Centro de Lançamento

Brasil quer arrecadar R$ 140 mi ao ano com ''aluguel'' do CLA

Montante é cinco vezes o valor médio anual investido pela União no programa espacial na última década

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
A nova estrutura da plataforma de lançamento de foguetes da base de Alcântara, no Maranhão
A nova estrutura da plataforma de lançamento de foguetes da base de Alcântara, no Maranhão (CLA)

ALCÂNTARA - Cento e quarenta milhões é quanto a Força Aérea Brasileira espera faturar com o 'aluguel' do Centro de Lançamento de Alcântara ( CLA), no Maranhão, com empresas de países que têm tradição de satélites, como Estados Unidos, Rússia e China. Esse montante é cinco vezes o valor médio anual investido pela União no programa espacial nos últimos 10 anos, segundo a FAB.

O plano prevê a criação de uma empresa pública, a Alada, a um custo inicial de R$ 1 milhão, vinculada ao Ministério da Defesa, que teria agilidade para fechar contratos com estrangeiros, arrecadar as taxas e reinvestir o valor no programa espacial, reduzindo a burocracia e evitando a lei de licitações.

A FAB rejeita a expressão “aluguel” para o sistema proposto, e compara o CLA a um aeroporto, no qual as companhias aéreas pagam pelo direito de operar. “Nós vamos ceder ou entregar um pedaço de Alcântara aos Estados Unidos? Nós vamos [deixar] fincar uma bandeira aqui e vamos embora? Nada disso”, diz o major brigadeiro Luiz Fernando de Aguiar, presidente da Comissão de Coordenação de Implantação de Sistemas Espaciais. Em 2001, o governo Fernando Henrique Cardoso tentou fechar com os EUA um acordo semelhante.

“O acordo de 2001 era muito desigual, desequilibrado em termos de nação brasileira. Ele era muito, digamos assim, americanizado, e pouco abrasileirado”, reconheceu Aguiar, citando que o antigo acerto “previa área exclusiva para operação dos EUA, entrada de material sem verificação por parte da Receita [Federal]”. Esses pontos foram modificados, segundo o militar, para que o acordo se torne “mais palatável” e possa ser aprovado pelo Congresso. A íntegra da minuta do acordo ainda não é conhecida.

O acordo, diz Aguiar, terá o efeito em cascata de permitir outros acertos bilaterais, pois muitas empresas da Europa usam equipamentos e peças americanos. Para ele, o Brasil poderia assim participar do mercado mundial espacial, que movimenta cerca de US$ 330 bilhões ao ano. A ideia é seguir os passos do centro espacial europeu Kourou, na Guiana Francesa, que também comercializa bases de lançamento.

Uma mina de ouro

Para Aguiar, o CLA é uma mina de ouro, tendo como principal atrativo a sua localização. Como a estação é próxima da linha do Equador, o foguete que carrega o satélite poderia economizar até 30% de combustível, permitindo que leve mais cargas, como outros satélites. A FAB acredita que a futura empresa poderia negociar posições até com a empresa americana SpaceX, que planeja lançar mais de 900 satélites nos próximos anos.

Os militares, porém, afirmam querer ocupar todos os 20 mil hectares do complexo. O centro foi inaugurado em 1983, nos últimos anos da ditadura militar. Uma das consequências foi a transferências de centenas de pescadores e quilombolas para longe da faixa litorânea, por razões de segurança. Para ocupar os 20 mil hectares e criar os novos locais de lançamento, a FAB estima que terá de remover mais de 2.000 pessoas.

Lançamento de foguete

Quinze anos após a explosão que vitimou 21 pessoas, o CLA está preparado para uma nova tentativa de lançar um foguete. A previsão é de que isso aconteça em 2021.

“Depois de 15 anos do acidente nós podemos dizer que novamente estamos em condições seguras de operar novos foguetes. Em 2003 nós tivemos um acidente significativo aqui, perdemos vidas e toda a torre de lançamento foi remodelada, colocada no sistema de segurança previsto mundialmente”, disse Luiz Fernando de Aguiar.

Desde 2009 foram investidos mais de R$ 120 milhões na reconstrução da nova Torre Móvel de Integração, plataforma que será utilizada para lançar o Veículo Lançador de Microssatélites (VLM) em 2021. Totalmente automatizada, a plataforma também recebeu uma torre de fuga e evasão equipada com sistemas de monitoramento de temperatura e fumaça.

Está previsto para o ano que vem um teste preparatório para o lançamento do próximo foguete orbital. Chamado de VS 50, o lançamento fará o teste de um dos motores do VLM.

“Esse primeiro já seria um demonstrador de conceito a partir do qual já viria o Aquila I, que é o derivado dele, e já teríamos uma carga útil para ser lançada. A torre está pronta, só precisamos fazer pequenas adaptações. Ela vai ser integralmente utilizada para o VLM”, explicou o coronel Luciano Valentim, diretor do centro.

Em janeiro de 2016 foram entregues as obras do Prédio de Segurança do Setor de Preparação e Lançamento, que reúne todos os profissionais envolvidos em operações de lançamento em uma única área segura, e permite o controle de acesso às áreas de risco.

“O risco de acidentes nós trabalhamos sempre para minimizar, para ter próximo do risco zero. É uma atividade de risco, sem dúvida nenhuma. Mas da forma como nós trabalhamos aqui é para que se minimize qualquer tipo de acidente“, disse o coronel Valentim.

A explosão na área de lançamento principal do centro ocorreu em 2003 na terceira tentativa de colocar em órbita um Veículo Lançador de Satélites (VLS). As duas tentativas anteriores, em 1997 e 1999, também não tiveram sucesso. Na primeira, um dos propulsores do foguete falhou e ele saiu da trajetória. A pane começou depois que ele saiu do chão, o computador de bordo percebeu o desvio e destruiu o foguete. Na segunda os propulsores funcionaram, mas tiveram problemas quando já subindo. Em 2003, o foguete não chegou a subir, explodiu em solo matando 21 técnicos brasileiros.

Manutenção

Enquanto não realiza um novo lançamento de foguete orbital, o centro mantém sua atividade com o lançamento de foguetes suborbitais produzidos no Brasil com experimentos para institutos de pesquisa ou universidades, pelo menos uma vez ao ano. Quando não há essa demanda, o centro lança foguetes de treinamento básico e intermediário para manter a operacionalidade das equipes.

O Centro de Lançamentos de Alcântara tem em torno de 900 militares e servidores civis que atuam nas áreas de lançamento e no apoio e suporte às atividades que envolvem as operações realizadas como administração, logística, saúde e segurança. Cerca de 140 profissionais entre militares e civis atuam na área operacional do centro diretamente em operações com veículos de menor porte.

Desde 2009 foram realizadas quatro operações em atendimento ao Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).

Ao todo, 490 veículos foram lançados pelo Centro em um total de 101 operações de lançamentos até hoje. Estima-se uma economia em até 30% de combustível dos veículos lançados no Centro em comparação com outros centros de lançamento, devido à proximidade com a Linha do Equador.

Mais

Subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), o Centro de Lançamento de Alcântara foi criado em 1983 para atender as atividades de lançamento e rastreio de engenhos aeroespaciais e de coleta e processamento de dados de suas cargas úteis assim como a execução de testes e experimentos de interesse do Comando da Aeronáutica, relacionados com a Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais (PNDAE).

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