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Queimar museus

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

O incêndio do Museu Nacional chamou a atenção dos brasileiros para a importância dessa instituição bicentenária, instituída em 1818, por d. João VI, no fim de nosso período colonial. Naquele ano, o Brasil ainda era formalmente ligado a Portugal, não estávamos ainda no período pós-separação, mas, de fato, já éramos independentes na economia, que era várias vezes maior do que a portuguesa, como os estudos de Jorge Caldeira vêm demonstrando. Desse modo, a independência formal estava às nossas portas, porém não as abrira nem entrara ainda.

Um candidato a presidente, Álvaro Dias, declarou que o museu foi criado no Império. Ora, se um candidato ao cargo mais elevado do Brasil é dono de tal ignorância, quantas bobagens dirá quem não o é? Podemos apenas imaginar, a julgar pela péssima qualidade de nosso sistema educacional, mestre e doutor em produzir analfabetos funcionais em todos os níveis de ensino.

A tragédia recente foi objeto de justificados lamentos, não apenas entre nós, mas também na comunidade internacional. Afinal, no museu estava importante acervo cultural de várias áreas do conhecimento e de interesse do Brasil bem como de muitos países, tesouro que não foi achado, mas construído durante 200 anos e destruído em poucas horas.

Explicações sobre o incêndio têm aparecido fartamente na imprensa. Várias delas apontam o dedo ideológico na direção de adversários políticos. Outras, corretamente, mostram a falta de recursos, o descaso de uma burocracia estatal, preocupada, quase sempre, com o próprio bem-estar e despreocupada de trabalhar pelos cidadãos, e, ainda, o gigantismo do aparelho governamental, que é inteiramente disfuncional e ineficiente. Eu quero, no entanto, apontar uma causa mais geral para o desastre. Ela age por toda parte, a toda hora, dia e noite.

Vejam isto. Resultados divulgados não faz muitos meses, de testes internacionais de avaliação de competência nas respectivas línguas de nações importantes no mundo, inclusive o Brasil, mas também de aptidão em matemática e ciências, revelam a dimensão da catástrofe que se abateu sobre nossa educação. Os alunos brasileiros saem da escola sem adquirir os requisitos mínimos exigidos por padrões educacionais recomendados globalmente. Estamos a distância imensa dos países colocados no topo do ranking.

Resulta daí a escassa compreensão da importância da educação de uma comunidade na criação de uma mentalidade preservacionista acerca dos bens culturais. Assim, museus e bibliotecas, por exemplo, deterioram-se sem a sociedade, com a exceção de poucos segmentos, se preocupar com o estado de abandono deles e sua morte iminente. Fôssemos um país de nível educacional decente e tragédias como a do museu não aconteceriam com tanta frequência.

Contribui igualmente para o fracasso educacional brasileiro o sistema de escolha, por eleição, da direção das universidades públicas. Exemplo é a captura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, à qual o Museu é vinculado, pelo PSOL, PSTU, PCdoB e outras partidos do mesmo naipe, partidarizando a UFRJ e os órgãos a ela vinculados. Vejo na imprensa que o reitor da UFRJ diz apoiar o MST “com orgulho”, pois essa organização criminosa teria um “projeto generoso para o Brasil”.

Não é surpresa queimarem-se museus.

Lino Raposo Moreira

PhD, Economista, membro da Academia Maranhense de Letras

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