Preservação

França usará recursos de nova loteria para conservar patrimônio histórico

Valor equivalente a 10% das vendas de bilhetes e raspadinhas serão destinadas a um fundo para recuperar centenas de prédios históricos ''esquecidos'' pelo país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
Em Thiron-Gardais, na França, a igreja é mantida em pé por suportes de madeira
Em Thiron-Gardais, na França, a igreja é mantida em pé por suportes de madeira (Igreja na França )

PARIS - A França lançou uma nova loteria para ajudar a preservar o patrimônio histórico ameaçado no país. O historiador e apresentador de televisão Stéphane Bern, que lidera a iniciativa, está emprestando sua imagem a uma causa que ele preza - conservar o passado do país que está se deteriorando.

Uma das personalidades mais famosas na França, Bern tem um lado que é menos conhecido: ele é anglófilo, nome dado a quem tem afinidade com a cultura inglesa.

E todo o projeto da loteria é claramente baseado em sua experiência no Reino Unido. "A Inglaterra sempre foi uma fonte de inspiração. Os britânicos têm mais respeito por seu patrimônio do que nós franceses", diz ele.

"Eu conheci pessoas da Loteria Nacional (do Reino Unido), eles me contaram como alguns recursos do jogo foram usados ​​para conservação e pensei: é isso que devemos fazer na França", conta.

"Falei com o Emmanuel Macron (quando ele ainda era candidato) e ele disse: 'Tudo bem, quando eu for presidente, você vai em frente'."

O resultado é a Loto du Patrimoine ("Loto do Patrimônio", em tradução livre) - e seu primeiro sorteio aconteceu na sexta-feira,14.

A iniciativa abrange, na verdade, dois jogos distintos. Há os bilhetes de apostas na loteria, que custam 3 euros e prometem um prêmio de até 13 milhões de euros, e a raspadinha, que está à venda por 15 euros - o preço é mais salgado, mas a chance de recuperar o investimento é de uma em três e o participante concorre a até 1,5 milhão de euros.

Segundo Bern, 10% das vendas serão destinadas ao Fundo do Patrimônio - ele espera arrecadar de 15 milhões de euros a 20 milhões de euros no primeiro ano.

Antes do lançamento da loteria, ele fez uma consulta pública pela Internet, que deu origem a uma relação de cerca de 2 mil prédios em estado de deterioração. A lista foi reduzida para 269 projetos considerados prioritários - dos quais 18 são descritos como "emblemáticos" e serão os primeiros a receber dinheiro.

Entre eles há um aqueduto romano perto de Lyon, um forte nas ilhas Glenan, na Bretanha, uma vila do século 19 a oeste de Paris, uma central ferroviária da era industrial, um teatro na cidade de Bar-le-Duc e vários castelos e casarões antigos.

Bern acredita que não são os monumentos famosos na França que precisam de proteção - eles recebem todo o dinheiro necessário do Estado. São os milhares de tesouros esquecidos que deterioram sem amparo em vilarejos espalhados pelo país.

"A França é mais rica do que o Reino Unido em termos de patrimônio. Em todas as cidades e vilas francesas você encontrará uma casa histórica, uma igreja, uma fonte, algo de interesse ", diz ele. "Mas o problema é que ele não será restaurado ou preservado como seria no Reino Unido. Portanto, somos mais ricos, mas também somos mais pobres."

"Os franceses têm esse instinto de esperar que o Estado faça tudo, mas minha mensagem para eles é simples: nós - o povo - somos o Estado. O patrimônio pertence a nós, e cabe a nós preservá-lo."

Bern está ciente de que a loteria só conseguirá beneficiar uma pequena quantidade de projetos, mas espera abrir a mente das pessoas.

E sua próxima ambição também é inspirada no Reino Unido. Ele quer criar um programa de adesão, concedendo acesso gratuito aos monumentos nacionais, a quem pagar a taxa anual de filiação.

Em outras palavras, uma espécie de Fundo Nacional para Locais de Interesse Histórico ou Beleza Natural francês.

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