Acordo de paz

Coreia do Norte decide fechar seu local de testes de mísseis

Cúpula das Coreias termina com promessas de fechamento de local de testes de mísseis e candidatura olímpica conjunta

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
Moon Jae-in e Kim Jong-un mostram documento sobre acordo após reunião em Pyongyang
Moon Jae-in e Kim Jong-un mostram documento sobre acordo após reunião em Pyongyang (AFP/Coreias)

PYONGYANG - A cúpula entre os líderes de Coreia do Norte e Coreia do Sul em Pyongyang terminou ontem, 19, com o anúncio de novos passos de reaproximação dos dois países, incluindo o fechamento do sítio norte-coreano de testes de mísseis de Tongchang-ri, um acordo que reduz a possibilidade de confrontos entre seus exércitos ao redor da fronteira que compartilham, e uma candidatura conjunta aos Jogos Olímpicos de 2032, em uma nova demonstração da diplomacia esportiva após os Jogos de Inverno de 2018, que serviram para quebrar o gelo entre os dois vizinhos.

O líder sul-coreano revelou ainda que a Coreia do Norte poderá fechar seu complexo nuclear de Yongbyon, desde que Washington adote as "medidas correspondentes", sem precisar quais.

A Coreia do Norte é alvo de múltiplas sanções do Conselho de Segurança da ONU devido a seus programas nuclear e balístico, e já realizou numerosos lançamentos de mísseis a partir de Tongchang-ri, mas também de outros locais, como o Aeroporto Internacional de Pyongyang.

Kim Jong-un revelou que poderá viajar a Seul "em um futuro próximo", no que seria a primeira visita de um líder norte-coreano à capital sul-coreana desde a divisão da Península. "Prometi ao presidente Moon Jae-in que visitarei Seul em um futuro próximo", disse Kim durante entrevista coletiva ao final da cúpula em Pyongyang.

Moon Jae-in, que visitou a capital norte-coreana com o objetivo de relançar as negociações sobre a eliminação das armas nucleares da península, avaliou que a visita poderá ocorrer este ano.

Acordo

As duas Coreias também assinaram ontem um histórico acordo militar que reduz a possibilidade de confrontos entre seus respectivos exércitos ao redor da fronteira que compartilham.

O ministro interino da Defesa da Coreia do Sul, Song Young-moo, e seu colega da Coreia do Norte, No Kwang-chol, assinaram o acordo durante a cúpula entre os líderes dos dois países, tecnicamente ainda em guerra.

De acordo com o documento, as Coreias suspenderão a partir do dia 1º de novembro suas respectivas manobras ao longo da fronteira terrestre. Além disso, os dois países eliminarão 11 postos de guarda de fronteira antes do final do ano.

Seul e Pyongyang também estabelecerão uma zona de restrição de voo perto da divisa e uma área em torno de fronteira marítima ocidental, onde manobras e exercícios com fogo real estarão proibidos.

O documento é até hoje o acordo de maior importância para a redução da tensão militar entre dois países que permanecem em guerra desde 1950.

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, insistiu antes de viajar para Pyongyang em que a ativação de um mecanismo deste tipo representa um grande passo para o estabelecimento da paz na península e para melhorar os laços entre dos dois países, algo que favorece, por sua vez, o diálogo da Coreia do Norte com os EUA sobre desnuclearização.

Na declaração conjunta assinada hoje por Moon e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, Pyongyang se compromete em tomar novas medidas simbólicas, como o fechamento permanente da sua central de Yongbyon, epicentro de seu programa nuclear, caso Washington cumpra com o que foi estipulado na cúpula de Singapura, em junho.

Ferrovias e estradas

Por sua vez, na declaração conjunta, as duas Coreias também concordaram em aumentar os intercâmbios além das fronteiras para impulsionar o desenvolvimento econômico comum, e particularmente, realizarão, antes do final do ano, a conexão de suas ferrovias e estradas.

Agora resta ver o alcance deste projeto, já que a utilização destas vias de transporte - que já estão de fato conectadas há muitos anos - poderia representar uma violação das sanções que pesam sobre Pyongyang.

