Uma via marcante para São Luís

Lar do sossego e reduto de gerações inteiras de famílias

Pelas histórias vividas e contadas ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, a Rua do Passeio virou reduto de pessoas que ali consolidaram famílias

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

[e-s001]De tantas histórias ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, a Rua do Passeio virou reduto de pessoas que por ali consolidaram famílias e viveram por décadas. Na via, é possível ver ainda diversos estabelecimentos comerciais, instituições religiosas, hospitais e unidades públicas administrativas.

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Quando se conversa com moradores antigos, o que se ouve é que a Rua do Passeio – ao contrário da imagem atual de uma região central, caótica e cheia de problemas – é pacata e agradável. Quem reside na via não tem dúvidas: não pensa em morar em outra parte da cidade que não seja na Rua do Passeio.


[e-s001]Uma dessas personagens é Admée Duailibe, que vive há mais de 60 anos em uma residência simples e agradável naquela via – próximo à Praça da Saudade. No imóvel, a aposentada criou filhos, estreitou e consolidou amizades com vizinhos e pessoas próximas, e criou um apego indescritível com a rua. “Eu amo isso aqui! Adoro morar aqui, no meu Centro e na minha Rua do Passeio”, disse.

Ela não pensa em se mudar de forma alguma e, no imóvel, adquiriu hábitos, como pintura e leitura. “Eu me sento aqui na minha porta, vejo as pessoas passarem e curto a minha casa e a minha rua, sempre”, disse.

Exemplo de vitalidade
Outro exemplo de moradora antiga da Rua do Passeio e que adotou a via como uma extensão da própria casa é a aposentada, de 85 anos, Gláucia Pinto Martins. Criada no Codozinho, ela se mudou para o imóvel na via – também próxima à Praça da Saudade, há pouco mais de 60 anos. Lembra com carinho da data. “Nossa, quando a gente chegou aqui para morar, foi fantástico. Morar no Centro, à época, era algo incrível. E até hoje tenho a mesma sensação”, disse.

[e-s001]Ela lembra com carinho da época dos bondes que passavam pela Rua do Passeio. “Ah, meu filho, já peguei muito bonde na porta da minha casa. Uma época boa e que deveria voltar, com certeza”, afirmou. Em volta da casa de dona Gláucia, vários estabelecimentos comerciais que oferecem de tudo, desde frutas, verduras, ferramentas para serviços de marcenaria, dentre outros.

CURIOSIDADES DA RUA DO PASSEIO

O surgimento do Fuzileiros e os cines Rialto e Passeio
Um dos ícones do samba e do carnaval de rua da Ilha também começou a ser articulado na Rua do Passeio, quando jovens da Madre Deus se dirigiram em uma tarde de 1935 para assistir a um filme no antigo Cine Rialto (que funcionava na Rua do Passeio próximo ao Hospital Socorrão I e citado no documentário “Marisa Vai ao Cinema”). A produção cinematográfica à época era “O Fuzileiro” e, após verem o filme, os jovens saíram convencidos de que, no Carnaval seguinte, haveria um grupo com referência à produção. Foi aí que surgiu, em janeiro de 1936, o Fuzileiros da Fuzarca, bloco considerado o mais longevo da cidade. Outro cinema marcante e mais recente da Rua do Passeio era o Cine Passeio, que foi desativado há alguns anos. Hoje funciona uma sapataria, no local.

[e-s001]Rua do Passeio: sede dos grandes carnavais de rua
Se normalmente a Rua do Passeio registra o fluxo de milhares de veículos por dia, em meados das décadas de 1960 e 1970, a via foi cenário de parte do circuito de rua do carnaval ludovicense. Era na via – e em parte da rua Rio Branco – que era montada a estrutura de arquibancadas para o público assistir aos desfiles de blocos de rua e escolas de samba. Agremiações tradicionais, como a Turma do Quinto – célebre grupo da Madre Deus – e Turma de Mangueira desfilaram em circuitos montados na rua do Passeio. Antes de receber os blocos e escolas, na década de 1930, já há registros dos primeiros blocos e das “batucadas” sendo ecoadas nos circuitos que passavam pela Rua do Passeio. “Nesta época, já havia blocos que passavam pela Rua do Passeio com a essência da festa, que é justamente ir para as ruas curtir a folia de Momo”, disse Ramssés de Souza, pesquisador. Com o passar dos anos e a implantação de unidades hospitalares no entorno da rua do Passeio, o carnaval na região perdeu força. Tanto que, em 2007, o circuito carnavalesco pela via chegou a ser abolido. Três anos depois, por decisão da Câmara Municipal, o circuito Deodoro/Rua do Passeio/Madre Deus voltou à ativa, sob a alegação de que a tradição da passagem pelos blocos na Rua do Passeio era antiga e que merecia ser respeitada.


Hospital Português e Centro de Saúde Paulo Ramos
Outra referência da Rua do Passeio é o Hospital Português, um dos mais tradicionais da cidade e ainda em funcionamento. Fundado em 1869 pela Sociedade Humanitária 1 de dezembro, foi construído, até então, para atender à comunidade lusitana no estado. De acordo com o arquivo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) “para a construção do hospital que pudesse atender de forma mais cômoda a comunidade portuguesa de São Luís, foi adquirida uma grande propriedade conhecida por Quinta do Monteiro”. Já o Centro de Saúde Paulo Ramos, foi construído em 1941, para para prevenir a incidência da peste branca. Atualmente faz parte da rede pública municipal e oferece atendimentos nas mais diferentes especialidades.

SAIBA MAIS

[e-s001]Rua do Passeio como rota dos bondes
A Rua do Passeio também estava na rota das linhas dos bondes que, por décadas, marcaram o cotidiano da população. Pela via, de acordo com “Os trilhos do progresso: a implantação dos serviços de bondes elétricos em São Luís”, de Janilson Santos, passavam os bondes das linhas Gonçalves Dias (na volta do roteiro pela Rua Grande e Canto da Viração) e São Pantaleão (na ida da rota). De acordo com o trabalho de Sylvânio Aguiar Mendes, intitulado “Entre Burros e Empurrões: uma história dos bondes elétricos em São Luís (1924-1966)”, os bondes que cortavam a Rua do Passeio eram da Ulen & Company, empresa norte americana de propriedade do ex-advogado Henry Charle Ulen, sediada em Nova York.


Rua do Passeio em “A Revistinha”
De acordo com “Breve História das Ruas e Praças de São Luís”, a “Revistinha” - jornal fiel da cidade de São Luís no início do século XX, registrou a partir de texto escrito por Tancredo Cordeiro uma reforma feita na rua do Passeio. Ele relatou com as seguintes palavras: “Quem fica na alta ponta/É a rua do Passeio/ Tôda ela reformada / Debaixo de muito asseio”, escreveu.


A “Palhoça” da Rua do Passeio
Ainda segundo Domingos Vieira Filho, na “extensa e ensolarada rua do Passeio” antiga havia, em meados de 1920, uma praça denominada de Clodomir Cardoso – conhecida popularmente como “Palhoça”. Nesse local, que deveria servir como lazer social das famílias, era despejado todo o lixo da vizinhança.

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