Retaliação

Rússia anuncia que reforçará baterias antiaéreas da Síria

Kremlin reitera avaliação de que derrubada de aeronave que matou 15 soldados russos na semana passada foi provocada por Israel

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Rússia anunciou que vai reforçar a defesa antiaérea síria com baterias S-300
Rússia anunciou que vai reforçar a defesa antiaérea síria com baterias S-300 (Reuters)

MOSCOU - O governo da Rússia reiterou ontem que considera os militares israelenses culpados pela derrubada de um avião de reconhecimento russo pela defesa antiaérea síria, na semana passada, e afirmou que o incidente prejudicará as relações russo-israelenses. Na última sexta-feira, 21, o governo de Israel havia afirmado que conseguira provar sua inocência no incidente, ocorrido na terça-feira,18, da semana passada.

"A destruição do avião causou a morte de 15 dos nossos soldados. Segundo as informações de nossos especialistas militares, houve atos premeditados dos pilotos israelenses, algo que só pode prejudicar nossas relações [com Israel]", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, confirmando a avaliação inicial do Ministério da Defesa russo, de que um jato israelense usou a cobertura do avião russo para atacar alvos iranianos na Síria.

Em reação ao incidente, o Ministério da Defesa russo anunciou que vai reforçar a defesa antiaérea síria com baterias S-300 e bloqueará as comunicações no Mediterrâneo entre os aviões que bombardeiem a Síria.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, informou que os militares sírios já foram treinados para usar esse sistema de defesa, que originalmente iria ser enviado à Síria em 2013. Segundo ele, a entrega havia sido suspensa a pedido de Israel. "No entanto, a situação mudou nos últimos dias", frisou Shoigu.

Nas regiões costeiras da Síria no Mediterrâneo, acrescentou ele, "a navegação por satélite, os radares de bordo e os sistemas de comunicação de aviões militares que estejam atacando alvos em território sírio serão bloqueados".

Para o Kremlin, a aeronave russa foi usada como "escudo" contra os mísseis sírios no incidente. "Estamos convencidos de que nossas medidas vão esfriar o ardor de alguns e impedirão ações irrefletidas que são uma ameaça para nossos soldados", avisou Shoigu.

Apesar das implicações diretas das palavras de Shoigu, o porta-voz do Kremlin disse que a decisão russa sobre os S-300 "não estava dirigida a nenhum terceiro país". "A Rússia precisa aumentar a segurança de suas forças e isso deve estar claro para todo mundo", afirmou.

No momento, há sistemas antiaéreos S-300 implantados em torno da base naval russa de Tartus, no território sírio. Há sistemas ainda mais modernos (S-400) na base aérea russa de Khmeimim, no Oeste da Síria. Nos dois casos, os sistemas são operados pelos russos, e não pelos sírios.

Putin avisou Assad

Shoigu, em pronunciamento na TV russa, disse que o presidente Vladimir Putin ordenou o reforço, o que foi confirmado por um comunicado da Presidência de Bashar al-Assad, na Síria. "O presidente Putin responsabilizou Israel pela queda do avião e informou ao presidente Assad que a Rússia vai aperfeiçoar os sistemas antiaéreos sírios", disse o comunicado.

O Kremlin informou ainda que Putin falou por telefone com o premier israelense Benjamin Netanyahu sobre a decisão de reforçar as defesas sírias, e lhe disse que a Rússia rechaçou a versão israelense para a derrubada da aeronave. Putin afirmou ainda a Netanyahu que a medida visa a proteger os militares russos atuando na região.

Netanyahu, por sua vez, advertiu Putin contra a entrega de armas sofisticadas à Síria, dizendo que isso aumentaria os riscos na região, e enfatizou a culpa do Exército sírio na queda do avião de reconhecimento. O primeiro-ministro israelense reiterou ao presidente russo sua confiança nas conclusões da investigação sobre o incidente e reiterou que a responsabilidade por abater a aeronave foi dos militares sírios.

Nos Estados Unidos, o secretário de Segurança John Bolton afirmou que os planos russos representariam uma "escalada significativa" por parte de Moscou e disse esperar que o país reconsidere.

O avião de reconhecimento russo, um Il-20, foi abatido no dia 18 de setembro por baterias antiaéreas sírias, num incidente de fogo amigo, pois a Síria é aliada da Rússia. O Ministério da Defesa russo afirmou então ter responsabilizado Israel pela queda da aeronave porque, na hora do incidente, jatos militares israelenses F-16 estavam fazendo ataques sobre alvos iranianos na Síria, e só haviam alertado Moscou um minuto antes da operação. Isso teria deixado o avião de reconhecimento com 15 tripulantes sob fogo cruzado.

"Nós adotamos as medidas de resposta adequadas para reforçar a segurança das tropas russas na Síria", afirmou Shoigu. "A Força Aérea síria receberá em duas semanas os modernos sistemas S-300, capazes de interceptar aparelhos a uma distância de mais de 250 quilômetros. Eles podem atacar ao mesmo tempo vários alvos no ar".

Acordo rompido

Até o incidente da semana passada, havia um acordo não escrito entre russos e israelenses sobre a atuação na Síria. Segundo esse acordo, Israel poderia continuar fazendo incursões de espionagem e atingindo alvos de seus inimigos na Síria, incluindo contingentes iranianos e do Hezbollah libanês, mas não poderia pôr os militares russos em risco nem atingi-los.

Para Amos Yadlin, ex-chefe da Inteligência militar israelense e diretor do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv, a acusação de que Israel contribuiu para a queda do avião não passa de "fake news" e quer "dissipar pressões diplomáticas, botando uma cortina de fumaça sobre a responsabilidade russa e síria na queda da aeronave".

"Dar o S-300 a operadores amadores sírios aumenta o risco para a própria Força Aérea russa, para Israel, para a coalizão dos EUA e para a aviação civil", diz Yadlin. "Israel vem se preparando para essa ameaça há 20 anos e saberá como lidar com ela".

Já para Alexander Khramchikhin, do Instituto de Análise Política e Militar em Moscou, os novos sistemas antiaéreos podem "afetar seriamente" a capacidade israelense de fazer ataques na região. E Dmitri Trenin, do Centro Carnegie em Moscou, a presença dos S-300 vai tornar Israel "mais cuidadoso quando estiver perto de forças russas".

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