Por último, concordaram na realização de videoconferências das famílias separadas pela Guerra da Coreia e a abertura de um escritório na cidade norte-coreana de Kaesong, fronteira entre os países, onde sul e norte-coreanos possam comparecer para tentar localizar parentes que vivem ao outro lado da fronteira.

Jogos Olímpicos

As duas Coreias anunciaram ainda ontem uma candidatura conjunta às Olimpíadas de 2032, projeto que exigirá um nível sem precedentes de cooperação e confiança mútua entre os dois países, está contido no comunicado conjunto emitido no final da cúpula.

Os Jogos de Inverno foram a ocasião para os atletas das duas Coreias desfilarem juntos durante a cerimônia de abertura, atrás de uma bandeira unificadora mostrando uma península unida e sem fronteiras. O Norte e o Sul também formaram sua primeira equipe olímpica unificada no hóquei no gelo feminino.

Washington e Moscou

Em um tuíte, o presidente americano Donald Trump elogiou as conversações entre Moon e Kim em Pyongyang, definindo-as como "emocionantes".

"Kim Jong-un concordou em permitir inspeções nucleares, sujeitas a negociações finais, e também em desmantelar permanentemente uma área de lançamento [de mísseis] na presença de especialistas internacionais", celebrou Trump. "Enquanto isso, não haverá foguetes nem testes nucleares. E os restos mortais de heróis [da Guerra da Coreia] continuarão a ser devolvidos aos Estados Unidos. Além disso, a Coreia do Norte e a Coreia do Sul vão se candidatar a sediar conjuntamente as Olímpiadas de 2032. Muito emocionante!"

Em Moscou, o Kremlin também comemorou o encontro na capital norte-coreana, dizendo aprovar os avanços alcançados pelos dois líderes e descrevendo-os como passos efetivos na direção de um acordo político.

A Coreia do Norte é alvo de múltiplas sanções do Conselho de Segurança da ONU devido a seus programas nuclear e de mísseis intercontinentais, e já realizou vários lançamentos de mísseis a partir de Tongchang-ri.

Impasse

Moon e Kim se encontraram em abril para uma primeira reunião muito simbólica na Zona Desmilitarizada que separa os dois países desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953), que sedimentou a divisão da península entre as repúblicas capitalista e comunista.

Em sua cúpula com Trump, em junho, em Cingapura, Kim havia prometido a desnuclearização em termos genéricos. No entanto, as negociações com os Estados Unidos estão paralisadas porque, depois de congelar os testes de mísseis intercontinentais e de bombas, o norte-coreano pede a contrapartida de Washington, na forma de apoio a um tratado de paz definitivo entre as duas Coreias. O governo americano tem exigido antes "uma desnuclearização definitiva e completamente verificável".

Ampla cobertura

O jornal "Rodong Sinmun", órgão oficial do Partido Comunista que governa o Norte, fez uma grande cobertura da cúpula, com a publicação de 35 fotos em quatro de suas seis páginas na edição de ontem.

A primeira página tem imagens do cumprimento entre os dois governantes no aeroporto de Pyongyang e da aclamação popular, cuidadosamente coreografada, durante a passagem de Kim e Moon pelas ruas da capital.

Pyongyang quer passar uma imagem de modernidade, o que se reflete em vários eventos previstos no programa oficial.

MAIS

Moon Jae-in viajou até a capital do norte para se encontrar com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Veja os principais compromissos assumidos:

- Fazer uma candidatura conjunta para sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2032.

- Criar ligações ferroviárias e rodoviárias entre o Norte e o Sul no próximo ano.

- Parar os exercícios militares ao longo da Linha de Demarcação Militar, que divide os dois -países, até 1º de novembro.

- Remover 11 postos de guarda na zona desmilitarizada até o final do ano.
- Normalizar as operações no complexo industrial Kaesong e no projeto turístico Kumgang assim que as condições permitirem.

- Coreia do Norte se compromete a destruir local de teste de mísseis.

Frase

"O Norte aceitou fechar, de forma permanente, o sítio de testes de mísseis de Tongchang-ri e a base de lançamento de mísseis, na presença de especialistas dos países afetados"

Moon Jae-in

Presidente sul-coreano

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