUÍS - Infecções gástricas causadas pela Helicobacter pylori, conhecida popularmente por
H. pylori, têm se tornado cada vez mais frequentes na capital maranhense. Entre as formas de contágio, o consumo de alimentos não higienizados e água contaminada são tidas como as mais populares. Especialistas alertam para os cuidados que devem ser tomados para evitar os problemas e como tratar as infecções causadas pela bactéria.

Distúrbios gástricos acometem grande parte da população maranhense. A gastrite destaca-se como a mais comum, podendo ter diversas origens, entre elas a contaminação pela bactéria H. pylori. Responsável por diversos traumas no aparelho gástrico humano, a H. pylori fixa-se à superfície da mucosa gástrica, podendo viver no estômago por conta de sua capacidade de transformar a ureia do suco gástrico em amônia e gás carbônico, obtendo, assim, energia suficiente para se manter em atividade.

A infecção pela bactéria é muito comum. De acordo com pesquisas realizadas pelo Núcleo de Patologia Tropical e Medicina Social do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), entre 26 pacientes com queixas referentes ao aparelho digestivo superior, 96% apresentaram infecção por Helicobacter pylori.

Existem indícios de que se pode contraí-la pelo contato oral com água e alimentos que estiveram próximo a fezes contaminadas. Entretanto, sua transmissão ainda não foi totalmente esclarecida.

Sintomas
Com a aceleração das rotinas, muitas pessoas optam pelas refeições rápidas, com custos mais acessíveis, meios bastante propensos para adquirir a bactéria, que, em diversos casos, não manifesta sintomas em curto prazo. Foi o que aconteceu com a artesã Claudecy Lucena.
“Por conta do trabalho, passava o dia todo fora de casa e precisava comer em locais diferentes a cada dia. Quando comecei a sentir os sintomas e procurei o médico, os exames constataram que já havia uma úlcera no meu estômago. Tive que fazer tratamento com antibióticos e outras medicações e também seguir uma dieta rigorosa”, relatou.

A realidade também chama a atenção de quem trabalha com venda de lanches e refeições. Maria do Socorro Pereira vende lanches na UFMA há cerca de 14 anos e garante tomar todos os cuidados necessários na produção e conservação dos alimentos. “Antes de começar a trabalhar aqui, todos nós passamos por um treinamento de gestão de alimentos. Sempre trabalhamos de luva, touca, avental, mantemos os alimentos frios refrigerados e a higiene dos utensílios utilizados e do box. Até hoje não tive nenhuma queixa dos meus clientes”, afirmou.

Quem consome lanches de rua com frequência leva em conta alguns aspectos antes de ingerir os alimentos. O estudante de Artes Visuais, Fernando Henrique Lima passou a ter mais cuidados desde que passou por problemas estomacais causados por infecção alimentar. “Sempre me preocupo e presto atenção nas condições de higiene de onde lancho, como os alimentos são armazenados e tomo cuidado com os condimentos que muitas vezes são caseiros”, destacou o estudante.

Fiscalizações
Com frequentes fiscalizações realizadas na área de alimentos, que ocorrem em rotinas de campo ou direcionadas a estabelecimentos, decorrentes dos processos de licenciamento, a Vigilância Sanitária Municipal de São Luís (Visa) averiguou inadequação em 50% dos estabelecimentos vistoriados somente neste ano, em São Luís. Dos 500 estabelecimentos inspecionados, entre bares, restaurantes e lanchonetes, 250 apresentaram alguma inadequação. Um dos perigos para o consumidor são as doenças transmitidas por alimentos (DTA).

Nas inspeções realizadas pela Visa, são abordadas condições sanitárias, estrutura do estabelecimento, armazenamento e conservação dos alimentos e apresentação dos manipuladores (acessórios e equipamentos para o contato na preparação dos alimentos utilizados por quem os produz). Das inadequações registradas mais recorrentes, de acordo com dados divulgados pelo órgão, estão a falta de organização e limpeza, armazenamento e conservação inadequados e produtos vencidos, dos quais é imprescindível a qualidade de cada item para o consumidor.

Ainda de acordo com a Visa, existem alimentos que estão mais propícios à contaminação, que são aqueles que exigem a conservação com controle de temperatura (refrigeração ou congelamento). Além disso, os alimentos de rua estão facilmente sujeitos a riscos de contaminação cruzada (aquela que pode ocorrer por meio dos equipamentos e utensílios, usados durante a manipulação dos alimentos, mas também pelos manipuladores: mãos e vestuário de proteção), exposição ao sol e poeira e insetos, fatores esses que também propiciam a multiplicação de microrganismos que afetam a qualidade dos produtos e a saúde do consumidor.

Doenças relacionadas

Estimativas da OMS dão conta que mais da metade da população mundial convive com a H. pylori, a maioria, sem apresentar sintomas. A bactéria é responsável pelo surgimento de três doenças gastrintestinais: úlceras gástricas e duodenais, câncer de estômago e linfoma do tipo MALT, doença maligna que afeta cerca de um paciente para cada 10 mil infectados. De acordo com a médica gastroenterologista Dylma Cotrim, do Hapvida Saúde, o tratamento eficaz reduz as chances de agravamentos.

“Quando tratada a infecção, cerca de 80% das úlceras gástricas e duodenais que não tenham sido provocadas pelo uso de anti-inflamatórios são curadas. O agravamento se dá quando surge um processo inflamatório na mucosa gástrica, provocando, assim, o surgimento de câncer de estômago. O linfoma de estômago do tipo MALT, quando ainda está localizado, ou seja, não espalhado para outras partes do organismo, tem regressão diante de um tratamento com antibióticos para curar a infecção pela bactéria”, esclareceu a especialista.

Sintomas

É muito comum haver a infecção por esta bactéria, sem que ocorram sintomas, entretanto, ela pode destruir a barreira natural que protege as paredes internas do estômago e intestino, que sofrem efeitos do ácido gástrico, além de aumentar a capacidade de inflamação dos tecidos desta região. Isto provoca sintomas como:

- Dor ou sensação de queimação no estômago;

- Falta de apetite;

- Enjoo;

- Vômito;

- Fezes com sangue e anemia, como consequência da erosão das paredes do estômago.

Diagnóstico

A médica explicou ainda que diagnóstico pode se dar com exame de sangue, com a detecção de gás carbônico marcado com isótopos radioativos na expiração, com exame de fezes ou por meio de uma endoscopia, que colhe fragmentos da mucosa gástrica para análise. O tratamento é feito com a combinação de três ou quatro medicamentos administrados durante 7 a 14 dias, conforme o caso. Em geral, os índices de cura da infecção ultrapassam 90%.

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